Resenhas - Ensaio Sobre a Cegueira

Rai 28/06/2024

Estamos todos cegos
"E se nós fôssemos todos cegos? Mas nós estamos todos cegos. Cegos da razão, porque não usamos a razão para defender a vida, usamos a razão para destruí-la, de todas as maneiras, no plano privado, no plano coletivo. É contra isso que foi escrito o Ensaio sobre a Cegueira."

Saramago, num belo dia, se perguntou: "E se nós fôssemos todos cegos?", pergunta respondida ao afirmar "Mas nós estamos todos cegos".

Confesso que, após o término da leitura, fiquei um tempo pensando sobre a mensagem do livro. Para mim, o "estar cego" do Saramago é uma metáfora para os momentos em que perdemos nossa humanidade, nosso senso de coletivismo e agimos em prol da violência, de dogmas e dos nossos instintos mais puros. Afinal, a partir do momento em que a cegueira foi instaurada, o caos foi instalado, a luta pela sobrevivência e pelo poder estavam acima de tudo, os instintos humanos, sejam eles sexuais ou alimentares, se sobrepuseram à generosidade e ao bem comum.

Mas...será que isso só acontece quando todos estão cegos de fato? Ou será que a história da humanidade foi construída por pessoas que veem, mas que, na verdade, estão cegas?

Keise @lendonogerundio 28/06/2024

Ensaio sobre a cegueira
Uma terrível ""treva branca"" vai deixando cegos, um a um, os habitantes de uma cidade. Com essa fantasia aterradora, Saramago nos obriga fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu.

Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma ""treva branca"" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.
O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar ""a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam"". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: ""uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"".

Gabi 27/06/2024

Um mergulho na cegueira da própria humanidade
Foi o primeiro livro que li do Saramago e demorei um pouco a me acostumar com seu estilo de escrita peculiar que usa apenas pontos e vírgulas, mas é um incômodo pouco diante da grandeza da obra. A premissa é simples: "E se de repente houvesse uma epidemia de cegueira?". Sem qualquer explicação, os cidadãos sem nomes de uma cidade também sem nome são tomados por uma cegueira branca e leitosa, à primeira vista contagiosa e sem perspectivas de recuperação.

A solução encontrada pelo governo é uma quarentena que isola grupos de cegos em um antigo e abandonado manicômio e é lá que acompanhamos a decadência humana de forma cruel e brutal. Reduzidos à condição de meros sobreviventes, sem condições básicas de higiene, saúde e alimentação, os cegos ainda precisam lidar com a sede por poder de um grupo de "cegos malvados". Diante de tudo, uma única figura inexplicavelmente conserva sua visão e tanta ir contra à degradação física e moral ali instaurada, nos dando sopros de empatia e ao mesmo tempo nos levando a refletir: "enxergar, num mundo de cegos, é uma benção ou uma maldição?".

O livro é denso e a leitura é pesada, os temas tratados nos levam a um profundo e incômodo confronto com o que é a humanidade. Saramago não brincou quando disse que queria que o leitor sofresse o que ele próprio sofreu enquanto escrevia. Sofrido, cruel, instigante e aterrorizante. Igualmente incrível.

Dayvson.Rodrigues 26/06/2024

Na minha estante há uma prateleira só desse livro
A luz do semáforo muda mais uma vez do vermelho para o verde e todos os carros seguem seus destinos após ele. Todos não, um carro está parado, atrapalhando todos os que vinham atrás dele. A indignação e curiosidade dos que veem essa cena muda completamente quando percebem que o condutor do veículo parado dizia horrorizado que estava cego; mas nenhum ali sabia que ele seria o primeiro a cegar de muitos (ou de todos) a partir de então.

Escrita diferente mas irrepreensível. Depois de alguma páginas a falta de travessão e os enormes parágrafos deixam de ser novidade e incomodar para proporcionar e fazer parte de uma experiência incrível que foi ler esse livro.

Ensaio sobre a cegueira nos joga na cara um mundo assustador e assustadoramente concebível ao explorar a realidade onde a cegueira se torna uma epidemia e leva a sociedade a temer como nunca o novo mundo branco. Vemos o que as pessoas verdadeiramente são quando são colocadas em uma situação de impotência por sua cegueira mas de luta por precisar sobreviver. Num mundo onde aparência não mais importa, nomes são dispensáveis e o governo luta para afastar dos bons os maus, vemos que a tentativa de matar ou manter recluso o bicho não impediu que a peçonha se espalhasse a todos, inclusive aos que assim o pensavam.

Um personagem não foi acometido pela cegueira repentina e duradoura, e nela vemos valores, dilemas e ações que talvez não estivessem presente nos outros animais se estes pudessem ver, mas talvez não estivessem dentro da bondosa mulher do oftalmologista caso essa viesse a cegar, e isso não saberemos. Saberemos, sim, que essa leitura nos leva a ver, como o autor nos diz, que podemos estar cegos muito antes de cegar; que podemos não ver as coisas que deveríamos e que clara estão justamente porque temos a habilidade de ver.

Nossos olhos veem, mas não necessariamente percebem, talvez sequer enxerguem. Quando é falado que "o medo cega" e que os cegos o estavam muito antes de cegar e em muitos outros momentos desse livro, percebemos que nossa sociedade, diferente da fictícia que é foco, não têm a cegueira para nos despertar para o que podemos e deixamos de ver, entender, compreender e perceber. Talvez seja impossível assim valorizar o que não sabemos como é perder... talvez seja possível.

Definitivamente é possível e preciso. E, como a mulher do médico, que abdicou de sí para ser os olhos, mãos e mais o que necessário fosse pelos que ela não tinha nenhuma responsabilidade sobre, quem vê também tem uma escolha a fazer sabendo que até não fazer nada já é a escolha.

lym. 26/06/2024

Provavelmente minha melhor leitura
"Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ai menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais"

Mesmo me acostumando rapidamente com a escrita do Saramago, o desenvolvimento do livro conseguiu ser pesado e agonizante de todas as formas. QUE SENTIMENTO!!

Todos vivendo uma mesma experiência e ainda sim a única pessoa em total solidão de ver foi a que mais mostrou empatia durante a historia ?

Um final esperançoso e digno. Termino o livro feliz :)

Giulianamodenesi 25/06/2024

Muito bom
Foi desafiador no início, pois Saramago escreve de forma diferente. Mas depois que me acostumei fluiu muito. Não achei uma leitura leve, muitas vezes me senti mal lendo. Mas achei genial

CrisIngrid 25/06/2024

Minha experiência de leitura
“Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem.”

Alguém ainda duvida de que a literatura é um meio extremamente eficaz de dar um mergulho na alma humana e investigar suas potencialidades para o bem e para o mal? Pensando nisso, teria Saramago recorrido ao termo “ensaio” para intitular seu romance por puro acaso? Isso sempre me intrigou. Após buscar saciar minha curiosidade, chego à conclusão de que concordo com Lima (2008) quando diz que, ao intitular sua obra (prima!) dessa forma, Saramago buscava “uma forma nova de olhar e entender o que já é parte integrante e conhecida do nosso universo”. O autor buscava uma nova percepção, desafiando-nos a questionar as camadas mais profundas da nossa existência e do mundo que habitamos. A que nível se pode levar a maldade humana?

A narrativa se inicia com uma misteriosa epidemia de cegueira branca que assola uma cidade, deixando todos os seus habitantes subitamente privados da visão. Os afetados são isolados em quarentena, levando a sociedade a mergulhar rapidamente no caos e no desespero. A história segue um grupo liderado pela esposa de um médico, que inexplicavelmente mantém a capacidade de enxergar. Ao longo do romance, o autor explora (1) a incompetência e crueldade das instâncias governamentais ao deixar os cegos chegarem a condições sub-humanas; (2) o perigoso despreparo do exército, que mata a torto e a direito; e (3) as consequências do terrível, distorcido e sempre presente senso de oportunidade para praticar o mal, evidenciado pela cegueira.

Mais do que isso, o autor nos convida, não por meio da cegueira experimentada pelos personagens, mas através de uma visão lúcida, a constatar o quão podre o ser humano pode ser. Desculpe, não há forma bonitinha de dizer isso. Exatamente por isso este é um livro para ser lido em pequenas doses, para não nos envenenarmos com toda a raiva que vai brotando a cada situação absurda, cruel e desumana. É chocante perceber que não precisa de muito para o ser humano ficar cego da razão, dos afetos, da sensibilidade.

Um romance potente, visceral e assustadoramente lúcido.
Este é o convite de Saramago: feche os olhos e veja.
E, vendo, repara.

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade."

Eduarda 25/06/2024

Muito bom!
Indicaria pra todos (que não têm o estômago sensível, afinal eu mesma precisei parar pra respirar algumas vezes)! O começo pode ser complicado por causa da escrita do Saramago, mas com o tempo pegamos o jeito.

Daniella.Figueiredo 25/06/2024

?Há esperanças que é loucura ter??
?Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.?

Estou na turma dos que ficaram agoniados e inquietos lendo esse livro. Tive momentos precisar parar de ler e depois retornar.

Como podemos ser tão ruins para os outros, mesmo estando em situações tão parecidas? Por que tanto egoismo?

E antes fosse só ficção, né? As histórias do dia a dia e principalmente da pandemia estão ai para mostrar que é bem realidade.

Enfim, recomendo muito a leitura. Não é atoa que é um dos grandes livros. Vale a leitura um e experiência.

Haury.Silveira 25/06/2024

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago
Achei uma leitura difícil e angustiante. Primeiro pelo estilo de escrita do autor, a qual demorei me adaptar mas que aos poucos me acostumei. Segundo pelo enredo inquietante, inóspito. Apesar destes pontos, é uma obra de grande peso e com muito significado.
Após um episódio de cegueira coletiva, a população se vê obedecendo a instintos primitivos como se fossem animais. Isso é capaz de aflorar nas pessoas os mais terríveis sentimentos como o ódio e a ganância, capazes de instalar a total desordem.
Durante a epidemia apenas uma mulher vê, e é através desses olhos que somos apresentados à mais perversa e distorcida realidade ali presenciada.
Um bom livro que faz o leitor enxergar a responsabilidade de se ter olhos frente as mazelas humanas, reparar e ressignificar as coisas.

"Visto que aqui já ninguém se pode salvar, a cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

RielReis 24/06/2024

Ensaio sobre a cegueira
Esse livro mostra o quanto a sociedade é cega, como tem coisas que apenas olhamos, mas não vemos (e, portanto, não reparamos). Não reparamos que há maldade no mundo, desigualdades sociais e estruturas de poder que nos limitam, apenas olhamos para tudo isso e aceitamos. Esse livro apenas nos mostra o quanto somos cegos nos injetando ódio: o antídoto para a nossa cegueira.

Diane.Gentil 24/06/2024

Que livro !!!
Foram 10 dias sofridos e angustiantes.
Parece que o livro não terminava nunca.
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Refletindo o tempo todo como somos pessoas terríveis, más, egoísta, mas ao mesmo tempo prestativa.
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Um dos momentos mais chocantes foram a comida estragando e os homem maus não queriam dividir.
Todos na mesma situação, passando fome, mas pra eles era melhor que a comida estraga-se a dividir com os demais.
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E o sofrimentos das mulheres, sendo usadas em troca de comida.
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Um livro para pensarmos o quanto nos somos cegos.

Leonardo Vilela 24/06/2024

Must-Read! (Mas se estiver procurando um jardim cheio de flores, fique longe deste livro...)
Uma "treva branca" toma a sociedade, deixando todos cegos (exceto uma mulher). Prêmio Nobel de 1998, esta é a grande obra da vida de José Saramago. Um livro sombrio e visceral que explora os limites da natureza humana quando ela é reduzida aos seus instintos mais primitivos. A caneta pesada do escritor direciona a narrativa para dar luz ao que não gostaríamos de ver: nossa violência, irracionalidade e alienações. E nos tornamos testemunhas. É um lugar difícil de ficar por muito tempo. Mas não há para onde você - leitor - fugir, pois nessa distopia todos os lugares são igualmente difíceis... eis a grande tragédia: a cegueira é contagiosa! Estamos lidando aqui com uma epidemia de cegueira. A quem pedir ajuda? Eu avisei para que não buscasse por flores.
"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, mesmo vendo, não veem."

site: ACESSAR ESTE LIVRO: "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - JOSÉ SARAMAGO"

BeatrizLeone 22/06/2024

Impactada
The third time is the charm ?
Feliz de ter finalizado dessa vez, porém não arrependida de nunca ter avançado antes, porque acho que não era o momento mesmo

A escrita dispensa comentários. Um livro impactante, visceral, reflexivo. Real. Acho que a frase "É desta massa que somos feitos? Metade indiferença, metade de ruindade" define bem a história e muito do que penso sobre os rumos da sociedade na maior parte do tempo.

Ainda assim, dá pra ter um pouquinho de esperança, pelo menos no ?micro?, de encontrarmos uma comunidade como a dos sete foi ao longo do livro

Animada pra ler mais de Saramago

Bele.Cardoso 22/06/2024

Livro necessário!!
Eu acho que é o típico livro que todo mundo que tem a oportunidade, deveria ler. Apresenta um cenário que, apesar de fictício, pode ser trazido para a nossa realidade tranquilamente. A cegueira no livro é física, faz com que a humanidade entre em situação crítica e sem dignidade alguma, mas será que já não estamos cegos ao ponto de perdemos nossa essência, aquilo que nos torna humanos?
Pretendo ler de novo algum dia e, talvez, entender melhor a mensagem do escritor, mas tenho certeza que o impacto dessa leitura fez valer cada segundo.