erbook 20/10/2020
Os perigos de julgamentos precipitados!
"O romancista moderno não podia mais criar personagens e enredos, tal como o compositor moderno não podia fazer uma sinfonia de Mozart. O que a interessava era o pensamento, a percepção, as sensações, a mente consciente como um rio atravessando o tempo, e o objetivo era representar o movimento da consciência, bem como todos os afluentes que a engrossavam e os obstáculos que a desviavam de seu curso”.
Com essa passagem, Ian McEwan traz importante reflexão sobre o poder e os limites da boa literatura. O autor mostra que o escritor define os contornos e as condições da realidade que pretende enfatizar, podendo dar mais importância ao enredo ou aos pensamentos e as sensações percebidas pelos personagens.
Na obra, a adolescente Briony faz pré-julgamento equivocado acerca de uma situação de estupro de sua prima Lola e condena o inocente Robbie à prisão. Com isso, altera dramaticamente o destino de Robbie e de sua irmã Cecília, por quem Robbie é apaixonado e acabara de se declarar.
A escrita é elegante, apresenta as diferentes perspectivas dos principais personagens e deixa lacunas na narrativa, as quais devem ser colmatadas pelos leitores.
De forma sutil, o autor apresenta as diferenças entre as classes sociais inglesas antes, durante e após a II Guerra Mundial, mas, a meu sentir, em alguns pontos a leitura é meio cansativa, com capítulos longos e enredo propositalmente singelo.
Entretanto, no final há reviravolta narrativa que faz o leitor compreender melhor o significado da obra (reparação), com o desfecho arrebatador que torna a experiência literária mais instigante.