Resenhas - Um anedota infame

MF (Blog Terminei de Ler) 28/07/2019

A elite que busca falsamente defender o povo, com resultados constrangedores
Terminei a leitura do livro "Uma anedota infame" do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Trata-se de uma novela escrita em meados de 1862, período em que ocorria a chamada Reforma Emancipadora no então Império Russo, iniciada no ano anterior, pelo Imperador Alexandre II. Foi uma das várias reformas feitas pelo monarca. A principal ação tomada foi a decretação do fim da servidão (escravidão) dos camponeses. O número de libertados foi em torno de 22,5 milhões de servos camponeses. O irônico disso é que a propriedade dos latifúndios foi mantida, preservando a riqueza construída com escravidão nas mãos da elite da época.

Essa questão da Reforma Emancipadora influenciou diretamente na formulação do texto. Na Obra, Dostoiévski conta a história de Ivan Ilítch Pralínski, um general e funcionário público, tido como liberal pelos colegas, que ostenta com orgulho uma condecoração no pescoço, e que sonha em se tornar um grande estadista. Durante uma noite de confraternização com dois amigos, regrada com muito álcool, discutindo sobre política, apresenta a eles sua filosofia baseada na "bondade" para com pessoas de status mais baixos que o seu. A ideia não empolga os amigos, o que lhe ofende. Ao ir embora, percebe que seu mordomo não está lhe esperando com a carruagem (tinha ido a uma festa). Resolve, então, seguir sozinho pelas ruas, bêbado. No caminho, depara-se com uma festa de casamento de um de seus subordinados e, como forma de comprovar sua filosofia, resolve entrar na confraternização, sem ser convidado, e "honrar as pessoas com sua presença". Entretanto, uma espiral de constrangimentos tem início...

O constrangimento não se dá apenas no ato de invadir uma confraternização sem ser convidado. O verdadeiro constrangimento está no fato de Pralínski, mesmo querendo interagir com as pessoas, em nome de sua filosofia, despreza completamente todas elas, considerando-as incultas, grosseiras, bem abaixo de seu status como militar e como integrante do governo.

Em essência, era esse o clima no Império Russo. A Reforma, de cunho liberal, trazia o espírito da mudança, com o fim da escravidão, beneficiando as camadas mais pobres. Contudo, ao não eliminar o latifúndio, as elites mantiveram seu poder. Na prática, os camponeses russos continuaram pobres, numa liberdade ilusória.

O texto da obra apresenta uma boa dose de ironia, de sarcasmo. Há um clima de falsa leveza, inspirada pelas cenas constrangedoras pelas quais Pralínski passa, mas o fundamento é cruel. Afinal, seja no Império Russo ou em qualquer outro local do planeta, ao longo da História, ao mesmo tempo em que os governantes fingem ajudar o povo, eles o esmagam. Não há conciliação visível. E, provavelmente, não deve haver. Leitura recomendada!

site: https://mftermineideler.wordpress.com/2019/07/31/uma-anedota-infame-fiodor-dostoievski/

Biblioteca da Pry 07/09/2020

Quando a sua posição social se torna sua maior fraqueza, tentar diminuir o outro se torna sua maior necessidade.


Dostoiévski, na maioria das suas obras, faz críticas severas a sociedade russa da época.


Nessa novela, ele apresenta alguns personagens interessantes, e em sua maioria da mesma área do serviço público militar.

Seu personagem principal - Ivan Ilítch Pralínski, general e alto funcionário público, procura mostrar ao seu subordinado e familiares o quanto é superior e tenta constrange-los, mas parece que não é o que consegue.

Com a imagem de um liberal, acredita que não é agredindo seus escravos que os recrimina, mas usando da oratória, assim atingiria melhor seu objetivo.

Entrar num casamento de um subordinado seria para dar a sua bondosa presença social, mas o que acontece não estava planejado!

Esta novela traz uma falsa leveza, diferente das suas grandes obras e sarcasticamente revela a visão de mundo de Dostoiévski: o ser humano apoia seu semelhante ao mesmo tempo em que o esmaga cruelmente.

cat lohn 23/01/2022

Clássico
Eu amo literatura russa, principalmente pelo caráter meio cru que ela tem.

O livro é, intrinsicamente, de aspecto político. Ou seja, faz uma crítica ao cenário político. Na narrativa, Ivan Ilítch acha que, para ajudar as classes mais baixas ascenderem socialmente, bastava que os de classe mais alta começassem a frequentar os mesmos espaços que estes. Mas, o que acontece é o contrário: em vez de serem ?elevados? os de classe mais baixa, eles rebaixam o de classe mais alta. Ou seja, o problema da sociedade estaria tão fundo e emaranhado que um simples ato de ?humanidade? não seria capaz de resolver as questões sociais.

Além disso, acredito que ele tenha jogado uma crítica àqueles que se acham bons de mais. Àqueles que acham que são os maiorais, capazes de resolver o problema dos outros sem nem nunca ter estado na mesma situação ? como foi Ivan.

julia boni 19/11/2022

dostoievski sempre certeiro
a elite eh uma merda. a humanidade q pralinski defende & sua prática eh claramente vivíssima até hoje na sociedade

Jorge.Antosko 25/04/2023

Divertido!
Amei esse conto. É o livro onde eu mais ri enquanto lia. Extremamente divertido e com uma crítica social fantástica por trás.

Vanessa Golla 30/11/2023

Invasão e constrangimento
Um General que se considera liberal se encontra com dois amigos e bebe além do costume. Após ir embora, bêbado, andando pelas ruas, entra sem ser convidado no casamento de um subordinado, imaginando que sua presença honraria as pessoas presentes na confraternização...
Recomendo.

Nanda Nogueira 10/02/2024

O ápice da Autopromoção.
Após vomitar suas ideologias com os seus colegas de trabalho, Ivan Ilítch Pranlínski decide colocá-las em prática para total infortúnio de seu subordinado Pseldonímov. O dia escolhido para tal não poderia ser mais inadequado: o casamento de seu subordinado.
Causando repletos dissabores e constrangimentos, Ivan Ilítch faz bom uso do termo utilizado no título ao se consagrar um verdadeiro Infame.

"O ser humano apoia seu semelhante ao mesmo tempo em que o esmaga cruelmente."

Nat López 02/04/2024

Uma anedota infame ?
Uma novela INCRIVEL de
Dostoiévski! Uma sátira ao humanitarismo fingido da elite, que busca apenas popularidade em suas
"ações benevolentes" voltadas as "classes inferiores", mostrando que nelas não há nenhuma benignidade apenas interesse. (Os Czares deviam ter fundamentos meritocráticos tipo os quadros do caldeirão do huck kkkk.)

O mais interessante dessa novela é que ao transmitir as sensações de constrangimento de Ivan llítch, Dostô envolve MUITO o leitor. (Pelo menos eu me senti muito envolvida e senti a real vergonha alheia.).

Ivan Ilitch é um general, um "herói" da elite (Contém sarcasmo.), um funcionário público de alto cargo, que premedita cada palavra e atitude para encantar pessoas de classe inferior a dele, sem perceber as hipocrisias que comete. Desgracioso, sempre super estimando sua inteligência, prepotente e sem nenhuma consciência de classe, comete as maiores gafes possíveis no casamento de um subordinado.

Os convidados da festa conseguem perceber todas essas circunstâncias e a dissimulação de Ivan Ilítch.
Em resposta embebedam e implicam tanto com o general o que leva Ivan Ilítch a ter reações embaraçosas. Além de uma ressaca de vodka, ele tem também uma ressaca moral enorme, que o faz desistir da sua ideia de se misturar com "pessoas inferiores."

Dostoiévski mais uma vez faz uma crítica a monarquia absolutista da época e mostra sua inclinação para a luta de classes, pauta que se mostra ainda atual e deixa o leitor criar analogias com a política e a sociedade da época em que está lendo.

Além do que, ele consegue exprimir sentimentos de maneira única, o que me fascina e me faz cada vez mais me encantar pelo tipo de escrita do autor.

Vale demais a leitura! ?

Mlluna 24/05/2024

Uma leitura rápida porém muito interessante, divertida e espirituosa. Senti-me extremamente envolvida na história e não pude deixar de me afeiçoar aos personagens, à medida em que a situação ia se agravando. Muito bom.