Aldemir2 13/08/2022
Tudo pode ser uma coisa possuída assassina
É incrível como esse velho toda vez consegue me surpreender, mesmo com obras já antigas e com histórias adaptadas inúmeras vezes (vide *Colheita Maldita* e suas sequências). Desde que eu coloquei na minha cabeça que queria ler toda a obra do Stephen King, por mais que isso me tomasse anos já que ele já escreveu algumas montanhas de livros e ainda continua escrevendo, *Sombras da Noite* era um que eu queria ler na edição física para ter contato com tamanha magnitude, mesmo que demorasse muito tempo para eu pegar ele na promoção e quisesse muito ler. E não tem como expressar o quão contente fiquei quando vi que, além de ter conseguido comprar ele, ainda peguei no momento mais correto possível para realizar a leitura.
Publicado originalmente em 1978, *Sombras da Noite* é composto por vinte contos, mas alguns já tinham sido lançados anteriormente em outras revistas enquanto outros são inéditos dessa coletânea. Esta, junto com *Tripulação de Esqueletos* e *Quatro Estações*, é uma das coletâneas de contos do autor mais importante para o universo criado por King e ao lermos atentamente alguns dos contos aqui presentes vemos o porquê disso. Como todo leitor do King já sabe (e até quem não é leitor já deve ter ouvido falar disso), o autor normalmente deixa pequenas referências a outras obras dele dentro de seus livros, criando todo um universo (que evoluiu para um multiverso com *A Torre Negra*) onde podemos ligar lugares, personagens e acontecimentos. O primeiro conto, *Jerusalem’s Lot*, como o próprio título já indica fala da conhecida cidade fictícia dentro desse mundo assombroso do autor que ele conta a história no livro publicado alguns anos antes, *‘Salem*. Nesse conto escrito de forma epistolar o personagem Charles Boone se muda para a residência Chapelwaite em Preacher’s Corners, uma pequena cidade perto do vilarejo abandonado de Jerusalem’s Lot. Após alguns acontecimentos estranhos na residência, Charles descobre segredos obscuros sobre o passado da sua família, segredos que vão muito além até mesmo das básicas forças sobrenaturais aos quais somos acostumados, envolvendo até o horror cósmico (esse foi meu primeiro contato com o horror cósmico do King e não sabia que teria outro contato tão cedo). Além desse conto, ainda temos *A Saideira*, que se passa um tempo depois do final de *‘Salem* e conta um acontecimento envolvendo essa cidade e os terrores que a assombram. Respectivamente, esse contos servem como prólogo e epílogo para o romance vampiresco de King e ler eles tão perto de ter lido *‘Salem* foi uma surpresa muito boa pois eu não esperava retornar tão cedo para aquele lugar abandonado por Deus, apesar de ainda ter ficado muitas perguntas sem resposta na minha cabeça.
O livro ainda traz vários outros contos, mas é necessário pontuar a versatilidade do autor na criação deles, afinal nem só de terror os contos se constituem: *Ondas Noturnas* é um conto pós apocalíptico (que inclusive se liga com o pequeno tijolinho *Dança da Morte*), *O Último Degrau da Escada* e *A Mulher no Quarto* são dramas em que a morte está envolvida, mas não há nada de sobrenatural ou aterrorizante (além da sensação de tristeza e depressão que o autor sabe passar tão bem), *O Ressalto* é um suspense que fez minha mão suar de uma maneira que nunca aconteceu enquanto eu lia um livro. E claro, não posso deixar de citar os dois contos mais famosos: *As Crianças do Milharal*, que eu sinceramente esperava algo mais aterrorizante ou que elas estivessem mais presentes, mas não gostei muito e só esperava que o casal protagonista morresse logo já que eram insuportáveis; e *Caminhões*, sim, aquele dos caminhões que criam vida e começam a matar pessoas, eu não esperava que fosse gostar tanto, mas quando terminei eu queria tanto saber mais sobre o que estava acontecendo que espero que o autor escreva mais sobre algum dia. Além de caminhões assassinos, essa coletânea ainda nos traz soldadinhos como aquele do *Toy Story* assassinos, ratos assassinos e, acreditem, uma máquina de passar roupa assassina. Sim, e por incrível que pareça esse ainda foi um dos contos que eu mais gostei.
Enfim, não posso falar muita coisa afinal são contos, narrativas curtas (e aqui elas realmente não são longas, foi super rapidinho de ler e nenhuma me cansou) que merecem muito serem lidas e redescobertas. Quanto às adaptações, não posso falar sobre já que ainda não assisti nenhuma, mas muitos desse contos foram adaptados e quero assistir elas em breve, especialmente a minissérie *Chapelwaite* baseada no conto *Jerusalem’s Lot*. A escrita do King aqui é extremamente fluída e instiga o leitor a ir até o final da história para saber o que está acontecendo (só achei duas histórias meio previsíveis, mas acredito que por eu já ter tido muito contato com esse tipo de narrativa não tenha sido uma surpresa para mim). Se fosse para eu recomendar um livro de contos do King para começar com certeza seria *Sombras da Noite*.