Thalyta 04/04/2018
Não sei como me sinto a respeito desse livro!
Ah, por onde começar? É tanto sentimento conflituoso a respeito desse livro, que fica complicado organizar as ideias, mas vou tentar fazer isso sem dar spoilers!
Inúmeras coisas me incomodaram nesse livro, e ele se salvou de ser uma das piores leituras de toda minha vida por muito, muito pouco. Devo a isso por simplesmente não depositar mais qualquer esperança em livros young adults, porque, sinceramente, a maioria dos best-sellers do The New York Times ultimamente são horríveis e amadores, e devo a salvação desse livro também ao carisma de alguns personagens da Vic James.
Olha, se você é um leitor assíduo de fantasia e gosta de saber da sistemática de um mundo, magia e tudo mais, não leia, você vai sentir muita raiva. A magia é completamente vaga, você não sabe quem pode fazer o quê e nem mesmo os personagens sabem de onde a mágica deles surgiu, só que ela está lá, dentro deles e beneficia apenas alguns. Esse é um velho truque de autor para manter um suspense, mas eu simplesmente achei que a Vic James sequer tinha ideia do que estava pensando ao criar os Iguais e sua dita Habilidade ao escrever Gaiola Dourada. Amador. Ponto!
A construção de mundo se mostra tão frágil que nem mesmo os motivos dos personagens para se submeterem ao regime de escravidão por 10 anos é explicado direito. "Ah, mas se eu não for ser escravo eu não posso viajar para o exterior", meus anjo, DANE-SE! Os personagens continuam podendo trabalhar, estudar e fazer um monte de coisa, e daí se não puderem viajar? Agora se eles não tivessem direito à saúde, à educação e outras coisas muito básicas, eu entenderia, mas porque não podem conseguir todo tipo de emprego ou sair do país é querer demais da minha boa vontade.
No início também eu me estranhei com o tom da narrativa. A escrita dos personagens se mostrava rasa, sem graça, aquela coisa que fala, mas não faz e lenga-lenga de adolescente que me fazia revirar os olhos, e foi assim até finalmente o Luke Headley ser separado dos pais e ir cumprir seus dias de escravo em Millmoor.
No começo eu não estava dando 0,5% de crédito pro Luke. Minha gente, o menino tinha 16 anos, nem estudar ele queria da vida, eu imaginava ele na cidade de escravos chorando e fazendo burrada, MAS NÃO! Que alegria, cara! Não, o Luke não reclamou, ele não pisou na bola, ele se dedicou ao que realmente importava e cresceu tanto que nem parecia mais aquele garotinho de 16 anos do início do livro. Luke se arriscou por um bem maior, mas nunca deixou de pensar na família. Ele usou de todo seu espírito jovem para fazer alguma coisa para mudar esse cenário pavoroso de escravidão e se ferrou lindamente por isso. Sério, o final que ele toma nesse livro deixou até a mim temerosa pelo que pode aguardar esse garoto na sequencia de Gaiola Dourada. Em Millmoor, Luke conheceu pessoas muito corajosas que o tornaram forte, como o Doutor Jackson (que eu só conseguia pensar no Professor de La Casa de Papel hauahua) e a Renie, que me doía o coração toda vez que ela aparecia com o jeitinho de malandra dela. Ao lado desses dois e mais o pessoal do Clube, Luke tacou o terror em Millmoor e abalou o Parlamento dos Iguais. Forte, né? Pena que a Vic James estragou isso também, mas vamos seguir adiante.
Em compensação, a Abi, que se mostrava tão inteligente aprovada em medicina, adolescente mais adulta não há, é tão inútil nesse livro quanto um pé de alface. Credo em cruz, me matem se um dia eu escrever uma personagem sem sal desse jeito, batam na minha cara também, mas não deixem que eu coloque alguém como protagonista e ela só sirva para suspirar pelo patrão! Gente, não tem condição, sério mesmo! A Abigail me estressou muito. Venham aqui comigo, imaginem que cês são escravos e tal, que seu irmão tá sozinho perdido numa cidade de escravos monstruosa, vocês: a) vão fazer altas espionagem, já que estão lá na propriedade dos todos poderosos e se aproximar de quem realmente importa para dissuadi-los a trazer seu irmão para perto de vocês ou b) vão ficar flertando com SEU PATRÃO QUE NA VERDADE TE ESCRAVIZA, MESMO QUE ELE SEJA GENTE FINA? Pois então, não sei vocês, mas a última coisa que eu ia pensar era me envolver com ALGUÉM QUE TÁ ME ESCRAVIZANDO! Abigail, aparentemente, não vê problemas quanto a isso. E assim, ok, que dona Vic James queria manter um romancezinho típico de YA, mas constroi essa porcaria direito, minha senhora! Como que seus personagens interagem vagamente em 2 capítulos e você já faz um auê desse, sendo que tem toda essa implicação de escravidão no meio? NÃO, SÓ NÃO. FORÇADO, FORÇADO E FORÇADO! E por causa disso, Abi perde chances muito boas de ser realmente útil, porque até a Daisy, irmã da Abi que acabou de fazer 10 anos, tem mais função que a própria Abi. Lamentável.
Ah, ainda não falei para vocês dos Jardine, né? Pois bem, a Abi e a família dela vão cumprir os dias de escravo na casa desses Jardine aí, cujo filho mais velho, Gavar Jardine, é um psicotico/bêbado/esquisito que tem fetiche por estourar o que tiver na reta e atirar nas pessoas; o filho do meio e crush da Abi é o Jenner, tão inútil quanto a Abi. Em dados momentos eu até pensei que o Jenner, por não ter Habilidade e por ser rejeitadinho, estivesse tramando o fim dos dias de escravos, mas ele é só mais uma peça solta e não aproveitada; e o filho mais novo, o Jovem Mestre, Silyen, que é o único que merece que eu fale dele.
Silyen é uma incógnita, eu sinceramente terminei o livro sem saber qual é a dele. O moleque é inteligente, muito poderoso e tem uns planos na cabeça, do tipo chantagear uns Chanceler por aí para propor uma lei que acabe com os dias de escravo pra quê ainda nem sabemos direito. O fato é que Silyen é uma ovelha negra de quem todo mundo morre de medo e eu acho que com razão. Ele é esquisito, bucólico e intrigante, um personagem que eu ansiava muito por saber mais, mas que ganhou um mísero POV e sumiu, aparecendo vez ou outra fazendo uma atitude que aparentemente era boa, mas que tinha um fundo de maldade... Cara, não sei o que pensar do Silyen, ele pra mim é que nem o livro que não sei se gosto ou se desgosto! Só espero que ele tenha mais abertura nos próximos volumes, porque ele é uma das poucas coisas que me convenceram a ler o 2° volume dessa trilogia algum dia.
Por fim, preciso falar da treta política. Sim, esse foi um dos pontos positivos, pra não dizerem que eu tô aqui só metendo a ripa no livro. O sistema político é interessante, os debates e toda aquela sujeirada de Parlamento me empolgaram, principalmente que nessas partes eu conheci a Bouda, outra personagem com bastante potencial. Bouda é fria, dissimulada e infelizmente para ela, noiva de Gavar Jardine. Sei pouco dela, mas o suficiente para gostar do que pode vir. Espero também que ela apareça mais nos próximos volumes.
Por fim, o plot do livro, que não foi surpresa para mim, pelo menos, mas que eu imagino que possa surpreender algumas pessoas. E no mais, assim como só vou em festa de criança pela comida, só vou ler o segundo volume por causa do Luke! É isto =)
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