vinizambianco 21/04/2024
[sobre passado, cartas e dores que perpassam gerações]
Não estava em meus planos, ler outro livro nacional, porque queria variar um pouco, só que algo em A Palavra Que Resta, me atraiu e eu não consegui não ele. O livro conta a história de Raimundo, que aos 71 anos resolve aprender a ler e escrever para que então possa ler uma carta escrita para ele pelo seu amor de juventude Cícero.
A premissa por si só já é bastante interessante, porém acredito que a grandiosidade da obra está em seu modo de narração e em seus personagens tão reais, Stênio Gardel escreve com veracidade essa história, seu ?casal? de protagonistas não se assemelham a nada que eu já tenha lido e visto, pois tem um pé na realidade e transmite verdade e autenticidade.
O modo de narração une em alguns momentos pensamentos, diálogos e conversas, e no começo soa bastante confusa, mas depois que entramos no universo da história soa tão normal e sabemos quem fala e com quem se fala, um trabalho primoroso de edição e montagem da história.
Além desses muito pontos positivos, a parte 2 do livro em que conhecemos um pouco mais sobre a vida do pai de Raimundo é de uma magnitude e de uma maravilha, e de uma dor que quando chegou ao fim eu tive que parar, desligar a tela do Kindle e dar uma longa respirada porque a paulada foi forte, no rosto não Stênio.
Outro ponto forte do livro são os personagens coadjuvantes, com destaque para Cícero e Suzanný, é muito gostoso ver as interações de Raimundo com os dois, e a construção da amizade dela com a segunda me tirou bons suspiros de felicidade, muitas passagens da mudança de Raimundo são maravilhosas, essa é a verdade.
Minha única ressalva, é que eu queria SABER O QUE ESTAVA NA CARTA, o final é lindo, e acredito que o mistério e a grandiosidade estão também nessa dúvida cruel que nos segue pelas páginas e pela vida do protagonista por vários anos.
Com uma prosa fenomenal, cenários certeiros e personagens humanos, Stênio Gardel mostra porque dos prêmios e da aclamação que conquistou, e ao final do livro não sabemos qual a palavra que resta, porque com um livro desses, não sobra nenhuma.