bugbia 19/12/2023
Um beco sem saída
Na minha opinião, este livro tinha uma das melhores propostas da Agatha, com muito potencial para ser um mistério emocionante e envolvente. Infelizmente, não foi o caso. É claro que um livro abaixo da média da rainha do crime ainda é muito superior à vários livros de outros autores de mistério, mas comparado aos outros romances dela, "Elefantes nunca esquecem" está com certeza no fim da lista.
Tiveram vários coisas que me incomodaram nessa história. Primeiro que, apesar de teoricamente ser um romance de Hercule Poirot, muito da história é conduzida pela Mrs. Oliver, o pseudônimo da própria Agatha. A personagem, apesar de ter lá seus pontos positivos, não consegue conduzir uma mistério remotamente tão bem quanto Poirot. A primeira parte inteira, por exemplo, consiste apenas de conversas que parecem não levar a nada, e por ser uma mulher rica, o mistério entra muito na vida da classe alta inglesa, o que não é nem um pouco interessante.
O excesso de conversas também se torna um problema! Não é até as últimas 70 páginas que atitudes de verdade por parte de Poirot e Mrs. Oliver começam a ser tomadas. Na maior parte, o leitor é apenas envolvido em uma série de diálogos sem propósito, com pessoas que poderiam saber algo sobre o crime em questão mas na realidade não parecem saber nada, e que não levam os investigadores a lugar algum. Muitas das conversas inclusive são repetitivas, porque ninguém sabe de nada. Somos apresentados a no mínimo uns 5 personagens que não contribuem de forma alguma na obtenção de novas informações e só servem para confundir o leitor com lembranças misturadas, deixando o romance maçante.
Claro que o fato do crime ter ocorrido 12 anos antes da história começar a ser contada contribui para esse tédio. Geralmente nos romances da Agatha, e na maioria dos mistérios, há um primeiro assassinato que dá início ao livro, e perto da metade, outro assassinato. Não foi até eu ler "Elefantes nunca esquecem" que percebi como esse segundo assassinato faz falta. É um mecanismo muito eficiente para prender ainda mais a atenção do leitor e dar certa urgência ao caso, que torna tudo emocionante. Devido ao fato do crime ser antigo e inativo, o interesse se dissipa um pouco.
Se ao menos esse crime de 12 anos atrás tivesse se tornado relevante novamente após um segundo assassinato ou algo do tipo, que parecia estar conectado ao primeiro, mas não. Ele não tem nenhuma pista nova além da memória das pessoas, o que origina o título. O mistério é revivido por uma senhora intrometida e suas próprias pretensões egoístas, que também não adiciona nenhum fator de interesse ao caso.
Até 3/4 do livro, é impossível que o leitor forme qualquer tipo de teoria sobre o ocorrido, uma vez que não foi obtida nenhuma pista relevante sobre o caso, mas após descobrirmos alguns poucos fatos, chegar a conclusão é bem fácil. A resolução do mistério é de fato a melhor parte, mas não é um desafio, como nos outros mistérios de Poirot. Para os leitores atentos, é fácil de solucionar.
"Elefantes nunca esquecem" está longe de ser um dos melhores romances da rainha do crime, então se novos leitores da Agatha estiverem se interessando por ler algo realmente bom, eu recomendo outros romances que realmente fazem jus ao título que ela recebeu.