Toni 08/07/2021
Minha percepção sobre o livro.
O livro traz a saga da família Dunbar, 5 irmãos que foram abandonados pelo pai logo que a mãe faleceu, contada do ponto de vista do irmão mais velho, Matthew, o qual assume a responsabilidade de cuidar do que restou da família até que o pai, inesperadamente, retorna pedindo-lhes que o ajudem a construir uma ponte. Todos rejeitam imediatamente a proposta, mas o 4° irmão, Clay, depois de repensar, mesmo sob ameaças do irmão mais velho, decide correr o risco e segue o pai nessa empreitada. Todo a história decorre então dessa decisão e a partir dessa personagem.
O que chama atenção de imediato na narrativa é a forma de lidar com o tempo, mais do que a escolha da não linearidade entre passado e presente, já tão comuns em diversas obras, foi acrescer a essa linha a visita do futuro, gerado por fragmentos antecipados, porém não imediatamente clareados, o que provoca no leitor uma expectativa sobre como isso se dará no momento do enfoque.
Outro artifício, creio eu, usado pelo autor para criar e manter esse nivel de expectativa no leitor é a opção de chamar determinada personagem, relevante pro enredo, claro, não por um nome convencional, mas por um adjetivo/ substantivo que traz uma carga determinante pra história. Fazendo com que o leitor fique, no mínimo, encasquetado ou encafifado, como queira, se indagando a todo momento, por quê?, como?, será? Serve como um mote instigante para aquele que é meio preguiçoso ou , melhor, ansioso seguir em frente. Lembrando que essa palavrinha irá definir de certa forma um dos enlaces da narrativa.
Como a história traz muitos diálogos entre as diversas personagens, as mais de 500 páginas que podem sugerir um romance longo, cansativo e/ou denso, ao contrário, eles tornam a leitura mais leve e fluída.
Pra conquistar o leitor de vez ou afastá-lo, o autor pincela ainda a obra com uma veia poética, carregada de metáforas, inclusive a própria ponte pode ser considerada uma figura de linguagem. Por isso, não tenho dúvida de que essa foi uma forma de elaboração que só enriqueceu a essência da narrativa.
As personagens dessa obra são tão bem delineadas e construídas que cada uma delas pode lhe deixar alguma marca, inclusive algumas inusitadas (vc descobrirá), como Heitor, Aurora ou Aquiles.
Enfim, considero que não existe nada solto ou transbordado, tudo está ordenadamente interligado e, por isso, não cabem suposições sobre alterações. O livro é uma delicia de viagem que traz todos aqueles elementos relevantes pra que vc saia transformado, seja por uma personagem específica, como é Clay, seja a partir de um momento compartilhado entre todas elas, de uma circunstância à toa ou mesmo de uma frase solta, como "Aprendi na marra que o rio enche. E que, se você bobear, pode ficar preso tanto de um lado quanto de outro"; ou em, " É bem curioso o que acontece depois de um velório. Para todo lado há corpos feridos". Esse é um daqueles livros que ficam definitivamente bem guardados na sua estante, para que a qualquer momento possa ser revisitado.