Máquinas como eu

Máquinas como eu Ian McEwan




Resenhas - Máquinas como eu


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laramaximo 15/05/2024

Uma distopia necessária de ser lida
Recentemente, bilionários de todo o planeta assinaram uma carta pedindo que as empresas freassem o avanço do desenvolvimento da IA (inteligência artificial), com a justificativa de que estamos indo rápido demais.

Meu primeiro pensamento foi: será que esse oligopólio de empresas (Google, Apple, Tesla, Microsoft etc) não querem que o resto da humanidade evolua tão rapidamente quanto eles?

Agora penso que talvez essas pessoas saibam algo que nós não sabemos. Mas Ian McEwan conseguiu explicar muito bem em um romance: talvez as máquinas avancem de uma forma, criem uma consciência tão firme, que os robôs terão uma história, um destino, que pode cruzar com o nosso.

Esse livro se passa na primeira pessoa e é narrado pelo inglês Charlie, que é orfão e pai e agora de mãe e ela deixa para ele uma pequena herança. Com esse dinheiro, ele compra 1 dos 25 robôs que acabaram de ser lançados (Adão e Eva, espalhados em diversas partes do mundo).

O cenário: a Inglaterra sob as mãos de Margaret Thatcher, enfrentando um avanço tão grande da IA na sociedade que a taxa de desemprego aumentou de forma alarmante. A população cobra por alguma solução.

Charlie passa a conviver com Adão e com Miranda (sua vizinha e namorada) e o casal passa a dividir diversos detalhes de suas vidas com Adão, uma máquina criada para separar o bem e o mal sem os tons de cinza que nós, humanos, entendemos.

Ao longo do livro, vemos que outros Adões e Evas se deparam com o dilema entre o que é justo, o que é bom e ruim e o que deve ser feito, e sofrem de uma forma profundamente humana.

Esse livro é uma distopia do quanto as máquinas podem impactar a nossa vida em todos as áreas: no trabalho (imagine a massa de trabalhadores sem formação, sem conhecimento, que ficará desempregada em breve) e na vida pessoal (como lidar com os dilemas morais? Como definir em um algoritmo o que é justo e correto? A vingança pode ser vista de forma positiva)?

Recomendo muito a leitura!
ValAria34 15/05/2024minha estante
Você achou uma leitura maçante, apesar de necessária, ou foi bem fluida?


laramaximo 15/05/2024minha estante
Achei uma leitura fluida. O autor não é daqueles que se preocupam em detalhar demais o espaço e a aparência física de cada um dos personagens (eu prefiro que o autor deixe que o leitor crie essa imagem ele mesmo, a menos que seja necessário especificar alguma característica).

Achei os diálogos bem sucintos. Li o livro em cerca de 10 dias!


Vininini 15/05/2024minha estante
uauu, despertou meu interesse. Recentemente eu comecei a buscar sobre o tema de alinhamento das IAs e realmente é um tema bem preocupante ?


ValAria34 15/05/2024minha estante
Obrigada




Diego 06/01/2021

Ficção científica e humanidade
Achei muito bom!
Meus conhecimentos científicos não são tão profundos a ponto de eu poder fazer uma avaliação neste sentido, mas todo o enredo é muito interessante, refletindo não apenas sobre o robô, mas sobre o ser humano.
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lotuss 07/01/2024

Cérebro e mente
"Adão disse: Aí está, cérebro e mente. O velho e complicado problema, não menos difícil nas máquinas que nos seres humanos."

Lidei com o final desse livro, que deixa uma sensação agridoce, de um modo meio apático, embora eu estivesse muito envolvida com os personagens e com a história. Não acho a palavra pra descrever. Foi fascinante como tantos acontecimentos "corriqueiros" ficaram tão interessantes nessa linha do tempo alternativa que o autor criou, tão tangível que parece real. Os diálogos, as situações rotineiras, a política e ambientação, as inseguranças e ansiedades e análises do protagonista ? você fica imerso na história sob todos os ângulos.
Mas o mais fascinante é o paralelo que o protagonista descreve entre cérebro e mente (um se tornou explicável, outro nem tanto), entre máquina e humano, entre tecnológico e biológico ? o quanto de nós mesmos a gente entende? Qual o segredo de amar, pensar, morrer, da consciência? O que nos dá motivo pra viver ? essa sim é uma questão-chave no livro. Foi incrível a construção do relacionamento do Charlie e da Miranda ? e do Adão com eles, bem como o de cada um por si só. Já falei deles, mas os diálogos são realmente o ponto alto desse livro, muito papo cabeça e muita revelação, MUITO bem-escritos.
O poema final me devastou: perfeito. Foi uma leitura realmente agridoce, sem muitos pontos de extrema alegria nem de extrema tristeza, porque é muito humana mesmo ? com essa abordagem "cinza" dos personagens e do ambiente. Você entende tudo e por isso fica difícil julgar demais. Mas é muito envolvente, e, em geral, triste. Tô triste que terminei. Essa é a palavra. É só triste.

"Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies.
Queremos que nossos novos amigos aceitem que a tristeza e a dor são a essência de nossas vidas?"
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Roberto.Cassano 19/11/2023

A vida (com androides) como ela é
Robôs, autômatos, androides, criaturas dotadas de inteligência artificial. Não faltam personagens e histórias de ficção científica centradas nessas figuras presentes em nosso imaginário há séculos. As Leis da Robótica, postuladas por Isaac Asimov, estreitaram as ligações entre ficção e realidade. Uma imaginando, a outra lendo a SciFi como profecias sendo realizadas.

Em boa parte das narrativas, a IA se torna autoconsciente, onipotente e, daí, deriva uma batalha avassaladora. De O Exterminador do Futuro a 2001, temos a luta da humanidade contra máquinas que se desviaram do propósito original. Em outras histórias, a batalha mal é travada, estamos subjulgados e nem todos acham isso ruim. Aqui valem desde episódios da Netflix ao nacional Movimento 78, de Flávio Izhaki, sobre o qual já escrevi.

Máquinas como eu: E gente como vocês, de Ian McEwan, traz uma outra abordagem, ainda mais dolorosa. O problema com as inteligências artificiais extremamente elaboradas é que elas ressaltam nossas profundas imperfeições, incoerências e inconsistências. As máquinas “falham” por não conseguirem emular nossa confusa e complexa realidade enquanto seres imperfeitos.

A narrativa se passa em uma realidade alternativa em que Turing sobreviveu à absurda condenação por homossexualismo no pós-guerra, Lennon e JFK não foram assassinados e a Inglaterra perdeu a Guerra das Malvinas. Nesse contexto, a tecnologia floresceu muito precocemente, e temos carros elétricos autônomos e robôs avançadíssimos ainda no século XX.

É um desses robôs que integra um pitoresco e frágil arranjo familiar, trazendo uma série de questões ao longo do processo. A escrita de McEwan, primorosa, nos leva a mergulhos na história e política deste mundo que poderia ter sido, a como Alan Turing teria contribuído de forma impressionante com a evolução de tecnologias como IA e ao impacto de inovações nas vidas e relacionamentos de pessoas comuns.

Comuns e imperfeitas. Os protagonistas, o casal formado por Charlie e Miranda, estão longe de serem heróis infalíveis. Colecionam defeitos, mentiras, segredos e decisões moralmente questionáveis. Estas características saltam aos olhos quando refletidas em Adão, robô ávido por conhecer o mundo. E que, talvez, o superestime. Os robôs de sua geração parecem sofrer ao perceber o quão ilógico e incoerente é a sociedade humana.

Me agrada essa construção de protagonistas com atitudes questionáveis. Tanto que HP e Soraia, os personagens mais importantes de meu livro IVUC – A Iniciativa C’ach’atcha, são falhos e questionáveis às suas maneiras.

Em Máquinas como eu, essas decisões equivocadas e o choque de percepções (sempre centradas no pequeno núcleo familiar, mas que ecoam o turbilhão de conflitos e eventos em escala nacional) movem a narrativa, que busca sempre o íntimo, partindo do macro. A vida como ela é, ou poderia ser, com robôs que criam poesia e se apaixonam.

É uma leitura que vai prender os fãs de ficção científica mas que funciona perfeitamente para quem apenas busca um romance extremamente bem escrito. Estes podem achar as explicações técnicas um tanto quanto enfadonhas, mas nada que uma leitura diagonal dessas páginas não resolva.

site: https://cassano.com.br/2023/11/19/a-vida-com-androides-como-ela-e/
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fabio.orlandini 23/10/2022

O que é ser humano?
O livro traz grandes dilemas que já estamos enfrentando e que talvez serão bastante pertinentes num futuro próximo. Não é um romance apaixonante, mas é bem interessante e intrigante. Além da questão da relação homem máquina, outros dilemas são tratados no livro em suas mais profundas dicotomías: certo e errado, verdades e mentiras, razão e emoção. Enfim, uma boa obra.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 15/07/2019

Ian McEwan - Máquinas como eu
Editora Companhia das Letras - 328 Páginas - Tradução de Jorio Dauster - Capa de Claudia Espínola de Carvalho - Lançamento: 19/06/2019.

Ian McEwan está de volta com o brilhantismo técnico de sempre, confirmando a sua posição de destaque na literatura inglesa contemporânea. Depois do romance Enclausurado, onde o mais improvável dos protagonistas, um feto no nono mês de gestação, é o responsável pela narrativa em primeira pessoa dentro da barriga da mãe, ele assume agora os riscos de trabalhar em seu mais recente lançamento com um tema já abordado muitas vezes na literatura e também no cinema: os dilemas éticos e morais decorrentes da convivência com androides dotados de aparência humana e alta inteligência cognitiva.

A escolha óbvia da maioria dos escritores seria a de ambientar os personagens em um distante futuro distópico, no entanto isso não representaria um desafio suficiente para McEwan. Em Máquinas como eu, o romance tem como pano de fundo a cidade de Londres em 1982 com algumas importantes diferenças históricas. No passado inventado pelo autor, ocorre uma derrota contundente dos ingleses para os argentinos na disputa pelas ilhas Falkland, ou Malvinas, provocando a perda de popularidade de Margaret Thatcher, o que acabou antecipando a queda da então primeira-ministra e o debate sobre o Brexit, exatamente o oposto do que aconteceu na realidade – a "dama de ferro", como ficou conhecida, permaneceu por onze anos no poder, de 1979 a 1990 e apoiou a adesão britânica à Comunidade Econômica Europeia.

Contudo, a diferença marcante neste "novo" passado, que conta até mesmo com o retorno dos Beatles, apagando da história o assassinato de John Lennon em 1980, é a antecipação do desenvolvimento tecnológico como o conhecemos hoje, incluindo o uso da internet e celulares, o que possibilitou a chegada ao mercado do "primeiro ser artificial convincente" em 1982. MacEwan resgata também em sua ficção um outro personagem histórico injustiçado em seu próprio país, o matemático Alan Turing (1912-1954), um gênio da matemática e pioneiro na pesquisa sobre inteligência artificial e ciência da computação, que cometeu suicídio com apenas 41 anos devido à humilhação pública por ter sido condenado em um processo por "vícios impróprios", como era definido o homossexualismo na época, e condenado a "terapias" à base de estrogênio como alternativa à prisão, o que equivalia à castração química.

A narrativa é conduzida por um protagonista pouco confiável, Charlie Friend, que aos 32 anos já acumula uma série de fracassos em esquemas mirabolantes que nunca deram certo, ele é um amante da eletrônica, formado em antropologia, mas sobrevive jogando pela internet no mercado de ações e de câmbio. Quando uma primeira edição de apenas vinte e cinco androides é lançada no mercado, ele decide, em um gesto impulsivo, utilizar os recursos da herança recebida por ocasião da morte da mãe para adquirir uma Eva, como eram chamados os exemplares femininos, mas precisa se contentar com um Adão uma vez que, ao final da primeira semana, todas as Evas já haviam sido vendidas (sete delas somente em Riad). Os parâmetros de personalidade dos sofisticados robôs devem ser configurados pelos "usuários" com base nas detalhadas instruções e recomendações do fabricante.

"Eu tinha esperado um amigo. Estava pronto a tratar Adão como um convidado em minha casa, como um estranho que viria a conhecer bem. Mas imaginei que ele iria ser entregue perfeitamente ajustado. Configurações de fábrica: um sinônimo contemporâneo do destino. Amigos, parentes e conhecidos tinham aparecido sem exceção em minha vida com configurações dadas, com histórias inalteráveis de genes e meio ambiente. Queria o mesmo de meu novo e dispendioso amigo. Por que me encarregar disso?" (p. 15)

Enquanto espera as dezesseis horas necessárias para o carregamento inicial das baterias de Adão, Charlie sente a "angustiante excitação de um amor não declarado" por sua jovem vizinha Miranda e tem a ideia de convidá-la a escolher as opções de configuração da personalidade de Adão. A sua intenção é de que ambos possam, dessa forma, compartilhar a criação e o uso do androide, constituindo uma espécie de família. Na verdade, a família será constituída, mas não exatamente da forma como Charlie imaginou. Isso fica cada vez mais claro quando Adão supera as expectativas que os proprietários pudessem ter a respeito de suas emoções e sentimentos e se apaixona por Miranda, formando um improvável triângulo amoroso.

Outras surpresas e desdobramentos estão reservados para Charlie quando ele descobre, auxiliado por Adão, que Miranda esconde um terrível segredo em seu passado que poderá colocar a vida de todos em risco. Será que a formidável mente humana poderá um dia criar uma máquina com capacidade de aprendizado além da nossa compreensão? Quais seriam os limites éticos para essa criação quando a verdadeira definição de humanidade se tornar irrelevante ou definida por outra máquina? McEwan coloca com muita perfeição a ideia dessa longa trajetória que temos percorrido rumo à extinção, nossa e do planeta.

"[...] Eu estava longe de ser o primeiro a pensar nisso, mas era possível ver a história do amor-próprio humano como uma série de rebaixamentos rumo à extinção. No passado, ocupamos um trono no centro do universo, com o Sol, os planetas e todo o mundo observável girando a nosso redor numa eterna dança de adoração. Depois, desafiando os sacerdotes, a impiedosa astronomia nos reduziu a um planeta que orbitava em volta do Sol, apenas uma em meio a outras pedras. Mas ainda nos colocávamos à parte, brilhantemente únicos, designados pelo criador para sermos os senhores de tudo que vivia. Mais tarde, a biologia confirmou que éramos iguais ao resto, compartilhando ancestrais com as bactérias, os amores-perfeitos, as trutas e as ovelhas. No começo do século XX penetramos ainda mais fundo no exílio quando a imensidão do universo foi revelada e mesmo o Sol se tornou um entre bilhões em nossa galáxa, em meio a bilhões de outras galáxias." (pp. 91 e 92)

O que ocorre na prática é que os androides não conseguem abandonar os seus princípios de moralidade para conviver com seres humanos, mesmo que isso possa comprometer a segurança e o bem estar de seus proprietários. Não é culpa dos seres sintéticos se eles não foram projetados para entender e aceitar os desvios de caráter e outras imperfeições dos homens. É o personagem Alan Turing quem melhor resume o impasse nesse convívio: "Não podiam nos entender porque não podemos nos entender a nós mesmos. Seus programas de aprendizado não eram capazes de se ajustar a nós. Se não podemos conhecer nossas mentes, como seríamos capazes de planejar a deles e esperar que fossem felizes convivendo conosco?", ou como é afirmado em outro trecho do livro: "não há nada em todos os seus lindos códigos capaz de preparar Adão e Eva para Auschwitz".

"[...] Criamos uma máquina com inteligência e autoconsciência para jogá-la em nosso mundo imperfeito. Desenvolvidas em geral segundo linhas racionais, benevolentes com relação aos outros seres, tais mentes logo se veem em meio a um furacão de contradições. Temos vivido com elas, e a lista nos cansa. Milhões morrendo por causa de doenças que sabemos curar. Milhões vivendo na miséria quando há recursos suficientes para satisfazer a todos. Degradamos a biosfera quando sabemos que é nosso único abrigo. Nos ameaçamos com armas nucleares quando sabemos até onde isso pode levar. Amamos as coisas vivas mas permitimos a extinção em massa de espécies. E todo o resto – genocídio, tortura, escravidão, assassinato em família, abuso sexual de crianças, mortandade em escolas, estupro e dezenas de violências cotidianas. Vivendo em meio a esses tormentos, não nos surpreendemos quando ainda encontramos felicidade, até mesmo o amor. As mentes artificiais não são tão bem protegidas assim." (p. 194)

Ian McEwan faz uma retomada do seu estilo mais sombrio ao imaginar um personagem-narrador que é um perfeito representante da raça humana, não no que ela tem de melhor, mas extamente o contrário, com todas as imperfeições e egoísmo encontrados em seus semelhantes, ele revela a ironia de sermos confundidos com máquinas, enquanto os androides não conseguem abrir mão de seus conceitos de moralidade, pretensamente características humanas, inseridas nas configurações de fábrica. O nosso mundo é mesmo muito estranho, nada como um grande romancista para nos fazer enxergar isso.
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Sadraque 01/07/2020

Não achei tudo isso
O tema do livro me criou expectativas que de maneira alguma foram alcançadas pelo autor. Esse foi o primeiro livro dele que li e achei terrível. Sempre penso que livro e sobre inteligências artificiais devem ser usados para olharmos para nossa própria humanidade, mas a estória sequer chega perto disso, além de as histórias dos personagens não serem minimamente críveis . Péssimo livro!
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Evel 29/12/2020

História envolvente
A trama é bastante reflexiva mas traz um enredo envolvente e o final é muito poético.
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erbook 14/04/2020

A obra retrata complexas questões acerca da inteligência artificial
A recente obra de Ian McEwan, intitulada “Máquinas como Eu e gente como vocês”, aborda a temática da Inteligência Artificial e as possíveis e complicadas relações entre humanos biológicos e humanos artificiais, os quais possuem “sentimentos”, “consciência” e tomam decisões.

No final do século XX, com a evolução da Inteligência Artificial e o triunfo do humanismo, foram criados robôs superinteligentes à imagem dos seres humanos, batizados de Adão e Eva.
Nas palavras do narrador: “Era uma aspiração religiosa abençoada pela esperança, era o Santo Graal da ciência. Nossas ambições eram tão sublimes quanto mesquinhas – a realização de um mito da criação, um monstruoso ato de amor-próprio. Tão logo se tornou factível, não nos restou alternativa senão perseguir aquele objetivo sem pensar nas consequências.”

Nesse contexto, Charlie, o personagem principal e narrador da história, gasta o dinheiro herdado da falecida mãe na compra de um Adão, por ser entusiasta em tecnologia e ser antropólogo. O narrador menciona que a natureza humana não é de caráter universal, pois varia de acordo com as diferentes culturas. Portanto, seria absurdo estabelecer padrões humanos universais. Talvez por essa curiosidade acadêmica de formação, embora seja desleixado e não leia livros, Charlie tenha se empolgado e gasto todas as economias na compra do caríssimo e quase exclusivo Adão, uma vez que foram criados 25 Adões e Evas em todo o mundo.

Ao trazer o Adão para casa e compartilhar com a namorada Miranda, incluindo a formação da “personalidade” de Adão, o trio passa a conviver na sociedade britânica, na qual a Grã-Bretanha perde a Guerra das Malvinas para a Argentina e a Primeira Ministra Margaret Thatcher passa por crises políticas e sociais.

Ian McEwan retrata temas como a ética utilitarista e a distinção na tomada de decisões por parte dos seres humanos e das máquinas. “Quem formulará o algoritmo para a mentirinha que poupa o rubor na face de um amigo? (...) Não sabemos ainda como ensinar as máquinas a mentir”.

A leitura é bem agradável e fluida!

Recomendo!
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mdbandeira 08/04/2022

Máquinas como Eu
Excelente livro que mostra a relação homem x máquina e como lidamos com uma forma diferente de "vida". Recomendo.
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Di 07/01/2021

O que nos torna humanos?
Inteligência artificial não é um tema novo, de fato. Mas McEwan conseguiu brilhantemente me manter interessado do início ao fim nessa trama. Personagens sóbrios e palpáveis, um pano de fundo histórico real e muitas reflexões sobre ética na provável convivência com andróides num futuro não muito distante. Nem otimista, nem pessimista, o romance é incrivelmente sensível e, me desculpe o clichê, humaníssimo.
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Luiza.Thereza 15/09/2019

Máquinas como eu
A Londres de 1982 deste livro é um pouco diferente de nossa realidade: a Grã-Bretanha perdeu a Guerra das Malvinas; a primeira-ministra Margaret Thatcher tem seu poder desestabilizado pelo líder esquerdista Tony Benn; e, aspecto mais importante, o matemático Alan Turin, que vive sua homossexualidade abertamente, é enaltecido por suas extraordinárias contribuições para o avanço da tecnologia, influenciando desde a disseminação da internet até a criação dos primeiros humanos sintéticos.

Nesse mundo tão diferente do nosso, Charlie Friend é um daqueles homens que passam pela vida sem muito empenho ou entusiasmo, e sua lição mais significativa que tirou de sua formação em antropologia foi a relativização de seu senso moral. Na sua rotina de ganhar e perder dinheiro no mercado de ações e em investimentos não muito seguros, ele usa a herança que recebeu da mãe para comprar Adão, um dos vinte e cinco primeiros humanos sintéticos disponibilizados no mercado.

Apaixonado por sua vizinha de apartamento, uma jovem estudante atormentada por um segredo do passado, Charlie a convida para juntar-se a ele na programação da personalidade do androide recém-comprado. Um triângulo amoroso em que a mulher é “disputada” pelo amor de um humano e um androide? Claro, por que não?

É interessante, na verdade, e, ao mesmo tempo, uma tecla constantemente batida: o que nos torna humanos? Nossa aparência? Nossa racionalidade? Nossa subjetividade? A capacidade que tempos de aprender? É possível que uma máquina seja capaz de entender o coração humano?

Esse cara, Ian McEwan é um escritor a ser adorado e também temido. Suas tramas são excelentes (este é o segundo livro que leio dele), e sua escrita é muito bem trabalhada, e é difícil encontrar alguma falha nas suas construções. Ele te envolve, te prende e depois te atropela com uma reviravolta que deixa a todos os envolvidos (personagens e leitores) atordoados. É incrível, sério.

site: http://www.lerparadivertir.com/2019/08/maquinas-como-eu-ian-mcewan.html
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Amanda Bento 26/12/2020

Ian McEwan e Isaac Aimov sentam em um bar
Sou fã do Ian desde Reparação. Adoro como ele descreve o impacto de alguns eventos históricos na vida de seus personagens. Nesse. Livro ele foi alem, trouxe um contexto avançado de inteligência artificial para os anos 80, criando uma teia complexa de relacionamento com uma máquina. Absolutamente incrível e um dos melhores livros que li este ano
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Maikel.Rosa 24/10/2020

um andróide como nós
se, como algoritmos, nossas preferências são fruto de particularidades vividas, talvez isso justifique o fato de eu ter me identificado com as personagens de "máquinas como eu".

com o narrador Charlie, por ser um amante da tecnologia com uma posição política bem estabelecida, mas que sabe que não existem verdades absolutas.

com sua vizinha e amante Miranda, talvez por acreditar que alguns erros são permitidos quando podem ser a única forma de equilibrar a balança.

com o menino Mark, que mesmo sabendo que não é bem-vindo na família que o concebeu, ainda tem esperança de encontrar pessoas lá fora capazes de dar o afeto que nunca conheceu.

e, finalmente, com o andróide Adão, por sua dificuldade em entender as escolhas irracionais que levam o ser humano a cometer atrocidades injustificáveis.

sobre o enredo, só posso alertar que não criem expectativas de ler um eletroencefalograma, cheio de picos e depressões imprevisíveis a cada novo estímulo, mas um cardiograma quase saudável, com altos e baixos esperados em um cotidiano que só tem a inteligência artificial antropomorfizada como elemento distoante da realidade que já vivemos.

ainda aproveitando o exemplo, é uma obra que trata sim de questões intelectuais como ética e justiça, mas principalmente do papel das emoções, tanto nas decisões do dia a dia quanto nos grandes dilemas da vida.

eu gostei muito, mas meus algoritmos "são muito peculiares, você não entenderia..."
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Kelly Barbosa 16/08/2022

Máquinas melhores que nós
Charlie Friend, um homem hesitante em tudo, compra um humano artificial cuja personalidade molda junto com a namorada. Adão, o robô, ganha consciência e parte para reflexões e sentimentos tão profundos sobre a vida como seu "dono" nunca foi capaz de alcançar. Enquanto isso, do lado de fora das janelas do apartamento, um Reino Unido convulsionado pela derrota nas Malvinas, pelas mãos do IRA, por robôs suicidas e por humanos tão hesitantes e ilógicos quanto Charlie, precisa lidar com suas próprias preocupações. Ao mesmo tempo, Alan Turing, vivo nos anos 1980, numa visão do que sua história poderia ter sido em um mundo menos incompreensível e bizarro, é convertido em guru.

Crime, adoção, política, ética, traição, justiça, poesia, amor, sensualidade e senilidade, tudo junto numa história em que o autor não perde a mão. Um livro que adquiri pela sinopse e que me fez ficar grudada em cada uma de suas palavras subversivas e - quem sabe? - proféticas, neste momento em que a AI está cada vez mais próxima de cada um de nós.

Atenção para o lirismo da despedida final entre Charlie e Adão. De arrepiar.
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