Andre.28 25/04/2020
Aprendendo a Chorar: Uma História Sobre Os Valores Humanos
É difícil começar qualquer texto para falar desta história. Raros são os livros que lhe retiram as palavras do leitor, preenchendo a emoção com o desconcerto de um silêncio de muitos significados. Uma narrativa que toca seu coração e vai mexendo com o emocional, te fazendo enxergar um choro de uma forma diferente. É aprender a chorar e entender valores. Então nesse silêncio eu passei muito tempo pensando nesse livro. Refleti por horas até ter a noção do que escrever sobre “Flores Para Algernon”, livro escrito pelo aclamado escritor estadunidense Daniel Keyes e publicado em 1966. Esse livro tem todas as características de um clássico sensível: inovador, provocativo, emocionante, sagaz, com um repertório contrastante de emoções. Esse livro representa uma essência, o valor do ser humano, do contradório, do existir como um ser real, com sentimentos que tem valor e que merece respeito independente de sua condição cognitiva. Eu fiquei chocado, tocado, e profundamente emocionado com a escrita e a história desse livro.
Voltando-me um pouco para a história do livro, a narrativa conta a história de Charlie Gordon, um homem de 33 anos de idade que sofre de problemas mentais. Ele trabalha na padaria do Sr. Donner, e sofre com as crueldades de seus colegas de trabalho: Frank e Gimpy. Charlie estuda numa escola experimental para alunos com necessidades especiais que fica na Universidade de Beekman, onde a professora Alice Kinnian ensina. Alive sugere a Charlie uma cirurgia que faz parte de um projeto experimental do Departamento de Psiquiatria da universidade que visa aumentar o Q.I.. Através dos doutores Jay Nemur, Harold Strauss e do seu assistente Dr. Burt Sender Charlie passa pela cirurgia de “injeção de enzimas” que aumenta sua inteligência e consequentemente lhe dá consciência do mundo, transformando-o em um novo homem. A pesquisa antes testada em diferentes cobaias animais teve como exemplo quase igual no ratinho Algernon, que também passou pela mesma cirurgia de Charlie.
Os conflitos de Charlie após a cirurgia aumentam na mesma media da inteligência. Temos nessa parte a representação do Charlie atormentado pelo passado, o seu antigo “Eu” que sofria de problemas psicológicos, abusos dos pais, bullying dos colegas, crueldade da irmã. Tudo volta em flashes do passado. A sua percepção de que era ridicularizado pelos colegas de trabalho, pelas garotas que o transformavam em motivo de chacota e gozações é agora entendido por esse Charlie. Na medida em que o Charlie fica mais inteligente e toma consciência das coisas mais ele fica distante das pessoas, isolado, preso em sua inteligência. Um arquétipo típico da solidão. “Saber é também calar-se, é desalento.” A separação dos “dois Charlies” permite que ele tome consciência de sua humanidade, colocando a sua inteligência num patamar que não ultrapassa os valores sentimentais do ser humano. Somo seres humanos independente de nossas condições.
Ao apontar a desumanização da pesquisa e do experimento ao qual foi submetido, o Charlie inteligente entende que sua vida vai além da sua inteligência. Seu amor pela professora Alice Kinnian, e suas experiências com Fay o fazem entender o valor do amor. Ele também que o procedimento cirúrgico tem um fator regressivo. Algernon sofre com a regressão de sua mente e morre. Algernon é enterrado no quintal da casa onde Charlie vive, e ali se cria um vínculo simbólico da vida e do declínio mental do Charlie inteligente. O homem gênio vai paulatinamente perdendo a lucidez, a capacidade raciocínio complexo e retornando a condição de homem com problemas mentais. Ele perde o elo de sua inteligência, mas por incrível que pareça mantém seu elo de consciência emocional.
O livro é narrado em 1° pessoa e começa com erros de ortografia, concordância verbal, coesão e etc. Esses erros representam a forma como o Charlie com problemas mentais tinha suas próprias dificuldades de se expressar e tomar consciência daquilo que vivia, muito embora esses relatos ressaltem a visão simples e relativamente feliz da vida humana desse homem. Aos poucos vemos a narrativa mudar, tomar ares intelectuais em uma linguagem mais apurada, modificando-se na medida em que Charlie cresce intelectualmente e depois ao passo que retorna aos erros quando regride ao estagio inicial de sua mente. Um livro que toca profundamente pelo apelo ao fator humano da ciência, da verdade de ser quem você e do respeito que você merece. São coisas que rendem mais do que uma resenha. São coisas fundamentais da vida. As flores para o ratinho Algernon são a visão simbólica de que somos mais do que mentes e corpos. Nós somos humanos, sentimentos. Nós prescindimos a matéria, somos essência e sentimentos. Somos busca; essência desses valores humanos.