hafronita 10/01/2024
Tramas afetivas e reflexoes presentes em Laços de Família
Felicidade ilusória que dança ao ritmo de um lirismo intenso. Não subestime, é um universo que permeia o seu dia a dia, onde você pode descobrir, reconhecer e abraçar as características ? talvez perceba que alguém próximo a você compartilha desse cenário. Navegando e preenchendo mentes persuasivas, Clarice Lispector penetra em um ambiente repentino, súbito, revelando como a vida real, ao longo de seis décadas, permanece inalterada. Entre os vínculos de famílias burguesas, desfavorecidas e solitárias, a tensão se entrelaça no cotidiano, infiltrando-se imperceptivelmente na alma.
A escrita de Clarice é um fio perigoso e persuasivo. À medida que se aventura nas profundezas do oceano dos pensamentos passados, é como se estivesse perdido em um labirinto marinho, mas, magicamente, os parágrafos subsequentes agem tal como correntes de maré que o trazem de volta à luz do protagonismo, revelando a verdade escondida nas entrelinhas do conto. Nessa dança de palavras, a escritora pertencente à terceira geração do Modernismo emerge como uma tapeçaria rústica, tecida com fios psicodélicos, enquanto narradora, como uma observadora íntima, sussurra segredos igual um vento inebriante no seu ouvido. É sobre estar imerso em um caleidoscópio de narrativas e de entendimentos, subjetivo, julgo, com um conto dentro de um conto, onde cada frase é uma pétala solta flutuando no terror do cotidiano brasileiro, desdobrando-se em múltiplos cenários como um jardim botânico cinza.
Da mesma maneira de uma dança complexa, Clarice nos conduz por Laços de Família. Desde a mulher-esposa, uma dançarina cujos passos são uma submissão silenciosa na sinfonia do matrimônio, e avançando para a solidão, até a uma solista desejosa de degustar as notas amargas do ódio, onde cada virar de página é uma mudança de cenário, como cortinas em maio. Nestes 13 contos, a escrita é uma aliada, a qual entrelaça experiências femininas à semelhança de fios quebrados, revelando conflitos nas altas esferas da sociedade e a vulnerabilidade nua, pintando um retrato vívido. Sua linguagem é um jardim de metáforas desafiadoras, onde cada flor, com traços psicológicos, desafia a compreensão imediata. É sobre deixar a leitura fluir como um rio, pois as palavras guiarão você através dos véus da compreensão, cada frase ecoando como uma nota melancólica da própria alma da autora.
Muitas frases irão ecoar na calada da noite, pois as histórias são apenas a ponta do iceberg visível, enquanto a profundidade da narrativa se estende muito além das palavras que se combinam.
?Considerou a ferocidade com que queremos brincar e o número de vezes em que mataremos por amor?;
?Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida?;
?Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso?;
?Se sentia frustrado porque há muito não poderia viver senão com ela. E ela conseguia tomar seus momentos ? sozinha?;
?A morte era o seu mistério?.