Filhos sem Deus

Filhos sem Deus Alejandro Rozitchner...




Resenhas - FILHOS SEM DEUS


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Alexandre Marchito 21/08/2010

Recomendo! Mas esperava mais do livro...
O livro escrito pelo casal Alejandro (filosofo) e Ximena (psicóloga, pisicoterapeuta e acima de tudo *mãe*) é formado por longos diálogos, onde o casal debate qual a melhor forma de criar os filhos, sem a ideia de deus.

A parte do DIÁLOGO é muito boa... principalmente quando Ximena toma a palavra.

PERGUNTAS E RESPOSTA. São rebuscadas de palavras que a criança nunca ouviu. Achei um pouco absurdas as respostas. As respostas são apropriadas para indivíduos que já tenham uma certa vivência e conhecimento. Não achei apropriadas para crianças de 3 e 4 anos. Até mesmos as respostas para os maiores (12 e 13 anos) requer um certo conhecimento.

Os RELATOS no livro, feito por outros casais, jovens e ateus é muito bom.

Recomendo! Mas esperava mais do livro... tinha tudo para ser excelente.

Jackie 03/01/2020minha estante
Engraçado, achei melhor as partes do Alejandro rsrs...




Jackie 03/01/2020

Não ache que se trata de um manual
Foi bem difícil escrever esta resenha. Temo não ter sido clara já que o tema gera muitos pontos para debates (sem contar o que posso acabar ouvindo por parte de alguns familiares), mas vamos lá.
Desde minha constatação quanto a minha descrença, passei a pensar sobre filosofia, ética e valores como ateia. Nessa época eu já estava com uma filha de 8 anos e passei a me perguntar como eu poderia educá-la com esse meu posicionamento já mais definido (digo isso porque é um processo). Passei então a buscar temas sobre criação de filhos em famílias ateias e me deparei com o livro do casal Alejandro Rozitchner e Ximena Ianantnoni. Nessa obra os autores, pais de dois meninos, escreveram os capítulos como um diálogo em que cada um deles expressa sua opinião de forma alternada, cada um em um capítulo.
Admito que no começo eu esperava mais do livro, como uma sessão maior de perguntas e respostas, mas acabei com a sensação de que o livro foi o bastante. Com tantas coisas que quero ler, foi bom a objetividade. E muitas coisas a gente aprende mesmo é na prática. Como Ximena mesmo fala, “É necessário perceber que não sabemos ser pais e mães: vamos aprendendo à medida que experimentamos.” Se você esperava um manual, lamento te informar que não existe. Pelo menos ela foi sincera rsrs...

O objetivo dos autores não é apenas negar a deus, mas “procurar um modo de viver no qual possamos ir além das ordens que nos fecham a possiblidade de que a experiência seja precisamente isso, uma experiência.” Sobre as perguntas que os filhos fazem aos pais que muitos consideram desrespeitosas, os autores acreditam que “respeitar não é cercear a capacidade de dar respostas a perguntas que poderiam manifestar diferenças, deixando na indefinição aspectos importantes da construção de sentido.” Vejo que não deixar a criança tirar suas dúvidas é o caminho para a destruição dos laços familiares, mas infelizmente muitos que precisavam ler isso, não irá ler :(

Sobre a importância de não disfarçar o ateísmo e falar com os filhos sobre religião/crença, já que falamos de tantos outros perigos como drogas e DSTs: “Por que, então, também não falar claramente do dano que pode fazer a posição simplista e medrosa da fé?” Para Ximena, “considerar que é a partir de uma base religiosa que podem ser inculcados valores aos filhos é sentir-se pequenino e desconfiado, é não se acreditar capaz de tomar decisões próprias sem uma instância superior que as determine, é como ser uma criança indefesa.” “Pais ateus são aqueles que pretendem transmitir a seus filhos a confiança necessária para construir seus valores com liberdade...”, mas como muitos preferem ter um “manual de instruções” para viver, não se dão ao trabalho de pensar numa nova forma de educar os filhos, livres das amarras das crenças.
Por mais estranho que isso possa parecer para alguns, não ignoro - como me parece que faz os autores- as sabedorias antigas e válidas, a importância de tomar decisões por meio da reflexão com base em experiências anteriores, incluindo as escritas em livros conhecidos como sagrados. Acredito que desprezar isso não é uma atitude inteligente porque mesmo não acreditando no sobrenatural, muitos livros religiosos são também resultado da sabedoria acumulada de um povo, o modo como eles acreditavam que era certo viver. Não acho ruim procurar por orientação em escritos do passado. Eu mesma adoro a parte racional do Budismo. Sentimentos como o medo, o amor, a felicidade eram para eles como é para nós. Para mim, sábio é aquele que aprende com os erros dos outros, sem a necessidade de repetir as mesmas experiências para viver bem. Não volto ao passado para me prender a dogmas, mas para evitar cometer os erros de quem passou por experiências semelhantes.

Para Alejandro, “Criar filhos ateus pode ser pensado como o surgimento de todo um estilo novo de valores. Valores reais, presentes e entranhados na experiência do dia a dia. Diferentemente dos valores religiosos abstratos, mentirosos, que não podem ser alcançados”. Como eu disse anteriormente, acredito que há valores religiosos (que na verdade são humanos, como defende Alain de Botton) que podem ser úteis. E ele continua: “A educação religiosa é uma educação na qual a pessoa está sempre sob suspeita, em dívida, devendo provar que assimilou corretamente os princípios morais”, no entanto, “dentro da realidade e da sanidade, ninguém é bom o tempo todo, ninguém olha as coisas sempre a partir do bem puro.” Claro que “convém não pôr em prática muitas dessas emoções, mas aparentar que não as sentimos é diminuir a própria personalidade a um nível de falsidade”.
Imagino que foi a necessidade de buscarmos um ideal de ser humano que nos fez criar a religião. A questão é que não deixamos de ser animais irracionais com uma parte racional e vivermos só o ideal não transmite nossa verdadeira identidade. Não acho que por isso devemos nos entregar aos nossos instintos, mas aprender a fazer com que nosso racional comande nosso irracional. Alejandro defende que “a racionalidade é uma ajuda para muitas coisas, porém não se pode ser jamais instituída como a ordem básica da existência. A vida não é totalmente racional”. Ele nos lembra que Nietzsche usava a ideia de domesticação quando falava da influência do cristianismo na história humana, a ideia de que o cristianismo adoece as pessoas. “Algumas pessoas se preocupam, depois, em como a felicidade lhes é inacessível, mas, antes, cultivamos morais de desesperança e tristeza” (Alejandro).

Ximena se pergunta “Por que será que é tão difícil pensar a vida como um fenômeno natural e raro, imenso, digno de ser usufruído, apropriar-se disso e ponto final?”, quando se depara com pessoas que acham que nascer, viver e morrer é uma experiência pobre, insuficiente, como se tivéssemos que “atribuir poderes extraordinários às realidades.” Isso me fez lembrar da tribo dos Pirahã, em que um dos integrantes disse: “Não queremos nada lá do alto. Queremos coisas que estão no solo”. Afinal, o que mais eu poderia desejar? Realmente “você acha pouco?”

Para Ximena, ter filhos é uma experiência religiosa, uma sensação de plenitude existencial. Eu particularmente acho que ela romantiza muito a maternidade (e o Alejandro, a paternidade), mas concordo, em partes, com ela neste aspecto: “O crescimento dos filhos exige evolução dos pais, os filhos nos confrontam com questionamentos sobre nós mesmos, nos fortalecem fazendo-nos rever histórias, questionar modelos, construir estilos próprios, dão-nos a possibilidade de agregar-nos valor na tarefa da criação. Há uma reconstrução da identidade após a paternidade; se sai sempre modificado e, no melhor dos casos, aprimorado, enriquecido.” “Poder refletir sobre qual visão do mundo vamos apresentar a eles nos possibilita repensar-nos a nós mesmos, redescobrir-nos”. Lembro-me que tive essa sensação em uma sessão de psicologia coletiva pré-natal, em que a psicóloga perguntou a cada uma das futuras mães qual fruta ou alimento elas desejariam dar a seus filhos quando eles pudessem comer. Uma respondeu abacaxi, outra mousse de limão, eu salada de frutas. Segundo a psicóloga, esses alimentos diziam muito sobre nós mesmas e sobre como encarávamos a maternidade naquele momento. Admito que não sei se isso tem alguma base científica, mas deu muito certo naquela hora, de modo que uma das mulheres - a que escolheu o abacaxi - começou a chorar diante da “revelação”. No caso dela, a fruta representava uma fase não tão fácil, como a fruta com a casca grossa e espinhenta, mas que poderia ter um interior doce. Sei que na verdade muitas frutas poderiam dar na mesma rsrs... Quanto ao mousse de limão, aquela gestação era indesejada e estava sendo bastante azeda para aquela mãe. E realmente era uma jovem que não queria dar continuidade àquela gravidez. Em relação a mim, a salada de frutas representava todas as possibilidades que eu gostaria de oferecer a minha filha, não impondo um fruto específico, mas possibilitando a sua escolha. Achei o máximo. E era exatamente assim que eu pretendia criar minha filha. A crença em verdades absolutas que não se confirmaram havia me deixado “decepcionada com a graça” e não era o dogmatismo que eu tinha vivido até ali que eu desejava para minha filha.

Mas voltando ao livro, para Alejandro a crença valoriza tanto um mundo sobrenatural que gera uma atitude de descontentamento, de queixa, de desvalorização de tudo que seja terreno. E isso pode afetar até a autoestima, já que para nos aceitarmos como somos e para celebrar a vida “há de querê-la tal qual ela é, querê-la sempre diferente leva à insatisfação e à perda de realidade”. Concordo com isso pois noto que muitos crentes acabam não se preocupando nem com o meio ambiente já que para eles tudo isso terá um fim. Infelizmente muitos desejam ver a vida como gostariam que ela fosse e não como ela é, perdendo oportunidade de ver a realidade e coisas boas da vida. Ximena diz que usar a fé para disfarçar a dor, criar no imaginário que há vida após a morte é “desonrar a vida” já que “é justamente sua finitude que a torna tão maravilhosa e digna de ser vivida, que nos permite apropriar-nos da experiência a cada passo que damos”. Alejandro afirma que passar pela vida achando que é apenas uma transição para outra coisa é nos afastar de sentir o valor de estar vivo. Noto que muitos crentes acreditam que nos tornamos ateus após perder um ente querido e ficamos “chateados” com deus por causa disso, mas a verdade é que a morte é só mais um fator. Saber que você não verá aquela pessoa de novo ou que, mesmo ainda viva, sofreu um acidente e nunca mais será como antes te faz refletir para onde foi a “alma” que as religiões tanto defendem. Para onde foi a essência daquela pessoa que hoje mal vive, mas vegeta? Ou que mudou totalmente de personalidade devido a um acidente que atingiu o cérebro (pesquise sobre Phineas Gage)? Por essas e outras temos a impressão que somos pura química, poeira das estrelas. Então não é só a morte que nos desperta para a descrença, mas também a manipulação emocional nas igrejas, a realidade da vida, os questionamentos, as contradições bíblicas, a ciência, os estudos de Psicologia... Como diz Alejandro, “Não nos propomos “sermos ateus” – quem é ateu o é, e pronto”, é um caminho inevitável para quem questiona a vida. “Chega-se a ser ateu porque alcançamos ser nós próprios”. Para ele, as religiões têm princípios básicos simplistas, que constroem uma simplicidade empobrecedora, um pouco enganosa, porque nega evidências o tempo todo.

Alejandro defende que “a religião nega o valor da realidade, tira-lhe sentido” e não o contrário. Para os autores, por melhores que sejam a intenções, a posição religiosa é de inadequação com a natureza humana, gerando uma forma de vida incapaz de estar à altura de si mesma. “A religião, em particular a protestante, incorporou à nossa cultura o conceito de que o homem é basicamente um pecador” (Carl Rogers apud Alejandro). “Que amor é esse que se constrói denegrindo a existência e a natureza?” pergunta Alejandro. Também me pergunto por que esse suposto deus nos fez assim, então. Para Ximena, a valorização da vida mostra aos filhos que eles “não terão que pedir ajuda a deus, porque não há do que se salvar – pelo contrário, há muito por fazer, por viver, por desfrutar, por sentir”, “criar filhos ateus é criar filhos de verdade, plenamente, assumindo o papel de responsabilidade que a religião tende a esvaecer”

Viver uma vida autentica, “ensinando de maneira clara que a tristeza, o conflito, as incertezas e os temores são parte do aprendizado da vida e do crescimento” permite que os filhos aprendam que isso é natural, não uma maldição, e assim eles conseguirão viver sem máscaras, sem fingir que “deus está com eles e nada os faltará”, como fingem muitos crentes. Temos que pensar que “o conflito é a forma básica da vida, não um desvio pernicioso” (Alejandro). Procurar uma vida sem dificuldades é como nadar contra a maré. Para Ximena, “não só não haveria como ser uma experiência sem conflito, como, também, se trataria, talvez mais, do encontro com eles”

O que acho interessante nessa educação livre de crenças é tirar de deus a responsabilidade por melhorar o mundo. Como diz Ximena, “Mesmo que não se possa acabar com a violência, é possível, sim, limitar seu alcance em determinadas situações, e isso é tarefa para humanos, não para deus. Não sou adepta da ideia de que há uma justiça “natural”. O homem deve criar mecanismos para que a justiça exista no mundo. Acreditar no contrário, esperar pela ação de um deus que um dia fará com que os maus paguem pelos seus pecados é permitir que haja impunidade. Sei que muitos se sentem consolados com essa ideia de que se a justiça dos homens não funciona, a de deus não irá falhar, mas isso é viver se enganando. Você já parou para pensar nesta frase: “a justiça tarda, mas não falha”? Só o fato de tardar já é uma falha!

Ximena mostra que as normas de convivência nos mostram o que é certo fazer e não fazer. Dentro dessas normas devemos tentar nos conduzir o melhor possível. Eu particularmente ensino que devemos levar uma vida gerando o menor sofrimento possível para nós e para os outros – infelizmente não há como não gerar nenhum. “Na natureza, há e sempre houve atos de violência, os animais mais fontes se alimentam dos mais fracos e, no mundo humano, isso se manifesta nas guerras e de muitas outras formas. Lamentamos esses fatos, mas são coisas legítimas e naturais e de realidades que fazem parte inevitável da experiencia humana” (Alejandro). Eu defendo que tenhamos ideais de amor, de ética e de justiça, não porque eu acredite que um dia conseguiremos chegar a eles, mas porque é um modo de nos tornarmos seres melhores.

Na sessão de perguntas e respostas, Alejandro responde que “Deus é uma maneira de gerar significados que não existem, mas que ajudam aqueles que não podem ver a realidade tal qual ela é.” Meu motivo de não ser ateia “militante” é esse. Não vejo como ajudar quem não consegue ver a realidade, quem não está preparado psicologicamente para aceitar um mundo sem deus. Em outro momento, Alejandro responde que “Tudo bem que haja histórias incríveis, inverossímeis, não há problema com isso; o que é prejudicial é que certas mentiras sejam consideradas provas de santidade”. Quanto a crucificação de Jesus, Alejandro diz que “A ideia de que essa morte compromete todos em algum tipo de moral ou de dívida é um abuso e também uma forma de imprimir tristeza e culpa sobre a liberdade de nossas vidas.”

Enfim, desculpe a resenha longa. É que não tive tempo de escrever uma breve rsrs...
Caso decida ler, lembre-se deste conselho da Ximena: leríamos melhor e aproveitaríamos mais o que lêssemos se, em vez de concordar (e eu acrescento discordar) com tudo, tirássemos algo substancial de cada questionamento ;)
Angel's Roses 02/08/2022minha estante
Parabéns pelo TCC.




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