spoiler visualizarDIRCE 17/08/2017
Cuidado: spoleirs
De Nicole Krauss eu já havia lido “ A Memórias das nossas memórias” e assim como “A História do Amor” meu contato inicial com sua escrita não foi nem um pouco pacífica. Talvez fosse compreensível ou até perdoável que a leitura inicial do “ A Memória das nossas memórias” tivesse me causado desânimo levando-me a suspender a leitura por determinado tempo, pois eu me encontrava “possuída” pelo brilho de Camus.
Entretanto (!!). A escrita de Nicole Krauss - conjunções seguidas de ponto final- além me desagradar, reportou –me ao livro “ Extremamente alto & Incrivelmente perto “ ( livro que amei) do escritor Jonathan Safran Foer com quem a escritora era casada em 2005, ano das publicações de ambos os livros - A História do Amor e Extremamente alto & Incrivelmente. Não pude deixar de pensar: esses livros foram escritos (a um só tempo) por duas cabeças, duas mãos e, não posso ser injusta, por dois corações. Para minha sorte, deixei minha ranzinzice de lado e segui em frente na leitura me permitindo desfrutar de uma leitura impactante, cativante, que levou lágrimas aos meus olhos, mas que também levou sorriso aos meus lábios.
Uma obra permite diferentes olhares, ao meu, nesta, prevaleceu a solidão imensurável que o autoexílio acarretou ao povo judeu que sobreviveu ao holocausto, à perseguição nazista, à guerra diante da constatação de que ele não tinha mais uma família, um lar e até mesmo uma identidade.
O romance se inicia com a narrativa de Leo Gursky - o homem mais velho do mundo aos olhos da menina Alma. Leo, para narrar os momentos felizes que viveu, utiliza-se da expressão de Contos de Fadas :Era uma vez. Quando isso ocorria, apesar de ele narrar momentos felizes como ao da sua infância na pequena vila, como quando menino conheceu a menina Alma e por ela se apaixonou e que foi seu grande amor por toda sua vida, meu coração sentia uma fisgada, pois esses momentos soavam como um faz de conta. Ele nos conta sua profissão, sobre os dois livros que escreveu e o que teve que fazer para sobreviver.
Eu disse que Leo,aos olhos da menina Alma, era o homem mais velho do mundo, mas não me referi ao seu eterno amor, e sim, a menina que recebeu esse nome em razão da heroína do romance História do amor que sua mãe recebera de presente do seu pai. A menina Alma desempenha importante papel não só por ser também uma das narradoras, mas também por ser uma das personagens do romance de Nicole-, digo do romance de Nicole, pois um dos livros que Leo escreveu também recebeu o título A História do Amor (escreveu também, após sobreviver a um enfarto , o “Palavras para tudo” ) . Alma, na verdade, é uma adolescente, porém eu a chamo de menina de forma carinhosa , e ela nos conta da saudade que sente do seu pai que faleceu quando ela contava com 7 anos de idade, nos conta dos “delírios” do seu irmão caçula Bird ( também narrador), de como sua mãe conheceu o seu pai , o anseio que tinha de encontrar um novo amor para a mãe, uma vez que acreditava que se ela voltasse a amar, sairia da depressão e apatia que a abatera após o falecimento do marido e quem sabe Alma receberia uma migalha da sua atenção. E acompanhando a narrativa da menina Alma, vamos conhecendo suas necessidades, o seu despertar para o amor e de que forma retas paralelas se encontram.
E por meio de quatro narrativas- das três personagens e de um narrador onisciente- finalmente, chego ao final do livro. Só que. Eu não espera levar o perdido que levei ( até agora não encontrei meu rumo). Para. Para tudo. Comecei a reler as narrativas do Leo. Como assim? É isso que estou entendendo? Leo não viu somente um elefante?
Tive que fazer uma lista de pistas ( tal qual a menina Alma ) para tentar achar meu rumo :
Pag.14 - Ela lia e lia. Quando terminou, ergueu os olhos. Durante muito tempo, não falou nada. Depois, disse que talvez eu não devesse INVENTAR TUDO, porque ficava difícil acreditar e alguma coisa.
Pag.213- Qual é a verdade? Que confundi sua mãe com a vida? Não. Isaac, eu disse. A verdade é o que eu inventei para viver.
Pag. 284 – A verdade é que ela disse que não podia me amar. Quando disse adeus, dizia adeus para sempre.
Pag. 285 – Depois do dia em que vi o elefante, me permiti ver mais e acreditar mais.(...)
Pag. 309 – É o maior personagem que criei.
Pag.315 – Na verdade, não há muito para dizer. Ele foi um grande escritor. Ele se apaixonou foi a sua vida.
Como assim? Nicole citou personagens famosas: Jorge Luiz Borges, Roth, Leon Wieseltier, tudo parecia tão crível. Será que meu entendimento está correto? Entretanto, se Alma não amou Leopold Gursky , se ele inventava histórias e coisas, se ele foi um grande escritor, logo...Logo ele não inventou só um elefante, ele inventou vários, com muitos nomes e histórias de vidas.
Se a intenção de Nicole foi prestar uma homenagem aos Leo Gursky, aos Brunos, as Miriam , aos Isaac Babel espalhados neste mundão de meu Deus, ela atingiu seu objetivo com louvor.
Para finalizar, só preciso dizer que se alguém que não ficou tão perdido quanto eu quiser me mostrar o caminho certo, aceito de bom grado.