Bruna Moraes 18/09/2023
A menina que não sabia ler #1 - John Harding
Na mansão de Blithe House vivem os meios-irmãos Florence e Giles, órfãos e que estão sob o cuidado do tio, que nunca aparece, mas deixando a governanta, Sra. Grouse, comandando a casa, juntamente com os outros empregados. E assim, as crianças passam o dia livremente, correndo de um lado para o outro com suas brincadeiras, mantendo somente distância do poço e do fundo lago.
Mesmo seu tio ordenando para que não ensinem Florence a ler, ela, ao descobrir a imensa biblioteca proibida, consegue com a ajuda dos livros a ler sozinha, passando suas tarde e noites desbravando mundos literários. No entanto, a sua vida calma não vai durar para sempre, com Giles indo para escola e seu vizinho Theo aparecendo frequentemente em sua casa, as suas leituras constantes tiveram que ser interrompidas. E tudo piora, quando Giles é mandado de volta para casa, por não ter conseguido se adaptar à escola, sendo recomendado pelo tio que estudasse em casa sob a vigilância de uma instrutora, por isso foi a Sra. Whitaker foi indicada, por uma fatalidade acabou afogada no lago.
A segunda preceptora, Sra. Taylor, fora contratada para educar Giles e manter a ordem na casa, tendo em vista o desastre da primeira preceptora. Mas seus comportamentos peculiares, despertaram em Florence uma curiosidade e um instinto de proteção, em relação ao seu irmão. O único problema era separar o mundo da imaginação da realidade.
A narrativa é dividida em dois momentos, ambos contados sob a perspectiva da Florence, logo de início o livro demonstra se tratar de duas crianças, aparentemente, normais que vivem em uma mansão e possuem um tio negligente. No outro momento, a narrativa toma um rumo diferente, com uma pegada mais de suspense psicológico, coisas sobrenaturais começam a acontecer, segundo a narradora, e que parecem estar ligadas, tanto entre os personagens quanto ao ambiente da mansão. E, como consequência disso, alguns personagens acabam morrendo de maneira fria e sem grandes explicações, como a Whitaker, Taylor e Theo, pela própria Florence, que não passa de uma criança. Ao observar o título do livro e a capa, é evidente que não combinam em nada com a temática da história.
Vale ressaltar, que as descrições em relação aos comportamentos machistas, as roupas, os objetos de transportes e até os métodos médicos para curar a asma de Theo remetem aos anos de 1890, o autor faz o leitor se sentir em outro século, sem dúvidas.
Inegavelmente surpreendente, superou todas as minhas expectativas, não se trata de um romance e muito menos clichê, como achei que fosse. Muitas perguntas ficaram soltas e sem respostas com o final do livro, sendo essenciais para fechar o primeiro volume, como sobre o caso da primeira preceptora e o falecimento de Theo, mas o autor faz um jogo interessante, induzindo o leitor a realmente a ficar na dúvida e no escuro se tudo não passou de uma fantasia do imaginário da Florence ou se ela é uma paciente psiquiátrica ou se realmente tudo foi real. O livro foi inspirado no clássico “A volta do parafuso” de Henry James e também nos contos de Edgar Allan Poe, conhecido pelos seus suspenses.
“Com que facilidade deixamos de lado a perspectiva de um futuro desastre pelo prazer do presente!”.