Vinícius 28/05/2022
AS DORES DO EXÍLIO
? ? Todas as manhãs, o orvalho cai sobre a terra. Todos os dias nasce o sol. As folhas se renovam, as flores vicejam, os frutos amadurecem. Em todas as suas manifestações, a vida se renova constantemente, milagrosamente. E tudo isto ocorre à margem das leis dos homens. Apesar da maldade dos homens.?
(p. 15)
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Era uma vez, uma família ucraniana que precisou viver o horror do desterro para poder sobreviver. Primeiro, por não fazerem parte da Revolução Russa. Segundo, por serem judeus.
Depois de peregrinarem por povoados em busca de uma terra que lhes concedessem abrigo, um casal e suas três filhas conseguiram encontrar uma terra para chamar de sua. No caso, o Brasil. À princípio, ficaram por Maceió. Anos depois, mudaram-se para o Recife.
Ao chegar no Brasil, todos foram obrigados a mudar seus primeiros nomes. O pai, Pinkhas, passou a se chamar Pedro. Mania, a mãe, Marieta. Leah, Elisa. Ethel, Tânia. E a caçula, Chaya (em hebraico: vida), Clarice. Poderia ser uma família de imigrantes comuns se não fosse por um detalhe fundamental: estamos nos referindo à família de Clarice Lispector.
Poucos sabem que Pedro Lispector não era pai apenas de uma das escritoras mais importantes da Literatura Brasileira, mas, na verdade, é responsável pela vida de TRÊS ESCRITORAS. Tânia Kaufmann foi autora de livros técnicos e até se aventurou pelas searas das narrativas breves, vulgo contos - arte que sua irmã mais nova dominava com brilhantismo. No entanto, os críticos e especialistas PRECISAM discutir a obra de Elisa Lispector, apesar de reconhecida, ainda pouco discutida entre nós - por conta da irmã célebre, provavelmente.
Se Clarice conseguiu fazer de sua Literatura uma das nossas melhores Artes, Elisa também o fez - porém, seguindo uma trilha bem mais tortuosa: a da MEMÓRIA. É resgatando os anseios, os sofrimentos e os relatos de um povo que fazem de ?No Exílio? (1948), um dos livros mais impactantes sobre o assunto. É por meio das ações, das palavras e da fé de Pinkhas e pelo sofrimento da doença de Marim que conseguimos sentir um pouco do que era sobreviver em tempos de ódio e intolerância.
Enquanto assistimos a Ucrânia ser esfacelada todo dia pelos noticiários, vale bastante a leitura do romance mais conhecido de Elisa Lispector. Não só para exercitarmos a tal da empatia por meio de suas palavras autobiográficas, como também para entender a gravidade de certos tipos de conflito que não devem jamais ser repetidos.
Vale a pena conhecer o trabalho de Elisa Lispector, uma escritora completamente diferente da irmã, e com um talento digno de discussões acadêmicas que saiam do óbvio?
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