Luiz Pereira Júnior 22/08/2021
Um engano poliédrico
Sabe aquela pessoa que te falam que é metida, só conta das viagens que fez, dos amigos que tem e de como seu trabalho vai bem? Pois é... basta ler essa frase acima que já temos certeza de que não vamos gostar dela, que ela é um porre e que se julga acima dos meros mortais...
Pois foi exatamente isso que pensei ao ler algumas críticas sobre a autobiografia de Washington Olivetto, o proclamado maior profissional de propaganda que esse país já teve. Comprei o livro, deixei-o na estante dos esperando a vez de serem lido e, do nada, resolvi pegá-lo já imaginando que encontraria essa pessoa esnobe de que falam tantas críticas.
Enganei-me poliedricamente!
Gostei muito do livro (amar não é um verbo que eu use com muita facilidade e adorar menos ainda), por justamente ser o contrário do que havia pensado.
É claro que ele conta sobre seus sucessos profissionais (e como haveria de ser diferente?), mas ele também relata os fracassos e as desilusões que teve. Aliás, diga-se de passagem, é muito fácil para qualquer um dizer algo de bom de si mesmo, mas peça para citar um defeito em seu trabalho e provavelmente você escutará um autoelogio disfarçado de “meu maior defeito é meu perfeccionismo” ou qualquer bobagem do tipo.
E uma das coisas que mais me fizeram admirar o autor é justamente ele ter sempre citado alguém ou alguéns em todos os relatos que fez de seus casos de sucesso. E isso é bem diferente de várias críticas que li.
É claro que ele narra as viagens maravilhosas que teve e os lugares sofisticados em que esteve (e poderia ser diferente? Ele deveria ter escondido isso e se fingido de humilde?), mas isso também conta como uma espécie de saudosismo e de homenagem aos tempos idos. Afinal, qualquer um que tenha (muito) dinheiro falará de como é bom viver em Meireles, Jaqueira, Morumbi, Leblon, Moinhos de Vento, Savassi, Ondina, Lago Sul e por aí vai, se é que você me entende...
É claro que ele conta sobre suas relações com os ricos, famosos e/ou poderosos, mas, vivendo no meio em que ele vive, alguém teria dúvida do precioso network que ele desenvolveu? Se você escrevesse sua autobiografia, sobre quem você escreveria? Sobre desconhecidos ou sobre pessoas que, seja como for, importaram em sua vida? E esse é o caso de Washington Olivetto: as pessoas que fizeram parte da vida dele não são, é claro, aquelas que passaram pela vida da maioria dos mortais.
Portanto, leia essa autobiografia sem preconceito. Ou melhor, leia, e se você achar que o autor é um esnobe, um metido, que só serve para deixar os pobres leitores verdes de inveja, também será bem-vindo.
Mas, antes de tudo, não confie nas críticas de ninguém. De ninguém mesmo. Nem mesmo na minha. E tampouco na sua...