Euler 05/03/2021
Acompanhar a estrutura do livro é tentar resgatar uma memória, cheia de lacunas e esquecimentos. Assim, para além dos recortes de tempos da narrativa, há enxertos de verbetes de enciclopédias, fotografias, anotações de aulas de datilografia e etc. E enquanto leitor, tentamos fazer com que cada coisa ganhe sentido, embora as coisas, como na vida, não precisem ter sentido. No enredo, Ania sai do Chile para enterrar um dos últimos parentes na Argentina, e se depara com a burocracia de vender casas envelhecidas e de lidar com as marcas memórias que essas casas carregam. Em contrapartida, os fantasmas dos mortos se impõem no texto e a própria Ania é memória nos registros deles. Há um tom de suspense que atrai muito por não cair nos clichês dos livros desse tipo. Também gosto da solidão da protagonista que se dilata nessa viagem para outro país que mesmo conhecido, é sempre estrangeiro para ela, porque aos olhos dos outros ela sempre é estrangeira. Os passeios pela cidade também tem um tempo e um ambiente de quem viaja - gatilho de saudade. ??