Larissa 02/08/2020estou pensando em como descrever minha relação com esse livro e ainda não sei exatamente a resposta.
desde o início da leitura vi pequenas luzes de alerta se acendendo e, infelizmente, ignorei todas em nome da ideia de ler um livro sobre lésbicas escrito por uma mulher lésbica. mas os sinais estavam lá (e agora vou falar várias palavras já desgastadas e sem cor, mas que acho que cabem aqui): romantização da lesbianidade, fetichização do sexo entre mulheres, normalização da toxicidade nos relacionamentos.
segui lendo porque queria acreditar que isso seria colocado em perspectiva crítica, mas não foi bem o que aconteceu. embora a autora teça algumas críticas à forma como a protagonista se relacionava com suas parceiras, isso se dá de forma rasa, moralista, arrogante e, a partir de certo ponto, descambando para a autoajuda. esse processo, inclusive, é constrangedor.
são páginas e mais páginas de personagens-guru falando sem parar, sem qualquer simulação da realidade de um diálogo, e a verdade é que isso mata o livro. a história em si teria potência pra ser interessante, fazer o leitor mergulhar nas camadas por trás das ações da protagonista e fazer, ele mesmo, aquela leitura das situações apresentadas. mas, ao nos pegar pela mão feito crianças que não sabem observar as camadas do texto, ao esmiuçar verbalmente cada processo e raciocínio da protagonista, qualquer possibilidade de experiência literária morre.
a sensação é de ler, na melhor das hipóteses, uma matéria de revista meia-boca voltada para mulheres da classe média alta paulistana em busca de amor próprio ? uma busca válida, óbvio, mas que não cabe num livro que se vende como literatura.