Vitória 21/06/2020encaixei esse livro na maratona literária de inverno e estava super desanimada, escolhi esse como principalmente uma forma de sair da minha zona de conforto e confesso que a resistência era grande, não sou muito de biografias muito menos das narradas por uma pessoa que não o sujeito da história a ser contada. mas essa.. ahh, essa quebrou com todas as minhas expectativas baixas e me trouxe um grande presente: a reflexão.
foi muito, mas muito gostoso o processo de aprender com esse livro. me informei sobre feitos científicos, consegui um contexto histórico sobre assuntos que são muito debatidos e que aqui foram colocados com exemplos práticos e aplicados na realidade, acompanhar o trampo que foi a vida da marie, num meio machista, misógino e que tentava a todo custo desqualificá-la. além de todo o passeio pelo processo de luto, de reconhecimento de si mesmo, das perdas ao longo da vida que são muito mais do que a simples morte da carne e da energia virtal.
aqui, vou deixar algumas reflexões e coisas que fui pensando enquanto lia, com sorte registrei algumas coisas (que ainda não sao nem metade de tudo que passou pela minha cabeça durante a leitura).
- primeiro: a obrigação de se recuperar como se a vida não fosse um constante processo de falência??? a própria vitalidade é um processo de falência e a impossibilidade de falar sobre isso e admitir nossos lutos aliena a gente do processo.
- honrar os pais e principalmente a mãe é provavelmente o mais camuflado dos lutos de nós mesmos e somos alienados do processo por levar isso como divida inconsciente ou até curso natural. as referências com fotos de patti smith e lady gaga, tudo pra mim!
- uma vez pensei num negócio que ecoa muito em algo que foi dito na página 56. tem alguma COISA que faz a gente se convencer muito das nossas percepções de alguém quando estamos apaixonados, e no auge de achar tudo muito palpável e real e possivel isso cai e surgem as coisas que faltam e a gente se culpa. e assim. cada um com seu processo mas o processo de desencanto ensina muito mais que o contrário apesar da frustração.
- desamor é luto.
- um perigo inerente a se jogar no tipo de intimidade citada no livro, quando ela diz que a intimidade dos curie era a nível de não saber onde um termina e o outro começa: esquecer quem é voce e o que te constitui individualmente, acabar ficando sem norte com a ausência do que é o outro por achar que o que é você também se foi. uma caminhada danada pra reencontrar seu eu depois.
- a gente só é porque o outro nos permite ser, assim como o mundo é porque somos nele, junta tudo e temos a fenomenologia kkkkkk
- quando é que a gente se da conta do corpo que habitamos e tomamos essa carcaça como nossa? quem como eu dissocia, por exemplo, precisa as vezes se lembrar desse contorno que divide a alma do ar.
se tem uma coisa que aprendi com essa leitura é que viver é narrativa e tudo passa pela palavra. todo ser humano é um romancista e o relato de vida e morte é a maior das criações.