Resenhas - Cascas

Ju 17/04/2020

Coisas chãs
Revisitação de Didi-Huberman ao trabalho iniciado em "Imagens apesar de tudo", numa volta ao espaço físico de Birkenau, onde realizaram-se quatro fotos na zona do crematório como um sinal luminoso de resistência. Reflete sobre o abatimento particular perante a história que o fez baixar a cabeça e escavar as coisas chãs. Em português, a primeira tradução de "chã" seria "planície, terreno plano, ou área extensa sem desníveis", mas acredito que essa não tenha sido sua intenção, senão dar às imagens da história sobrevivente, a qualidade do chão, dilacerado em fissuras.

Paula 15/04/2019

Um soco poético
"Logo, nunca poderemos dizer: não há nada para ver, não há mais nada para ver. Para saber desconfiar do que vemos, devemos saber mais, ver, apesar de tudo. Apesar da destruição, da supressão de todas as coisas. Convém olhar como um arqueólogo. E é através de um olhar desse tipo - de uma interrogação desse tipo - que vemos que as coisas começam a nos olhar a partir de seus espaços soterrados e tempos esboroados." (p.61)

mateuspy 07/06/2020

Bétulas
Como, me pergunto como Didi-Huberman conseguiu, partindo das cascas da bétula, uma leitura tão profunda, bela, acessível e dura sobre o holocausto? Simplesmente não consegui largar o livro enquanto a leitura não acabava. Me impressiono com a brevidade do texto e com a grandiosidade do impacto do texto. Apaixonado soa estranhamente romântico para um livro que possui uma temática tão brutal, porém posso afirmar que estou apaixonado pelo trabalho que Didi-Huberman criou de sua visita ao museu de Auschwitz-Birkenau.

Peu 17/11/2021

Tô impressionado pelo quanto esse livro me surpreendeu!!! Por ser uma obra bem breve, eu imaginava que fosse algo rápido, apenas com análises das fotografias relacionadas com a Segunda Guerra e etc. Mas aqui, a gente abre a mente pra tantos pontos de vista, tantos pensamentos, tantas formas incríveis de se analisar uma fotografia (e como ela pode se tornar um ato político, e não só uma representação) e até mesmo a maneira como olhamos para o espaço, ali, dos campos de concentração nazistas.

Eu adoreeei as notas de referência dessa edição!! Elas dão um contexto e um sentido bem mais profundo à narrativa, e a entrevista feita ao autor, na última parte do livro, agregou muito na leitura, reforçando questionamentos já feitos anteriormente.

Achei um trabalho impecável do autor, e fico muito, muito surpreendido na forma dele de pensar e extrair de coisas simples, como cascas de árvores, uma ideia muito mais abrangente do que possamos imaginar; muito mais complexa, e que se pode ter uma mensagem ali, como se a gente lesse algo jamais escrito.

Só me perdia um pouco nas partes em que Georges Didi-Huberman elaborava demais um pensamento, me fazendo voltar algumas linhas pra entender melhor o que ele tava querendo dizer (apesar de ser essencial pra narrativa essa desenvoltura). Mas recomendo fortemente esse livro pra quem gosta de fotografia e/ou livros de não-ficção sobre o Holocausto.

Aninha Queiroz 03/12/2022

"A arte da memória é uma arte épica e rapsódica"
A obra "Cascas" trata-se da narração verbal e não verbal do filósofo Didi-Huberman acerca da sua viajem à Auschwitz-Birkenau. Através de um ensaio labiríntico somos apresentados a uma visão extremamente memorialista, social, filosófica e política acerca de como um espaço cultural se constitui. A remodelação de lugares de barbárie para lugares de cultura traz o questionamento a cerca da veracidade que a identidade e a memória coletiva estãosendo representadas. Qual seria a necessidade de reconstuir esteticamente esses ambientes? Na visão do filósofo a destruição seres não significam que eles foram para outro lugar. Através de suas fotografias e pensamentos Didi-Huberman transcende a superficialidade dos objetos visuais como única forma de preservação da arte da memória e traz nas cascas de bétulas, murros, estradas e lagos o povo que sofreu com Holocausto. O livro é complexo e brinca com o sentido metafísico de conceitos tidos como verdades mas que são pouco explorados por nós. Como experiência pessoal achei muito interessante a forma com que o autor explora o espaço, a história e os sentimentos (individuais e coletivos).

Nathinha 02/07/2023

"A destruição dos seres não significa que eles foram para outro lugar. Eles estão aqui, decerto: aqui, nas flores dos campos, aqui, na seiva das bétulas, aqui neste pequeno lago onde repousam as cinzas de milhares de mortos. [...]" ?

lia 03/11/2022

é livro da escola
apesar de ser bem curtinho, eu gostei. eu gosto muito desses assuntos sobre a segunda guerra então foi bem interessante pra mim :)