Sabrina758 13/07/2023
Cada vez que leio um livro de memórias ou autobiografias, penso no quão difícil é resenhar. Impossível avaliar a vida do outro, a dor do outro, só posso falar do que me atravessou e, nesse caso, foi profundo. Apesar disso, me faltam palavras para falar sobre Eu Tenho Um Nome. O que mais está presente na minha mente quando penso nesse livro é: a justiça falhou com a Chanel. E continua falhando com tantas outras, que poderiam ser nós.
Mas tenho muito a agradecer a Chanel - como leitora, como quase psicóloga e como mulher - porque ela nos ensina muito, no decorrer do livro, de que forma podemos ajudar e tratar uma pessoa que passou pelo que ela passou. Mais importante ainda: uma vítima não se resume a isso. Ela é uma pessoa, que tem uma história, que tem sonhos, aspirações e marcas, coisas que fazem dela quem ela é. E muito disso foi retirado dela, trucidado pelo julgamento, pela mídia, pelos comentários maldosos na internet.
Chanel se perdeu e precisou se encontrar repetidas vezes. Redescobrir prazeres, felicidade, a delicadeza de um toque consentido, esperado e ansiado, a voltar a viver. E ela nos escancara a solidão e o abandono de passar por um julgamento. A revitimização. O quanto custa caro decidir denunciar - financeiramente, emocionalmente e psicologicamente - e o quão pouco a gente fala sobre isso. A vida de quase todos os envolvidos segue em frente, mas a vítima precisa estar sempre pronta para largar tudo onde estiver e ir para o tribunal. Quanto mais tempo o caso se estender, é mais tempo revivendo o trauma.
Com a felicidade e a vida retomada, ainda que sempre exista algo quebrado ali dentro, me diz de uma força descomunal e que me inspira. A justiça falhou, mas a Chanel foi ouvida, acolhida e se tornou o pilar de uma comunidade no mundo todo, onde tantas mulheres tiveram com quem compartilhar suas próprias histórias, dores e curas. Ela teve uma rede de apoio que foi muito significativa e, gostaria eu que todas as pessoas passando por algo difícil tivessem alguém com quem contar, como ela teve. Que a gente nunca deixe de lutar e de ser porto seguro uma para as outras.