spoiler visualizarpardabarbie 24/05/2023
O Segredo do Oceano é, ao mesmo tempo, interessante e arrastado; rápido e lento; deslumbrante e desolador. Até chegar aos 75% do livro, tinha a sensação de que a leitura não estava evoluindo, apesar de já ter acontecido bastante coisa - não sei se foi por conta da tradução ou por conta da narrativa mesmo. A partir desse marcador, entretanto, a leitura escalonou de tal forma que fui abduzida pela quantidade absurda de plot twists, no bom sentido.
Para começar, digo que Simidele é uma protagonista extremamente carismática - ao contrário da maioria das outras protagonistas que vemos na literatura em geral. Ela tem motivações claras e não é perfeita, porém, sua moral é intransigível, nunca abrindo mão do que acredita. As memórias da Mami Wata são salpicadas aos poucos, trazendo mais do seu passado e personalidade à tona e apenas reforçando aquilo que ela é. Kola é igualmente carismático, sabe o que quer, luta pelo que precisa. Os personagens secundários - Bem, Issa e Yinka, também são bem trabalhados e agregam muito à narrativa, apesar de seus futuros não serem tão bons. Yinka e Bem ainda podem aparecer na sequência - e eu espero que tenhamos notícias de ambos - mas, a morte de Issa, em outra perspectiva, foi completamente gratuita. Ele era só uma criança e não merecia aquele final, sem que Kola se desculpasse pelo que havia dito a ele ou cumprido a promessa de protegê-lo - quase abandonei a leitura após aquilo, mas persisti.
Gosto da forma que a narração é construída. O tráfico humano de escravos é o motivo pelo qual a trama acontece, mas não é o ponto principal - os povos africanos estão no centro da história e eles contam sobre a vida que levavam e levam antes e durante esse evento horrível. Okó é descrita com bastante detalhamento, a ponto de nos sentirmos dentro da história. Além disso, há algo de muito bonito na construção da amizade entre Yinka e Simidele, especialmente quando Yinka trança os cabelos da sereia com os fractais, reproduzindo o mapa do babalorixá que precisavam memorizar. Tudo é descrito com bastante sensibilidade e cuidado.
Contudo, a leitura desse livro não é fácil, tanto pelo tema pesado, quanto pela escrita em si - que não é difícil, mas é linear de certa forma. O desenvolvimento da trajetória homérica dos protagonistas é descrito com tanto afinco e tantas sucessões de eventos, que a sensação que fica é que quando, enfim, chegaram à terra de Exu, tudo aconteceu rápido demais. A redenção de Simidele com Olodumarê não preenche sequer uma página inteira e, apesar de ser genial, sinto que foi um tanto corrida, visto que toda a jornada tinha sido feita, inicialmente, para aquilo. Além disso, ficaram várias pontas soltas que eu espero, de coração, que sejam respondidas no próximo livro.