O Último Cabalista de Lisboa

O Último Cabalista de Lisboa Richard Zimler




Resenhas - O Último Cabalista de Lisboa


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Isamara.AraAjo 19/01/2023

"Nunca se esqueça que sua vida foi poupada para que você possa se lembrar..."
Conforme a trama vai sendo desenvolvida, nota-se que, além do narrador ser em primeira pessoa, é também o personagem principal, ou seja, ele não apenas narra os fatos, como também, participa dos acontecimentos.

Toda a narrativa é um romance de ficção investigativo/policial de caráter histórico e acompanha os acontecimentos e eventos baseando-se no que está sendo vivenciado, e relatado, por Berequias Zarco, e este, por sua vez, ao manter relacionamentos e conhecer parte dos judeus, ou adeptos a religião, que ali residem próximos à casa de sua família, nos apresenta outras personagens que são importantes para o autodesenvolvimento pessoal de sua personalidade, de crenças e atitudes dentro do enredo.

A história permeia-se no ano de 1506, apresenta-se em um período curto de tempo, e aborda diversos temas importantes, porém, de uma maneira bem relacionada com o histórico e social da época, compreensível para os leitores, massacre de judeus que são mencionados como causadores dos demais males. Então, toda a narrativa vai girar em torno desse clima pesado, doloroso, difícil e de sofrimento que Lisboa estava vivenciando. O Rossio, por exemplo, foram espaços da época, isto é, construções que trazem verossimilhança para o texto, como o próprio título menciona: "O último cabalista de Lisboa", temos ressaltado já anteriormente, como personagem principal, o próprio Berequias, entretanto, alguns outros personagens destacam-se na trama, Abraão Zarco e Farid, por exemplo, mas, como eixo central da narrativa, o próprio narrador. E por isso, podemos atribuir o título de “protagonista” da narrativa ao próprio Berequias, uma vez que ao nos depararmos com o destrinchar da história, torna-se notória a acentuação de sua percepção referente ao modo com que os fatos se desenvolvem, as comparações, e relações, que o tal faz de todo o ocorrido aos ensinamentos aprendidos na prática da religião na qual foi cativado, mesmo que secretamente, de modo a serem apresentados seguindo seus passos. Assim, o acompanharemos até que solucione o mistério desenvolvido junto a dúvida de quem poderia ter invadido a cave, roubados importantes manuscritos, cometido o homicídio.

Dessa forma, os acontecimentos que vão desenvolvendo a leitura são de ordem cronológica, pois seguem uma linha de acontecimentos lógicos. Assim, retratando, de forma coerente e trágica, a história de uma época que marcou Portugal. A escrita não é de difícil compreensão, apesar de que para haver um entendimento total do que se passa, é necessário um arcabouço histórico, pois a leitura permeia-se em todo cenário marcante da história, ou seja, são locais reais, que verdadeiramente existem e que passam veracidade histórica para o leitor, agindo também como um texto que registra algo real e importante, o que torna a leitura acessível e de deleite para quem lê.

Outrossim, a diferença postulada “bem vs mal” nos ajuda a ter uma compreensão melhor do texto, mesmo que o leitor não conheça a história. Isto, pois a memória da intolerância religiosa trazida no livro, destaque da temática abordada pelo autor, é inesquecível, toda a violência retratada, apesar da crueldade, podemos ver delicadeza na forma como a escrita foi conduzida. Consideramos uma grande obra referencial.

Durante a leitura, podemos observar o quão bem o autor “tece” a escrita e o desenvolvimento geral da obra, apesar de demonstrar através da história, temas como a violência, intolerância religiosa, foi escrito de uma forma muito inteligente, conectando veementemente os detalhes, tanto que, para quem não conhece ou nunca ouviu falar da Cabala, é capaz de compreendê-la pela simplicidade com que é trazida no livro, questões como narrativa dentro de narrativa, história desenvolvida em uma história, torna a leitura tensa e curiosa, no bom sentido.
Questionamentos surgem: “Qual será o final? Quem será o(a) culpado(a)?”, e estes valorizam, e ainda garantem, a estimulação da curiosidade da pessoa que está a ler o livro.
Apesar de que em alguns momentos pode-se considerar a leitura extensa, por capítulos longos e trechos extremamente trabalhados em descrição, o que pode vir exaustar significativamente quem está lendo a trama, no entanto, isto, para quem realmente se dispõem a compreender e interpretar o relatado, não se torna um problema, pois é uma excelente leitura.

Enfim, a conclusão da narrativa, por trabalhar, além de tudo, uma disposição voltada a investigação, irá surpreender sujeito leitor ao trazer à tona a verdade minuciosamente apurada por Berequias, e em parte pelo melhor amigo, Farid, revelando quem haveria ter assassinado seu tio Abraão, conseguindo a resposta de “como?”, e por qual motivo o fez.

Em suma, o livro é de tamanha importância para a contribuição da sociedade, uma vez que, toda a introdução, desenvolvimento, e fechamento do enredo são histórias vinculadas ao período de Inquisição em Portuga, por este motivo, dentre outros, a leitura torna-se mais verdadeira a partir do início da narrativa, com a “descoberta” de um manuscrito, assim, o leitor passa a se autoavaliar em relação as suas (des)crenças.

Nós, leitores, consideramos todas as possíveis consequências apresentadas no enredo em meios implícitos da nobreza, que se permeia na narrativa pela cegueira do povo. Conversões forçadas, reações aos grandes males ocorridos, os valores reais e irreais, isso tudo em uma leitura cheia de mistérios, entretanto, com passagens dolorosas, comoventes e violentas.
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