spoiler visualizarLizandra 05/01/2013
Li esse ivro em 2008. Essa resenha é dessa época.
Chris Anderson é editor-chefe da revista Wired www.wired.com e o livro A Cauda Longa é resultado de seus estudos sobre o mercado e a cultura de nicho, alavancados principalmente pelas possibilidades oferecidas pela internet.
Lançado em 2006 o livro é resultado de dois anos de pesquisas e entrevistas realizadas pelo autor e traz estudos de casos de empresas e empreendimentos na internet, como exemplos da Cauda Longa e da nova maneira de fazer negócio depois do advento e popularização da internet e suas ferramentas. Somente agora tive a oportunidade de ler esta obra e comento alguns pontos principais a seguir.
Os novos mercados
A transformação do mercado, antes focado no campeão de vendas, é o propulsor da pesquisa de Anderson. Interessante notar que, aqui no Brasil, esse mercado se transforme tão lentamente. Muitas práticas citadas pelo autor estão se fazendo presentes aqui no Brasil somente agora.
Como nos conta Anderson, o novo mercado é marcado pela diversidade, pelas quase infinitas possibilidades proporcionadas pelo simples fato de o estoque não estar limitado pelo espaço físico.
O autor não se refere apenas à internet - embora a coloque como o máximo dessa tendência - quando fala do novo mercado: a TV por assinatura também possibilitou uma ampliação considerável no leque de opções do telespectador. Os canais de televisão estão cada vez mais específicos: as grades de programação incluem, hoje, programas que há duas décadas seriam impensáveis, pelo simples fato de não agradar a grande maioria. A escassez de canais fazia com que somente programas com alto potencial de audiência fossem exibidos.
A internet e os avanços na área permitiram oferecer aquele produto que venderá pouquíssimas unidades e que antes era completamente descartado, pois representava um prejuízo tê-lo em estoque. O estoque virtual coloca esse produto pouco procurado ao lado do 'best seller'.
Além do novo mercado, Anderson enfatiza os novos produtores: qualquer um sentado em frente a um computador em sua casa pode ser um produtor de conteúdo. O que leva à questão da divulgação... Com propriedade, Chris Anderson afirma: "As formigas têm megafones": "Para uma geração de clientes acostumados a fazer suas pesquisas de compra por meio de softwares de busca, a marca de uma empresa não é o que a empresa diz que é, mas o que o Google diz que é. Os novos formadores de preferência somos nós." (p. 97)
Os filtros
Uma questão importante nesse novo mercado, nos alerta o autor, é que se por um lado a grande oferta traz inúmeras possibilidades e produtos, também serão inúmeras as chances de o consumidor se deparar com produtos que não lhe interessam. É aí que entram em cena os filtros.
O novo mercado precisa de ferramentas que permitam ao consumidor encontrar exatamente aquilo que procura e, de quebra, achar produtos semelhantes que também possam ser de seu interesse.
No modelo antigo de mercado, marcado pela escassez, o caçador de talentos era o filtro, ou melhor, um pré-filtro. Era ele - ou o gerente de compras ou, ainda, um departamento específico para tal tarefa - o responsável por selecionar os produtos a serem exibidos/oferecidos ao público em geral.
Atualmente os filtros têm como objetivo direcionar o consumidor, mas sua escolha deixou de ser passiva para ser ativa: ele não apenas recebe essa pré-seleção, ele ajuda a criá-la, por meio de recomendações, de seu perfil tornado público na internet ou quando interage com outros usuários, participa de fóruns, posta em seu blog, faz comentários em blogs/sites de terceiros. O consumidor ativa e desenvolve o filtro.
Antes se tentava prever o comportamento do consumidor (o que poderá agradar o público?) e agora se reforça seu comportamento (quais produtos chamaram a atenção dos consumidores e podem agradar os demais?). Ferramentas como o Digg, Del.icio.us e similares funcionam como esse pós-filtro, por exemplo.
Cultura de nicho
A cauda longa derruba a tirania do sucesso. A cultura de nicho é o oposto da cultura de hits (do 'best seller', o campeão de vendas). O nicho pode não atrair uma grande número de consumidores (fãs, entusiastas), mas uma grande variedade de nichos é capaz de - somados - superar o número de consumidores de um hit.
Entusiasta da cultura de nicho, Anderson avalia os perigos e as possibilidades que essa nova característica do mercado apresenta. Sua conclusão é que "A cultura de massa pode desaparecer, mas a cultura compartilhada perdurará. Nossa cultura continuará tendo algo em comum com a de outras pessoas, mas não com a de todo mundo." (p. 190)
O autor dedica um capítulo para falar da TV e aponta para uma tendência que envolve a duração dos programas. O tempo de duração dos programas sempre foi definido com base em uma grade fixa de programação e, ainda, de acordo com horários, audiência e anunciantes. Desde a TV a cabo, o pay-per-view, o vídeo cassete, as pessoas podem fazer sua própria programação. A tendência é que os programas de duração média não existam mais: o autor acredita que haverá programas curtos - com potencial de atingir um público bastante variado - e programas de longa duração - que serão vistos por um público bem menor, o público de nicho.
A Cauda Longa para além do entretenimento
Empresas como Google, Lego e Ebay são analisadas em um capítulo dedicado à Cauda Longa em outros setores que não o entretenimento. O autor analisa a aplicação de suas descobertas a partir dos dados dessas empresas e da maneira como elas utilizaram os nichos para diversificar suas vendas e atender a um público que nem era considerado demandante.
A Cauda Longa é um ótimo livro sobre o impacto causado pelas novas tecnologias no mercado, quase um guia de marketing e vendas. Aliás, há um capítulo que se chama "Regras da Cauda Longa" que funciona como um guia mesmo. Embora focado no mercado e nos negócios, o livro também faz, indiretamente, uma análise sobre o comportamento humano na era da internet. Mais sobre o autor e a Teoria da Cauda Longa pode ser encontrado em www.thelongtail.com.