Polly 02/08/2020
As Boas Mulheres da China e um Medo sem Definição (#121)
Quando eu decidi que leria As Boas Mulheres da China, eu realmente não sabia no que estava me metendo. Juro. Tinha uma ideia vaga sobre do que se tratava o livro, já que ele tinha sido indicação de uma influencer que gosto muito, mas confesso que eu não sabia que seria tão forte e que mexeria tanto comigo.
A realidade relatada é sobre mulheres chinesas antes, durante e depois da revolução cultural, mas poderia ser facilmente o nosso passado, ou o nosso futuro, vai saber... A história da humanidade é sempre cíclica e, sem nem perceber, a gente acaba voltando para pontos repetidos, que não deveríamos nunca voltar. Esse é um medo que me embrulha o estômago. De verdade. Mas, vamos em frente.
Xinran é uma jornalista chinesa, que entre o final dos anos 1980 e boa parte da década de 1990 apresentou um programa na rádio de seu país voltado a mulheres e a suas histórias. As Boas Mulheres da China reúne quinze histórias fortes e dolorosas, consolidando o trabalho de quase uma década da autora. Tais histórias se tornam ainda mais especiais na voz de Xinran, que além de ser uma escritora incrível, é também um ser humano fora da caixinha, possuindo uma empatia e uma sensibilidade incomuns. São histórias pesadas, tristes em sua maioria, mas a maneira como Xinran as conta, faz a gente querer mais, faz a gente querer que o livro não acabe nunca.
Outro aspecto relevante nas histórias é o político. Elas nos revelam que as desigualdades e as injustiças podem nos levar a um ressentimento vingativo, e nos fazerem voltar alguns passos atrás no que nunca foi para frente de verdade. É fato que qualquer tipo de ditadura é repressor para qualquer dos indivíduos que dela faz parte, mas inegavelmente os corpos femininos são os mais atingidos nesse processo, pois ao machismo cotidiano se junta a repressão ideológica (ambos violentos), e nós, mulheres, passamos a ser simples “coisas” em um piscar de olhos.
Enfim, As Boas Mulheres da China nos mostra o quanto do passado pode caber no presente. Não há como não se identificar ou ao menos sentir ternura por essas mulheres, que muitas vezes são só meninas descobrindo o pecado sem perdão que é nascer em um corpo feminino. Eu não posso falar mais do que te pedir que leia esse livro incrível.