Marcelo Martins 01/02/2021A ficção científica e sua profundidade filosófica...Mais uma obra que demonstra ser uma analogia social disfarçada de ficção científica. E como a Ursula faz isso de forma magistral em suas obras.
O livro, apesar de pequeno, possui uma profundidade incontestável. Somos apresentados ao planeta Atshe, que na língua nativa dos Atsheanos, também quer dizer floresta. Sim, o mundo praticamente inteiro é coberto por florestas. E é por isso que o ser humano, após desmatar todo o planeta Terra, vai até lá para extrair madeira e levar de volta para ser comercializada, afinal de contas, tudo que é escasso vale mais e como não há mais madeira na Terra, uma carga de madeira vale milhões e mais milhões.
É nesse cenário de colonização que a autora apresenta os Atsheanos, ou creeches, como os humanos os chamam, seres humanóides com uma estatura média de 1 metro de altura, com uma cultura muito peculiar, amantes das árvores e de tudo o que cresce, além de terem uma relação bem singular com a forma de sonhar, que é explicado ao longo da narrativa e também levanta reflexões.
À medida que a leitura progride, o livro vai revelando o que há de pior do ser humano. Conhecemos personagens mesquinhos, egoistas, que só se importam com o próprio umbigo e com seus interesses. Esses praticam atos hediondos, estupram, escravizam, matam ao seu bel-prazer e discriminam os Atsheanos das piores formas possíveis. Até que, não aguentando mais serem oprimidos, os Atsheanos iniciam uma resistência que gera conflitos sangrentos para as duas raças.
A autora consegue de forma bastante objetiva ilustrar situações que a humanidade já viveu por diversas vezes em guerras, mas que nesse contexto é figurado entre raças diferentes (não muito diferente do que já vimos na história humana). Esse é um dos motivos que fazem da Ursula Le Guin uma das autoras mais premiadas de toda a história.
Vencedor dos prêmios Hugo e Nébula, Floresta é o Nome do mundo é uma obra indispensável para os amantes de sci-fi e para qualquer pessoa que iniciar no gênero, pois reflete muito da nossa realidade.