Michele 20/08/2020
Obra espetacular!
Ao adquirir o livro O PAPEL DE PAREDE AMARELO E OUTROS CONTOS, de Charlotte Perkins Gilman, fui surpreendida com 7 contos que superaram as minhas expectativas sem exceção.
Os contos vão mudando sutilmente suas características conforme a data de publicação original. No início, são fortemente influenciados pelo estilo gótico seguindo a referência de Poe no modelo tradicional e na temática que mescla o fantasmagórico e a loucura.
Ao poucos, vão enfatizando cada vez mais o olhar feminista, de forma a concluir o livro com SE EU FOSSE UM HOMEM (1914), uma comparação fantástica entre a vida livre de um homem e a vida limitada das mulheres daquela época.
Os 2 contos que mais me marcaram foram:
O PAPEL DE PAREDE AMARELO (1892)- É uma história narrada em 1° pessoa, que parte da experiência da autora ao sofrer de depressão e ter como recomendação médica o isolamento e a proibição de qualquer atividade, inclusive a escrita. O conto leva essa condição ao extremo da loucura pelo fato de que, em reclusão, tudo que a protagonista pode fazer é ficar analisando em cada detalhe o papel de parede de seu quarto. John é o personagem que funde a figura opressora do marido e do médico e a reprime em cada tentativa de retomar a vida normal.
QUANDO FUI UMA BRUXA (1910)- É difícil escolher, mas acredito que esse tenha sido o meu conto preferido. Narrado em 1° pessoa, a protagonista fez um pacto com o diabo para que se tornasse uma bruxa e, com isso, todos os seus desejos se realizam. Assim, a cada problema com que se depara, pensa em uma forma de solucionar a questão. Ao andar por sua cidade, vai consertando aos poucos os problemas de transporte, de abastecimento, do comportamento das pessoas em vários aspectos (aqui me chamou a atenção o olhar de Gilman sobre os animais), da imprensa manipuladora, entre tantos outros, dando um panorama do estilo de vida da época de forma extremamente crítica.
Com escrita fluida e um olhar crítico e libertário, não apenas recomendo a leitura dessa obra, como deixo registrado que a utopia HERLAND, A TERRA DAS MULHERES (1915), outro clássico de Gilman, acaba de ir para o 1° lugar na minha lista de desejos.