Aline Marques 24/12/2018Aprisionada pelo preconceito [IG @ousejalivros]Dar-se-á o futuro como o imaginamos.
E caso não o faça, como amadurecer e enfrentar o presente que agora invade os cômodos da vida que construimos para nós?
Maria Luísa é uma moça cheia de personalidade e sonhos. Filha amada, aluna exemplar e cidadã em formação, compreende, desde cedo, que o mundo não a aceita como é e, portanto, deve se contentar com o que lhe for entregue, independente do que for.
Sua posição política (e social) é clara e não teme extravasar sua voz, enfrentando com altivez determinação tudo o que lhe desagrada. Seu corpo não recebe o mesmo tratamento, constantemente a relembrando de todos os padrões que jamais alcançará e de todo o espaço que passou a ocupar.
"[...] Todo esse discurso confirmava a minha impossibilidade de inclusão no mundo feminino. Eu não era uma mulher, mas uma massa disforme de carne sem valor."
Figueiredo, com um humor mordaz e uma sagacidade admirável, explora a vida e aparência de sua personagem, entregando uma história tão atual quanto poderia ser, provocando o leitor a rever antigas perspectivas e aguçar o olhar para novas situações que, direta ou indiretamente, afetam o tal do futuro que imaginou para si.
Os maneirismos da língua portuguesa de Portugal são um impasse para leitores que não estão acostumados, influenciando o ritmo da leitura e a compreensão total do texto, mas não é algo irremediável. A opção da editora em não traduzí-lo aproxima a protagonista das mãos que suportam o peso de sua narrativa, transportando-o para um lugar cultural e socialmente distinto, valorizando ainda mais a experiência.
Um livro como nenhum outro, capaz de enfrentar toda uma geração mantida pelas aparências, confessando aquilo que obstinadamente insistimos em calar.