Tamirez | @resenhandosonhos 02/08/2018O Labirinto dos EspíritosEu, sinceramente, não sei nem por onde começar essa resenha. Se eu me recordo bem, a primeira vez que eu li A Sombra do Vento eu tinha apenas 13 anos. De lá pra cá já se passaram quase 15 anos e mais duas leituras. Até bem pouco tempo atrás eu estava contentada em finalizar a história em O Prisioneiro do Céu, mas meu coração deu um grande salto quando O Labirinto dos Espíritos foi anunciado. Essa é uma das histórias da minha vida, que pra sempre, seguindo leitora ou não, eu vou mencionar e recomendar.
A história dos Sempere sempre conversou muito comigo, Daniel sempre foi um dos meus personagem favoritos e eu simplesmente não visualizava Zafón entregando uma história que superasse a do primeiro volume. Eis que eu estava enormemente enganada. Mesmo sendo o primeiro ainda o meu favorito, O Labirinto dos Espíritos é, sem dúvidas, o melhor livro da série e, ao meu ver também, do autor.
“A maioria dos mortais nunca chega a conhecer seu verdadeiro destino; simplesmente, somos atropelados por ele. Quando levantamos a cabeça e o vemos se afastar pela estrada já é tarde demais e temos que trilhar o resto do caminho pela valeta daquilo que os sonhadores chamam de maturidade.”
Se você está lendo essa resenha eu presumo que já tenha lido os demais volumes e saiba que há uma gama grande de personagens e teias que foram desenvolvidas nos outros livros. Aqui, o que o autor faz é costurar absolutamente todos esses personagens em algo só. Mesmo eu, que a pouco tinha feito a releitura, tive que puxar da memória algumas pessoas, porque tudo está incrivelmente conectado e de forma muito sagaz.
Quando eu li a sinopse pela primeira vez não fiquei contente em ter uma nova “protagonista” em cena, e confesso ter começado a leitura de pé atrás. Porém, logo após os primeiros momentos, já foi fácil entender porque ela está ali. Não é apenas uma inserção nova, há uma conexão forte, como sempre há. Além disso, mesmo sendo uma pessoa fechada e com seus altos e baixos, é alguém por quem conseguimos sentir e se relacionar. Ela tem problemas, sente dor, é atormentada, ao mesmo tempo em que é inteligente e destemida. Há vários momentos em que temi por ela e isso fez com que eu visualizasse o quanto já havia me afeiçoado à personagem.
“Uma história não tem princípio nem fim, só portas de entrada.”
Daniel também tem seus momentos e é incrível ver o quanto ele está diferente do menininho que foi pego pela mão pelo pai e levado ao Cemitério dos Livros Esquecidos há vários anos atrás. Nós, leitores, o vemos crescer, não só pela contagem de tempo, mas pelo amadurecimento de sua jornada, pelos tormentos e lembranças que ficaram marcados em sua alma, por tudo o que ele passou e o que ainda está por vir.
Uma das coisas que mais me conecta com a obra de Zafón é que suas narrativas são verdadeiras, suas criações são reais, palpáveis. Não há um único final feliz, porque a vida não é verdadeiramente feita deles. A gente vence um dia de cada vez sem perder as marcas do que já nos feriu, sem esquecer as lições do passado, sem ignorar que já vivemos um longo tempo e que aprendemos mais e mais em cada momento. Daniel pode não ser mais o menino inocente a quem eu fui apresentada no princípio de tudo, porém também não sou a Tamirez de 13 anos que o conheceu.
E, novamente diferente dos outros livros dele, o que temos aqui é outro jeito de contar essa trama. Enquanto A Sombra do Vento é sombrio, O Jogo do Anjo melancólico e triste, O Prisioneiro do Céu uma jornada com pitadas de humor, O Labitinto dos Espíritos é uma aventura investigativa realmente pelos olhos de alguém que vive de analisar pistas. E eu preciso dizer que também acho incrível? O quanto cada pedacinho dessa história passa por estilos diferentes e confere ao leitor sensações diferentes. E, também diferente dos outros, que reza a lenda, podem ser lidos separadamente, eu não recomendo de forma alguma que você pegue esse último sem ter passado pelos três anteriores.
“Meu nome é Isabella Gispert e nasci em Barcelona no ano de 1917. Tenho vinte e dois anos e sei que nunca vou completar vinte e três.”
Esse é um livro sobre a verdade. O que realmente aconteceu com cada uma das pessoas que amamos acompanhar. Qual a história de Isabella, sua ligação com David, os mistérios da família Sempere, os elos com os escritores malditos, o valor do cemitério dos livros esquecidos, o desaparecido Mauricio Valls, o irreverente Fermin, nosso adorado Julian Carax e o novo e pequeno Julian Sempere. Alias, esse último, que especial o que Zafón fez aqui. Se a história como um todo em sua magnitude não fosse o bastante, fomos presenteadas com as últimas dezenas de páginas com as quais eu chorei copiosamente, pelo peso e pela tristeza de me despedir, dessa vez de forma permanente. Que especial ver o quanto a mente desse autor deu voltas e voltas pra nos entregar algo lindo, emocionante e amarrado em cada ponta. Todos os nós foram desfeitos, todas as cartas estão na mesa e, junto com elas, o peso que cada uma representa sobre os personagens. Como eu disse, Carlos Ruiz Zafón não é conhecido por seus finais felizes, mas certamente ele sabe criar bem aqueles que ficam marcados na memória.
Foi uma jornada incrível! E eu sei que mesmo dando tchau agora, daqui a alguns anos vou voltar e reler tudo de novo e mais uma vez. Essa série de livros é preciosa demais pra mim pra ficar esquecida na estante. E eu, sinceramente espero que eu tenha convertido algumas pessoinhas em direção a esses livros desde que voltei a falar sobre eles. Porque compartilhar livros incríveis é algo muito especial.
O Labirinto dos Espíritos encerra a série do Cemitério dos Livros Esquecidos de forma maestral e deixa um vazio enorme no meu coração de leitora. Porém, valeu cada minuto passado junto a esses livros, compartilhando um pouquinho da vida com esses personagens. Espero que a jornada tenha sido bela pra vocês também .
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