Rafael.Giuliano 30/10/2015Um olhar propositivo...O livro “No que acredito” foi mais uma das gratas surpresas que tenho quando me dedico ao exercício de perscrutar as prateleiras intocadas das pequenas livrarias de rua...
Estava em busca de um outro título de Bertrand Russell, chamado “Ensaios Céticos”. Já havia percorrido boa parte das grandes livrarias e, mesmo sabendo da disponibilidade para compra on line, divertia-me a busca despretenciosa que sempre acabava com a pergunta “posso lhe ajudar!?” e a segunda frase “não temos esse livro”, dita por vendedoras de pouca paciência.
No entanto, enquanto fazia o percurso entre dois compromissos que tive no centro da cidade, passei diante da pequena vitrine de uma dessas livrarias que mais parecem um corredor, tanto pelas dimensões diminutas quanto suas paredes abarrotadas de publicações, quase nenhum best seller. E foi ali que encontrei o que procurava e ainda “tropecei” em “No que acredito”.
O título me chamou especial atenção, pois Russell é reconhecido por sua postura cética e ateísta, o que no ideário
comum significa dizer que se trata de um autor que dedica grande parte de sua prosa às críticas e embates, porém, ali estava algo diferente, propositivo, quase como um convite ao seu pensamento, à sua forma de ver o mundo, as crenças de alguém descrente.
A proposta se divide em cinco capítulos em que ele discorre sobre temas relacionados à natureza e o homem, a vida virtuosa, a moralidade e até a felicidade. Numa linguagem assertiva e direta, fugindo aos naturais jargões academicistas ou aos excessos de referenciais, transmitindo suas ideias, a visão de alguém que tem algo a propor.
Essa assertividade se traduz em provocações como: “A vida virtuosa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”. Simples e direto, lembra-nos que somos criaturas em busca de objetivos, então dispara que “Todas as nomas morais devem ser testadas com base em sua tendência ou não de concretizar os objetivos que desejamos”.
Ele resgata o debate a respeito do individualismo e nos convida a reflexão: “Esse individualismo de uma alma isolada teve seu valor em certos períodos da história, mas, no mundo moderno, necessitamos de uma concessão de bem estar mais social do que individual”. Então propõe que “o ponto importante é que, a despeito de tudo o que distingue uma vida boa de uma vida má, o mundo é uma unidade, e o homem que finge viver de maneira independente não passa de um parasita consciente ou inconsciente”. Duro, sim, mas consistente em relação ao propósito propósito de nos fazer refletir...
Suas provocações vão além e demonstram uma caráter pragmático sobre o exercício consciente de uma vida plena, dizendo: “A vida não deveria ser tão rigorosamente controlada nem tão metódica”. Recomenda que “nossos impulsos, quando não fossem efetivamente destrutivos ou danosos aos outros, deveriam, se possível, ter curso livre; deveria haver espaço para a aventura”. E finaliza dizendo que “deveríamos respeitar a natureza humana, na medida em que nossos impulsos e desejos constituem o material do qual deve ser feita a nossa felicidade”.
São 101 páginas de reflexões propositivas, de uma visão pragmática a cerca das contribuições que uma visão crítica sobre o mundo pode trazer para nossas relações mais cotidianas. E o mais fascinante continua sendo a crença de Russell no potencial humano, sua fé em que podemos ser melhores, o que se aplicada a todas as dimensões de nossas vidas!
Fica a dica de mais essa leitura...
Rafael Giuliano
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