"Os Filhos de Húrin" estava na minha lista de desejados desde os primeiros rumores de sua publicação (apesar disso, só comprei o livro neste ano). Ainda assim, relutei em tirá-lo da estante, afinal, já tendo lido "O Silmarillion" e "Contos Inacabados", sabia o peso que aquelas páginas carregavam - e nem é pelo volume, já que são só 336.
Na Primeira Era do Mundo, muito antes de Bilbo encontrar o Anel, Morgoth, também chamado Melkor, o primeiro Senhor do Escuro, travava uma constante guerra contra os habitantes da Terra-Média.
Húrin Thalion ("o Inabalável"), senhor de Dór-lómin, homem valoroso que ousou desafiar Morgoth, acabou capturado na Nirnaeth Arnoediad, a Batalha das Lágrimas Sem Conta. Sendo levado à presença do Senhor do Escuro, não se curvou à sua vontade, mas desafiou-o e escarneceu dele, suportando torturas e ameaças. Como não conseguisse o seu intento, Melkor irou-se, amaldiçoando a Húrin e Morwen (com quem Húrin era casado) e sua descendência:
"- Eu sou o Rei Mais Velho: Melkor, o primeiro e mais poderoso de todos os Valar, aquele que existiu antes do mundo, e o fez. A sombra de meu propósito está sobre Arda, e tudo o que está nela curva-se lenta e seguramente à minha vontade. Mas sobre todos os que amas, meu pensamento há de pesar como uma nuvem de perdição, e há de rebaixá-los à treva e ao desespero. Aonde quer que vão, o mal surgirá. Quando quer que falem, suas palavras hão de trazer mau conselho. O que quer que façam, há de se voltar contra eles. Hão de morrer sem esperança, amaldiçoando ao mesmo tempo a vida e a morte."
É sob essa sombra que os filhos de Húrin tem de viver.
Já no início do livro, o leitor conhece Túrin, o mais velho dos descendentes de Morwen e Húrin, uma criança amorosa e cheia de compaixão, sobre quem o destino insiste em trazer a má sorte. Durante a narrativa, acompanha-se o crescimento do personagem, tanto em idade quanto em amadurecimento, que acaba por se tornar um grande senhor, líder e guerreiro, mas que também é passível de falhas.
Apesar de seu temperamento impetuoso e de seu orgulho, é impossível não se compadecer por Túrin - também chamado Neithan, Gorthol, Agarwaen, Thurin, Adanedhel, Mormegil (Espada Negra), Bárbaro dos Bosques, Turambar -, e torcer, por mais improvável que pareça, para que ele possa se esconder de seu destino.
Como o livro é focado nos fatos relacionados ao destino dos Filhos de Húrin, recomendo a leitura prévia de "O Silmarillion" para que a história seja mais bem compreendida. Vale lembrar que lá existe uma versão resumida dos acontecimentos que dizem respeito a Húrin, Túrin e os outros, então caso você queira realmente fugir dos spoilers, leia pelo menos o "Ainulindalë" e o "Valaquenta" completos e o início do "Quenta Silmarillion".
Se você já leu "O Silmarillion" e/ou "Contos Inacabados", recomendo fortemente que leia também "Os Filhos de Húrin". Mesmo que você já saiba o resumo da história, alguns pormenores sofreram alterações nesta narrativa (Christopher Tolkien explica seu trabalho editorial e as mudanças que julgou necessárias de acordo com o estudo dos manuscritos do pai - vale lembrar que as três obras foram publicadas postumamente). Além disso, a narração é mais detalhada, convive-se mais com os personagens, o que contribui para entender melhor suas ações e seu caráter.
Enfim, o livro é dramático, envolvente, trágico e emocionante.
Ao terminar a leitura, constata-se que "Os Filhos de Húrin" cumpre bem o que promete: uma narrativa angustiada da vida do maior desafortunado de toda a literatura tolkieniana, e, possivelmente, de toda a existente.
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