Os anos

Os anos Annie Ernaux




Resenhas - Os anos


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Bookster Pedro Pacifico 18/12/2022

Os anos, de Annie Ernaux
Atualmente, o meio literário só fala de Annie Ernaux, autora francesa que venceu o Prêmio Nobel de Literatura de 2022. Suas obras, no entanto, ainda estão aos poucos furando a bolha de quem já é leitor para atingir um público maior. E, com a leitura de Os anos, posso confirmar que a autora merece muito esse alcance.

Essa é a minha segunda obra de Annie Ernaux, conhecida por construir seus livros a partir de suas memórias. O primeiro foi O lugar, e confesso que não foi uma leitura que amei. Cada livro foca em momentos específicos de sua vida, sendo que Os anos seria o mais completo, que transcorreria de forma mais distante as últimas décadas.

Apesar de escrever sobre suas memórias, a autora cria uma autobiografia impessoal. Quem lê sem saber o que está por trás do livro, não conseguiria saber que as páginas guardam a história de quem as escreve. Além de fazer referência a uma outra mulher, Annie não se vale de uma narrativa linear, começa com trechos de memórias soltas. Lembranças curtas. Isso pode até parecer estranho para o leitor, mas continue que a história passa a fazer mais sentido.

O mais interessante da obra é que a vida de Annie Ernaux abrange períodos muito marcantes da História. É a geração nascida na década de 40, que cresce no pós Segunda Guerra Mundial. Apesar de não terem vivido todo o horror da guerra, crescem ouvindo os pais e avós falando constantemente sobre o tema. E a partir disso, vamos acompanhando outros momentos históricos, entrelaçados com experiências pessoais de Annie Ernaux, até chegar a atualidade, envolvendo tecnologia e questões polêmicas que passaram a ser discutidas nas últimas décadas e ainda não foram superadas.

A escrita é gostosa, mas levei mais tempo do que imaginei para terminar o livro. Os parágrafos são densos e, por isso, fui curtindo aos poucos. A minha dica é: não tenha e não se assuste se o começo parecer confuso. Lembre-se que são memórias, que nem sempre seguem uma linha temporal. Mas leiam, porque Annie Ernaux é uma escritora sensacional!

Nota 10/10

site: https://www.instagram.com/book.ster/
Edu Lima 01/01/2023minha estante
Estou exatamente com a mesma sensação e, passado o início ?confuso?, a história começa mesmo a fazer mais sentido :)


Jeane.Pereira 23/02/2023minha estante
Fiz até uma playlist no Spotify : Os anos Annie Ernaux. Demorei para engrenar a leitura?mas valeu a pena!


Elida Leituras e Historias 28/08/2023minha estante
Eu terminei agora essa leitura e vim correndo ler sua resenha. Simplesmente amei! Queria gritar para o mundo ler esse livro, essa mulher. Leitura sensacional! A propósito, muito didática e necessária sua explicação na resenha porque eu mesma achei o início do livro confuso (até começarem as fotos)... minha próxima leitura dela é O lugar. Espero não me decepcionar :))




Carolina.Gomes 22/11/2022

Os Anos
Comecei essa leitura meio perdida e só aos poucos fui me encontrando.

Senti certa dificuldade, sobretudo, por se tratar de um livro muito francês e eu perdi muitas referências citadas pela autora.

Quando ela fala da sua condição de mulher, da sua paixão sobre a literatura, a música, sobre maternidade, aborto, casamento? tudo isso ao mesmo tempo em que faz uma retrospectiva da historia da França e do mundo, eu me identifiquei. De repente Eu era Annie, Annie era eu?

Me emocionei, me angustiei e ainda estou impactada com a escrita forte e direta da autora.

No decorrer da leitura pensei em quão corajosa ela foi por desnudar a alma em uma autobiografia publicada quando ela ainda está viva?

Não foi uma leitura fácil, demorei de me envolver e atribuo ao meu desconhecimento das referências francesas.

Apesar disso, gostei de ter lido!

É um livro q conversa bastante com o Léxico Familiar e o Caderno proibido.
Talvez numa releitura, eu aproveite melhor.
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13marcioricardo 23/10/2023

Entendendo as últimas décadas francesas
Os anos foi o quarto livro que li da autora. Comecei em O Lugar, passei por A Vergonha, depois O Acontecimento e, enfim, este. Recomendo esta ordem, é sempre a subir.

Entendo o motivo de Annie ter ganho o Nobel, mas sei lá, ela é chata em todos os livros e, neste, não foi assim tão diferente, apesar de achar o melhor. As últimas páginas foram um suplício. E sim, falar de si mesma na terceira pessoa só piora.

Mas quem sou eu pra criticar uma Nobel ? Ainda assim, é essa a percepção que passa. Ainda que Annie possa ter construído algo diferente, e que possa valer a pena ler, sua pessoa e sua vida não parecem assim tão interessantes.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 29/07/2021

Biografia Impessoal
Vencedor dos prêmios Marguerite-Duras e François-Mauriac em 2008, Os Anos é considerado a obra-prima de Annie Ernaux, um importante nome da literatura contemporânea francesa que vem paulatinamente despertando interesse em nosso país pela criação de um novo estilo.

Girando ao redor da percepção temporal, ele rompe com a biografia tradicional ao apresentar uma dimensão vivida da História, baseada no encontro de uma memória da memória coletiva cujo ponto de partida é uma memória individual.

Em linhas gerais, Os Anos acompanha o nascimento, crescimento e amadurecimento de Ernaux que exibe esta trajetória em terceira pessoa até as últimas páginas do livro, quando a voz narrativa encontra seu ?eu? no presente. Entretanto, como a escritora alerta, o leitor não está diante de um mero ?trabalho de rememoração, tal como se entende normalmente, que busca narrar uma vida, dar uma explicação de si. Ela só olha para si própria buscando encontrar o mundo, a memória e o imaginário dos dias passados no mundo, e capturar as mudanças no pensamento, nas crenças e na sensibilidade geral, e a transformação das pessoas e das coisas que ela conheceu e que nada serão talvez, perto daqueles que terão conhecido sua neta e todos os indivíduos vivos em 2070.?

Sem dúvida, ?uma narrativa escorregadia, no pretérito imperfeito e absoluto que vai, pouco a pouco, devorando o presente até a última imagem de uma vida. Um fluxo que é, contudo, interrompido a intervalos regulares por fotos e sequências de filmes que vão captar as formas do corpo e os lugares sociais sucessivos ocupados por ela. Estas interrupções funcionam como pausas na memória e, ao mesmo tempo, como conexões com o desenvolvimento de sua própria existência, com aquilo que a tornou singular, não pela natureza dos elementos de sua vida, sejam eles externos (trajetória social, profissão) ou internos (pensamentos e aspirações, desejo de escrever), mas por sua combinação única em cada ser humano.?

Paralelamente, Os Anos também se debruça sobre a história da Europa e da França. Nele, estão a Segunda Guerra, a polarização política com as sucessões presidenciais, a questão imigratória, os ataques terroristas, a vida dos intelectuais e celebridades, enfim, uma miríade de informações que amplia uma conjuntura subjetiva para proporcionar um visão ampla e instigante.

Contudo, em alguns momentos, algumas dessas informações podem comprometer o entendimento do texto por parte do leitor brasileiro, o que é compreensível e até esperado. Felizmente, hoje em dia, basta uma rápida pesquisa na internet para dirimir qualquer dúvida.

Até a próxima!??
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joaoggur 30/12/2023

Tudo é efêmero. Viva. Chore. Ria. Viva, e viva.
O maior protagonista das obras de Annie Ernaux não é a própria (o que se esperaria de livros baseados em memórias), e sim este sórdido e inevitável catalisador natural dos dilemas humanos: o próprio tempo.

E, diferentemente de outros de seus livros (onde a autora tira ?um retrato? de uma de suas [já vividas] realidades), aqui temos um apanhado geral do perecimento e da maturação de sua própria alma.

Por toda a obra a autora descreve fotos suas, tiradas ao longo do tempo, sempre narrando a cena como se a pessoa ali retratada não fosse ela própria. Pois, acredite, realmente nao é.
Pelo menos foi este o gosto que o final de ?Os Anos? deixara em minha boca; o tempo, nos amadurecendo (e consequentemente nos estragando), é capaz de criar várias versões de nós mesmos, algumas sendo similar a outras, já algumas sendo o antônimo das anteriores.

Até que se chega um dia em que percebemos a mudança em nossa própria realidade; enquanto éramos uma Metamorfose Ambulante na juventude, com o tempo não sendo capaz de suprir as nossas efêmeras e pulsantes mudanças? há o dia em que os papéis se invertem, e o mundo anda em uma velocidade muito maior do que conseguimos acompanhar.

Todo livro de Annie Ernaux é uma pedrada. Recomendo fortemente.

?A cada instante do tempo, ao lado do que se considera natural fazer e dizer, ao lado do que foi determinado pensar, seja pelos livros, anúncios no metrô ou piadas, há todas as coisas que ela faz sem que ninguém saiba, coisas que são silenciadas por uma sociedade que condena a um mal-estar solitário todos aqueles e aquelas que sentem estas coisas sem poder dar nome a elas. Este silêncio um dia se rompe bruscamente (ou pouco a pouco), e então as palavras jorram sobre as coisas, enfim reconhecidas, enquanto, escondidos, outros silêncios voltam a se formar.?
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Marcella.Spelta 27/03/2023

Muito interessante!
Tive dificuldade com a leitura e a forma da escrita da autora. Com o tempo, fui me acostumando e transformando meu sentimento de estar lendo um a sucesso de relatos para a rememoração de lembranças. Penso que o leitor se sente imerso na vida da autora e passa a desfrutar e compartilhar mais de suas memórias à medida em que elas se tornam mais próximas de sua realidade (com o tempo passando na narrativa). É uma autobiografia impessoal, contada a partir do locus social da autora.
Adriano 27/03/2023minha estante
Terminei esse livro hoje.
Meu preferido é O acontecimento.
Em seguida Os anos.
Gostei de O lugar e A vergonha mas ficam um pouco atrás.


Marcella.Spelta 13/04/2023minha estante
Esses estão na minha longa e interminável lista ?




Higor 15/12/2023

"LENDO NOBEL": sobre a percepção que cada um tem a respeito do tempo
Acredito que Annie Ernaux não seja para mim. Digo isso porque, desde 2014, ano em que o também francês, Patrick Modiano, foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, eu paro tudo o que estou lendo e acompanho o laureado da vez, onde compro o livro disponível (se tiver tradução disponível, claro, o que nem sempre acontece) e leio imediatamente, sem saber detalhes da obra, mas para entender as escolhas da Academia e se a láurea é, no mínimo, compreensível.

Logo, com Ernaux não foi diferente: após saber que fora a contemplada do ano, eu fui à livraria mais próxima, em meu horário de almoço, comprei o livro disponível, este "Os anos" (numa edição já à época esgotada da finada Três Estrelas, afinal, a autora era uma completa desconhecida no Brasil, e não o fenômeno de hoje) e comecei a ler ainda no mesmo dia, parando tedioso na página 46.

Desde então, li o sincero "O acontecimento" e o esquecível "O lugar" (que sequer fiz resenha), e depois de um ano e dois abandonos, além de algumas folheadas preguiçosas e de me esquivar ao vê-lo na pilha de livros a ler, eu me obriguei a finalizar este "Os anos", em parte frustrado com os livretos lançados e por seu dito magnum-opus ser tão apático.

Pois bem, Annie Ernaux foi justificada por "descortinar os constrangimentos coletivos da memória pessoal", onde, ao menos neste livro, se fazem presentes nas mudanças individuais e coletivas ao longo de quase 60 anos de uma França em constante mudança, os ditos anos do título, desde sua infância até pouco depois da aposentadoria.

Como não poderia deixar de ser, o período escolhido contempla um sem-número de fatos e acontecimentos, assim como o prisma com que notícias e situações pesam sobre a vida de uma pessoa se modifica drasticamente, ora vai ganhando ou perdendo o interesse, a depender da idade dessa garota-personagem, nunca tida como eu, e sim como ela, em terceira pessoa, uma impessoalidade que, ao mesmo tempo que a isenta, torna-a um tanto apática.

Então é muito interessante acompanhar uma criança brincando na sala com seus primos, mas que se lembra, quando adulta, de ruídos de conversas adultas sobre uma Segunda Guerra; assim como os desdobramentos da Independência da Argélia do domínio francês, que ganham mais importância para uma mulher jovem-adulta, onde até se permite ir às ruas protestar; ou até mesmo como a mesma mulher se choca com os atentados terroristas do 11 de setembro, por exemplo, mas acompanha tudo do conforto de sua casa, na televisão, e se pergunta onde está a geração jovem que protesta por todos.

No entanto, embora "Os anos" tenha um ótimo objetivo e maravilhosas intenções, tudo é muito brevemente comentado e logo esquecido. Eu até entendo que talvez esta seja justamente a intenção de Ernaux, pois ao longo das páginas, desde a epígrafe de Tchekhov até a última linha, a autora nos lembra de que o tempo é passageiro, castiga, e que, assim como nos esquecemos facilmente das coisas, seremos facilmente esquecidos, mas ainda assim, a impressão que eu senti foi de que estava lendo um livro do tipo "Assunto x para quem tem pressa", "Assunto Y em 90 minutos" ou até mesmo um bom livro didático de História da França, em que a autora tece breves comentários cronologicamente sobre o país natal e seus respingos no mundo.

Fatos históricos como Acidente Nuclear de Chernobyl e os Ataques de 11 de Setembro de 2001, por exemplo, são leve e rapidamente mencionados, à medida que menções a epidemia de HIV e Guerra da Argélia até ganham mais menções, enquanto o quadro político-social francês têm mais destaque, tal como os livros de História possuem parte dedicada a História de seu país e até pelos temas que certamente mais impactaram sua vida.

O ponto positivo de "Os anos" vai para os assuntos de amplitude universal, que abraçam a todos, independente de nacionalidade, religião, ou sexo, como a luta pelos direitos humanos, direitos da mulher, luta contra a guerra, homossexualidade, ciência e questões sanitárias e até mesmo o avanço descontrolado, abrasador e sufocante da tecnologia e sua consequente globalização. Nesses momentos, como não deixaria de ser, mesmo Ernaux na França e eu aqui no Brasil, ela falava a minha língua, narrava o que eu mesmo vivenciei ou acompanhei em algumas situações.

Insípido e distante do leitor, "Os anos" parece levar ao pé da letra a intenção de Annie Ernaux, de que, com o passar do tempo, dos dias e até mesmo dos anos, seremos todos esquecidos, assim como este e tantos outros livro serão esquecidos, deixarão de ser traduzidos, publicados e cultuados, mas se esquece de tantas obras, tantos clássicos, que sobrevivem a décadas e séculos e se mantém vivos, fortes, contundentes até os dias de hoje.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel".
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Mariana Dal Chico 30/09/2019

“Os Anos” de Annie Ernaux foi lançado no Brasil pela editora Três Estrelas que gentilmente me enviou um exemplar.

Fiquei muito animada com a leitura, principalmente pela premissa audaciosa de ser uma autobiografia impessoal. Curiosa em saber como a autora desenvolveria tal proposta, me joguei sem expectativas na leitura e me deparei com a seguinte frase de abertura: “Todas as imagens vão desaparecer”. Para marcar a passagem de tempo, a autora usa a descrição de uma foto sua, mas sua narrativa não é centrada em sua vida. Ela prefere usar o “nós” em vez de “eu” e isso deixa a sensação de que o leitor também faz parte daquela história e está partilhando o momento familiar na mesa de almoço de domingo.

A autora não confia na precisão de suas memórias e ao longo da leitura, nos deparamos com trechos desconexos, flashes de uma cena vaga e imprecisa que de alguma forma se mescla com o presente. O que representa muito bem como as lembranças funcionam.

Por entrelaçar quotidiano e História, em alguns momentos precisei consultar a internet para saber um pouco mais sobre um acontecimento, principalmente quando se tratava de uma mudança social política específica da França, que não me era familiar.

Gostei, principalmente, da forma como a autora retrata a sua geração - nascida nos anos 40 - perante às revoluções/manifestações políticas. Da II Guerra Mundial eles ouviram histórias quando crianças, durante a guerra da Argélia as manifestações eram violentamente controladas e em Maio de 68 eles já não faziam parte dos estudantes que reivindicavam reformas no setor educacional, mas era como se esses jovens estivessem se vingando de toda repressão sofrida pela geração anterior. Um pouco mais para frente ela fala sobre como cada um se ajustava para fazer a revolução dentro de suas próprias possibilidades, de acordo com idade, profissão, meio social, interesses e antigas culpas.

É interessante, e um pouco assustador, ver seu relato sobre o nascimento da sociedade de consumo e a alta velocidade do desenvolvimento tecnológico.

A escrita da autora é polida sem ser pedante ou esnobe, fiquei completamente encantada e curiosa para saber se sua ficção também vai me cativar.

site: https://www.instagram.com/p/B3DN8OKDjkD/
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Max 21/01/2023

Ah, os anos...
A autora, uma das melhores descobertas do ano passado, graças ao Nobel, é hoje uma das minhas favoritas, agora no segundo livro que leio dela encontro a mesma maravilhosa escrita, permeando tudo com uma certa melancolia, uma melancolia bem vinda, doce.
Há momentos que sinto como se dissesse algo diretamente a mim.
A felicidade não é terminar seu livro é saber que ainda restam mais alguns a serem lidos dela...
Que bom!?
Recomendo!
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Wercton 25/11/2023

Eu vejo um museu de grandes novidades
Em seu livro mais longo, Annie Ernaux elabora sobre sua existência desde a infância até seus 60 anos e como a História que se transcorreu afetou sua vida, opiniões, comportamentos e relacionamentos.

Apesar do livro ser um recorte dos anos de sua existência, ele em nada se assemelha com uma autobiografia pelo estilo de escrita e narrativa único que a autora adota, se referindo a si mesma em terceira pessoa, e se usando como apenas uma personagem secundária para abordar as grandes mudanças que sua geração testemunhou.

Nascida durante a Segunda Guerra Mundial, teve seu desenvolvimento em uma França pós-guerra marcada pela pobreza e pela alta mortaldade de crianças. Testemunhou na pele uma completa mudança de valores na sociedade, nos comportamentos; acompanhou a Guerra da Independência da Argelia, participou da revolução sexual, as mudanças de leis relacionadas ao aborto, a independência da mulher, a guerra fria, o consumismo desenfreado, o terrorismo, a onda crescente de xenofobia em seu país, os enormes avanços tecnológicos e o vai e vem político.

Esse é de longe um dos livros mais geniais que já li. O livro é sobre todas essas coisas que citei acima, mas acima de tudo é sobre memórias, envelhecimento, a insignificância e banalização de acontecimentos que na hora nos parecerem tão marcantes, o esquecimento ao qual estamos todos fardados, os eternos ciclos históricos que estamos presos.

Livro incrível e ao mesmo tempo triste. Permitiu-me muitas reflexões que talvez eu só viesse a ter daqui muitos anos. Um merecido clássico contemporâneo.
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Juliana Amaro 18/01/2024

Bom livro.
Uma das principais escritoras francesas da atualidade, Annie Ernaux, empreende neste livro a ambiciosa e bem-sucedida tarefa de escrever uma autobiografia impessoal. Com ousadia e precisão estilística, ela lança mão de um sujeito coletivo e indeterminado, que ocupa o lugar do eu para dar luz a um novo gênero literário, no qual recordações pessoais se mesclam à grande História, numa evocação do tempo única. Nascida em 1940, em uma pequena cidade no interior da França, Ernaux pertence a uma geração que veio ao mundo tarde demais para se lembrar da guerra, mas que foi receptora imediata das recordações e mitologias familiares daquele tempo. Uma geração que nasceu cedo demais para estar à frente de Maio de 68, mas que ainda assim viu naquelas manifestações a possibilidade dos mais jovens de uma liberdade que por pouco não pode gozar. Finalista do International Booker Prize e vencedor dos prêmios Renaudot na França e Strega na Itália, Os anos é uma meditação filosófica poderosa e uma saborosa crônica de seu tempo. Pela prosa original de Ernaux, vemos passar seis décadas de acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as inovações tecnológicas, signo sob o qual vivemos até hoje.
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Letícia 24/03/2022

Mais um livro arrebatador de Ernaux
Que livro maravilhoso! Ao meu ver, com Os Anos, Annie Ernaux não alcançou apenas o seu objetivo de contar a história de uma geração por meio da narrativa de sua própria vida - revelando, nesse processo, algo sobre o seu ser. Ela também revela algo sobre nós, leitores.

Em várias passagens me identifiquei com os relatos da autora, tanto os pessoais quantos os referentes à conjuntura. Muito do que ela nos conta sobre a experiência de ser mulher em uma sociedade conservadora permanece inalterado. Além disso, é fascinante a sua reflexão sobre como o progresso tecnológico e a mercantilização da vida modificaram nossa percepção do tempo e, consequentemente, a História e a memória coletiva.

O conceito de ?tempo palimpsesto?, por ela desenvolvido e na origem da formulação do livro, é especialmente interessante. Parece mesclar a memória física ao habitus bourdieusiano, ao mesmo tempo em que se fundamenta em uma visão heideggeriana do tempo, na qual as fronteiras entre passado, presente e futuro se desfazem e a consciência navega pela nossa multiplicidade de ?eus?.

Por fim, é primoroso como ela consegue entrelaçar o final ao início do texto, nos incentivando a reler as primeiras páginas para sentir que a trama, enfim, foi concluída. Fechei o livro com uma sensação melancólica de quem, como Ernaux, também tenta capturar as lembranças fugidias de um tempo infantil que não podemos reproduzir. Nos resta apenas rememorar.
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Pri_Gejao 19/05/2023

Espetacular
Annie Ernaux, nascida em 1940 na França, narra no livro todos os acontecimentos do passar dos anos até os atuais.
Fala dos grandes acontecimentos políticos, históricos, econômicos, mas numa espécie de história sobre a memória. Ou a partir da memória. Ou ambos.
Os anos são contados a partir de descrição detalhada de fotos, onde no verso está escrito o local e o ano.
O livro entrelaça a evolução das gerações durante os anos, com a história pública e privada.
Uma delícia de ler.
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Duda Mesquita 01/01/2022

Uma autobiografia brilhante
Ernaux narra sua autobiografia como uma voz externa e ao mesmo tempo interna, escrita como "ela" e "nós". A sensação é de que estamos na janela de um trem, vendo os anos passarem sob os pensamentos de Ernaux, assim como de todo o coletivo de pessoas ao redor dela.
Os Anos vai cobrir um grande período histórico em que inúmeros fatos relevantes aconteceram na França e no resto do mundo, como a guerra fria e o atentado de 11 de setembro. Apesar disso, não é um livro sobre fatos ou como eles aconteceram, mas um livro sobre o sentimento coletivo vivenciado no dia a dia enquanto as grandes tramas da história do mundo se desenrolavam.

Um livro simplesmente brilhante. Só me resta agora entrar para a torcida dos que esperam o Nobel de Literatura de Annie Ernaux.
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Sol 62 29/04/2023

Da história individual à história
Autora Francesa ganhadora do Nobel de Literatura em 2022. Livro de uma escrita fantástica, objetiva, impessoal, direta, partindo do especifico (contexto pessoal) para o geral (contexto social, histórico, cultural, econômico, político). A autora descreve sua opção literária metodológica, inclusive na escolha do uso de pronomes impessoais (ela / nós) e determina que, mesmo partindo de sua história pessoal, ?não haverá EU?. Apesar de seu livro ser classificado como autossociobiográfico, a autora nomina seu método de autobiografia impessoal, por isso sua escrita objetiva e de algum modo seco, todavia sem ser, em nenhum momento, grosseiro. Vejo esse distanciamento na escrita como uma escolha metodológica.

É um livro que merece ser lido e relido, principalmente pelo primor de conteúdo teórico e metodológico.
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