Thiago275 21/05/2018
Sexo, drogas e rock' n' roll?
Bruce Dickinson é uma das maiores vozes do heavy metal, à frente de uma das maiores bandas de todos os tempos. Nesse livro, acompanhamos a história de sua vida, de maneira estritamente cronológica, desde a infância e juventude, até a maturidade.
Muito mais que um astro do rock, Bruce é uma pessoa multifacetada, com interesses bastante diversos. Ao longo do livro, vamos vendo quando cada tipo de atividade apareceu em sua vida, tais como a esgrima, a aviação, a música, o cinema, as palestras corporativas, a produção de cerveja, etc.
Achei bastante interessante que, embora o Iron Maiden seja uma parte bastante significativa de sua história, ele soube, de maneira sutil mas eficiente, separar bem as duas coisas: esse livro é sobre Bruce, não sobre a banda (o que talvez possa decepcionar um pouco quem ler achando o contrário).
Digo isso pois, durante vários capítulos, Bruce nos conta o processo que ele chama de "moedor de carne": compor, entrar em estúdio para gravar, mixar, sair em turnê, e depois recomeçar. Ele fez isso sem parar durante quase a toda a década de 80 e, embora algumas citações sobre o processo de composição de algumas músicas antológicas sejam verdadeiras pérolas para os fãs, ele faz questão de dizer o que a pessoa Bruce fazia durante as gravações e turnês. Coisas nada caretas, como procurar o clube de esgrima da cidade para treinar ou a escola de aviação.
Para quem espera sexo, drogas e rock' n' roll, vai aqui um alerta: o livro possui, talvez, 3% de sexo, 1% de drogas e 50% de rock' n' roll. Bruce não era nenhum santo, mas desde cedo ele se preocupou em manter distância de substâncias que afetassem seu corpo e, em especial, sua voz. Pra compensar, bebedeiras o livro tem bastante.
Como toda autobiografia, esta possui um filtro. Bruce não escreve uma linha sobre a vida pessoal. De maneira bastante ética, ele não fala mal uma vez sequer sobre nenhum companheiro de banda. A única rixa que ele relata envolvendo Steve Harris remonta aos primeiros shows que ele participou como frontman, em que os dois divergiram sobre quem deveria aparecer mais no palco. Sobre o processo de saída e retorno ao Maiden, nada.
A parte final do livro, sobre a luta contra o câncer, é comovente e inspiradora. Quando penso nessa doença, me vêm à mente apenas palavras vagas como quimioterapia e radioterapia. Nem imaginava o número de efeitos colaterais dos remédios, tais como problemas intestinais, risco de perda dos dentes, e claro a dificuldade para se alimentar.
Quando penso que esse cara fez um tratamento de câncer de língua e um ano depois, estava cantando como nunca, minha admiração por ele só aumenta.
Foi uma excelente experiência de leitura e recomendo a todos que se interessam por música, aviação, empreendedorismo e curte boas histórias.