spoiler visualizarmasters 07/02/2023
falei, falei, e nem cheguei perto do que senti
Isso não é uma resenha. Esse livro me fez sentir tantas coisas que, provavelmente, será mais uma opinião+desabafo.
Antes de toda e qualquer crítica, eu gostaria de agradecer a minha queridíssima amiga Mirror por ter feito essa recomendação. Esse livro me tocou de um jeito íntimo, porque, bem?não teria como ser diferente. Vou tentar não ficar resumindo o que acontece nele, afinal, a sinopse está aí para isso. Vou falar da minha experiência pessoal a partir dos personagens, o que eu senti lendo (e eu senti muita coisa).
O capítulo do Simon me deixou extremamente angustiada e incomodada. Primeiro, porque ele não expressava as opiniões dele, estava sempre ouvindo calado e a gente percebia que ele estava triste com isso. A resignação com o modo como viveria a vida estava me deixando deprimida. Depois, isso virou 180 graus. De resignado, ele passou a ser impulsivo, e isso também me deixou angustiada. Ele era muito imediatista e, obviamente, isso tinha a ver com a data da morte dele, mas ainda assim foi muito difícil de ler. Aqui, estou me referindo mais à idade dele e às coisas que ele precisou fazer para morar fora, se bancar em outra cidade. A exposição, alguns relacionamentos, etc. Ele era um adolescente e tanta exposição assim? Enfim, outros tempos, mas me deixou incomodada porque isso existiu, existe e eu só queria que nem todo mundo precisasse sofrer tanto assim. Simon viveu, viveu mesmo, e morreu.
E aí veio o capítulo da Klara. Ninguém esperava nada dela, nem mesmo a mãe. A Klara gostava de magia e isso nunca mudou nela. Foi uma criança imaginativa, cresceu uma adulta imaginativa. A Klara queria conquistar o mundo, queria a sensação, o reconhecimento, o espanto das pessoas. Ela queria o palco e o público, e estava disposta a tentar, mesmo que precisasse passar por adversidades para chegar lá. Nesse sentido, ela não era muito diferente do Simon, então, é claro, o que ela enfrentou pra chegar lá também me deixou angustiada, mas não incomodada, porque ela era mais velha.
A Klara sempre, sempre soube o que quis e ela não tinha medo nenhum de arriscar. Isso é muito admirável. Também é um tapa na cara. O ímpeto que ela tem?eu sinto isso, muitas vezes. Essa vontade de ser mais, querer mais, precisar da magia, do palco, do público. Precisar ser mais.
Ela foi tão corajosa. Lutou pelo caminho dela de verdade, como poucas pessoas têm coragem de fazer. Eu, certamente, não tenho. Ela arriscava. Minha queridíssima Klara.
Aqui, eu entro um pouco na questão das mortes, porque a fortune teller bate um pouco na questão das bruxas de Macbeth: ele teria sido rei se elas não tivessem interferido? Ele agiria como agiu sem a profecia ou o fato delas terem falado aquilo fez com que ele fizesse acontecer? É uma questão que permeia a peça inteira, porque não há como saber até que ponto foi o destino e até que ponto não foi.
O Simon realmente teria morrido aos 20 anos se ele não tivesse ido à São Francisco? Teria sido diferente se ele tivesse ficado em casa? Porque poderia ter sido. Ou não. A gente não sabe, e a Klara, que poderia saber, não aguentaria o peso da verdade. A morte dela sendo suicídio foi algo que me quebrou, porque ela não conseguiu viver para saber a resposta. Se ela não morresse, não era o destino. Se não era o destino, então ela foi a responsável por levar o irmão pra São Francisco, onde ele morreu. E foi isso, né? Pra ela, >só< poderia ser destino, e se essa era a única opção, ela precisava morrer no dia predito. Foi devastador.
O capítulo do Danny foi um dos meus preferidos porque ele seguiu uma carreira confortável e não ficou nas ruas muito tempo. God knows we needed a little comfort before the chaos again. Pra ele, saber que a fortune teller era (potencialmente) uma scammer foi brutal. Ver o histórico de suicídios significava que a Klara era uma estatística; alguém que caiu em um golpe. Cacete, sabe. Eles eram crianças. Fizeram uma coisa errada, na época errada, e isso MUDOU o caminho de todos eles. É muito cruel pagar a vida toda por um erro inofensivo (que talvez nem tenha sido um erro!).
É irrelevante saber se a mulher estava certa ou errada, porque, pro Danny, ela estava errada, e isso foi o suficiente pra ele se envolver em uma situação que ? alas ? o matou, no dia em que ele realmente ?deveria? morrer. Novamente, não tem como saber se foi o destino ou não, já que tudo é muito causal.
O capítulo da Varya foi extremamente pessoal. Quem não aprende a morrer, não aprende a viver. And she lever never truly learned how to die. Ela, já não tão nova, foi a que mais envelheceu e a que menos viveu. Tanto medo?
Deve devastador ser a irmã que fica, de todos que vão. Principalmente quando você é a medrosa. Quando você tem medo de perder. Quando você quer ir primeiro.
A sina de quem quer controlar o mundo é lidar com a morte: a única coisa que a gente não controla e nunca vai controlar, não importa o quão avançada seja a ciência. Expandir a vida não é impedir o perecimento humano, e a existência da Varya é prova de que quantidade não é sinônimo de qualidade.
Cara, que mulher infeliz. Temo ser assim no futuro. Às vezes, eu acho que eu vou ser a que vai ficar, como punição por ser tão medrosa e não viver direito. Espero que não.
Tenho mais coisas pra falar, mas pensar muito nesse livro me deixa cansada. É difícil opinar sem expor muito. É difícil não vocalizar, então, surpreendentemente, não direi mais nada. Pelo menos, não aqui.
É isso!