Tamy 06/02/20112,5 = 3,0Scott Westerfeld é um autor nascido no Texas. Esse fato pra mim já é curioso porque se eu o imaginar lendo os livros, como eu costumo fazer volta e meia, vai ser inevitável o capirês (a exemplo do personagem do Brad Pitt em Bastardos Inglórios). Certo, tirando as minhas opiniões aleatórias, ele publicou cinco livros de ficção científica para adultos, duas séries e alguns livros isolados para a chamada literatura jovem-adulto (de acordo com o próprio blog dele, que eu acho que está meio desatualizado).
Então é o seguinte: não tenho uma base muito grande para opinar sobre o estilo dele, já que o único outro livro que li foi Feios, porém como segunda experiência até que foi constante. Mas ok, os livros dele têm mesmo esse efeito comigo.
Começo a ler sem esperar nada, por mais que a história pareça original. Mais ou menos até a metade eu penso que é “só mais um livro” e continuo lendo tanto por “questão de honra” quanto por ter esperanças de que melhore. E melhora! Daí para frente eu não consigo mais largar até terminar (não que isso seja sinal de ótima leitura porque não é preciso muito para prender minha atenção, ainda que depois eu seja chatinha).
No entanto, devo dizer que Tão Ontem é desse tipo. Você começa a ler a história do tal Caçador de Tendências chamado Hunter, que conhece e se apaixona por uma Inovadora chamada Jen (juro que não é a huge spoiler porque isso é meio previsível). Não estranhe os termos, ele também tem essa mania de criar palavras com outros significados (pelo que me permite observar minha “vasta” experiência com Scott, há!). Até aí tudo bem: garoto encontra garota na rua, pede para tirar foto do tênis dela, e é quase amor à primeira vista e tal. Não. Não tá tudo bem. Digamos que essa história é “tão ontem”. A tendência agora é: Hunter acha que sua amiga e ‘empregadora’ - Mandy - foi seqüestrada por uma espécie de galera do mal da moda, envolve Jen nisso e eles estão enrascados. A ação toda começa depois da metade do livro, com perseguições de personagens que eu poderia imaginar em histórias em quadrinhos (vide Mulher do Futuro Sarcástico) e uma “revolução” na pirâmide do consumo. E isso ainda inclui a lenda do episódio de Pokemón em que as crianças tiveram convulsões e que foi classificada como uma epidemia sociogênica.
No meio de tudo isso, ele acha tempo para um romance. Não sei se é a narrativa em primeira pessoa, ou só o POV do Hunter que me faz pensar nisso, mas a base para um relacionamento entre os dois não foi bem desenvolvida. Fica aquela coisa de que o garoto se apaixona sozinho e ela só está com ele por querer uma boa confusão, sabe? E no final, pam! Ela também é apaixonadinha. Aliás, comparado com a Tally – a de Feios -, o Hunter parece meio ‘menininha’. E convenhamos que beijar escondido por uma sombra da rua é meio filme adolescente da sessão da tarde né!
Agora, como no outro livro, chega uma parte em que as coisas parecem meio nonsense, meio confusas, ao passo que você começa a pensar que aquilo pode mesmo refletir a sociedade. O exemplo das assinaturas de revistas é super verdadeiro.
Se você acompanha as variações de mercado, um mínimo que seja, vai perceber que o final criado por Scott não foge muito ao que realmente acontece com as grandes marcas e corporações. Os inovadores são fagocitados pelo sistema, de alguma forma, até que encontrem uma maneira de se reinventar e criar um novo foco. E outra, eu acho que a Jen é geminiana. Só um geminiano pode “restartar” o cérebro assim com tanta rapidez (o fato de ser geminiana não tem nada a ver com esse meu ponto de vista). Ah! Fica a dica, Scott: ao invés de despejar todo o esquema de uma vez, você poderia ter dado pistas mais claras durante a perseguição, para não sentar os bonitinhos no final e falar “segura essa, malandro!”, sabe?
Acho que no final das contas, o grande Inovador é o próprio Scott Westerfeld. Inovou na temática de seus livros, inovou na forma de tratar assuntos polêmicos e principalmente, inovou na maneira de falar sobre a ditadura da beleza. Seja na vontade de que todas as pessoas sejam perfeitas, lindas e atrativas, seja revertendo todo o processo querendo que todos sejam inovadores ao invés de seguir tendências de moda. Definitivamente, Scott W. é um dos atuais grandes inovadores da literatura e muitos outros caçadores de tendências vão aparecer por essas bandas. Mas podia ter enrolado menos e agido mais, viu?
Vá lá: duas palmas e meia, sentada.