Em Busca de Espinosa

Em Busca de Espinosa António Damásio




Resenhas - Em Busca de Espinosa


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Antonio Luiz 17/03/2010

A virtude da carne
"Em busca de Espinosa", do neurologista português António Damásio, é uma seqüência de O Erro de Descartes (Cia. das Letras, 1996), pois vai ao encontro do filósofo que mais lutou contra aquele “erro” – a oposição metafísica entre espírito e matéria, razão e emoção, que é bem representada pelo filósofo do “penso, logo existo”, apesar de ter sido cometido pela maior parte do pensamento ocidental desde Platão.

Desde a primeira obra, Damásio procura mostrar que, longe de ser um empecilho a decisões sensatas – como essa tradição nos leva a crer –, a emoção é indispensável. Descreve pacientes com danos nos lobos pré-frontais do cérebro, que não tiveram sua inteligência afetada, mas perderam a capacidade de reagir emocionalmente a situações concretas. Tomam decisões financeiras e comerciais sistematicamente desastradas e não conseguem manter um trabalho ou um relacionamento estável.

O resultado pode ser um sociopata indiferente às conseqüências do que faz, inclusive para si próprio – como parece ser o caso de uma jovem citada no livro mais recente, que um traumatismo craniano na primeira infância privou dos sentimentos de simpatia, embaraço e culpa e da capacidade de aprender regras e convenções.

Nos melhores casos, o resultado é patético, como um paciente citado no livro anterior, que sofreu um traumatismo em idade mais avançada. Quando damásio pediu-lhe que escolhesse entre duas datas, com poucos dias de diferença, para uma próxima sessão, puxou a agenda e passou meia hora a enumerar prós e contras de cada alternativa e a comparar custos e benefícios das diferentes opções até o médico cansar-se e mandá-lo vir na segunda data. Tornou-se uma caricatura do homem econômico racional da teoria neoclássica, tentando obter o máximo de utilidade dos recursos que possui de forma fria e sistemática.

O novo livro vai além e explica, a partir de novas observações e descobertas, como o mapeamento dos estados do corpo pelo sistema nervoso se traduz em emoções (o medo, por exemplo, é a sensação da reação do corpo a um perigo) e como a associação de emoções à percepção de suas causas resulta em sentimentos que permitem distinguir o certo do errado e decidir com sensatez.

Esta investigação o levou a redescobrir um grande filósofo na contracorrente da tradição ocidental – Espinosa, que afirmou que corpo e alma são exatamente a mesma coisa, tanto quanto Natureza e Deus. Foi marginalizado por sua comunidade judaica de origem e pela maioria dos pensadores dos séculos seguintes por suas opiniões heréticas, mas capazes de articular fisiologia, psicologia, lógica e política em uma Ética realista e coerente.

Espinosa antecipou Freud e a neurologia moderna, segundo Damásio, ao procurar as causas das emoções e de seus mecanismos de ação como fundamento da busca da felicidade ou alegria, que definia como o estado de funcionamento ótimo do organismo que resulta da aplicação eficaz do esforço de preservar e prevalecer, relativo tanto ao nosso corpo quanto aos outros dos quais necessitamos. E da paz de espírito, beatitude ou salvação, definida como intuição da união orgânica de tudo que existe em um Deus que é exatamente o mesmo que a Natureza.

Para Damásio, como para Espinosa, esse reconhecimento de que sob toda regra que um ser humano possa seguir há um organismo vivo, capaz de conhecer a si mesmo e com uma tendência natural a preservar sua vida, é necessário não só à saúde psíquica individual como também a uma sociedade viável.

Ignorar esse fato é imitar um processo patológico de decisão – e não é à toa que políticos e economistas – tanto liberais quanto marxistas –, ao se esforçar por menosprezar, numa espécie de lobotomia auto-imposta, reações emocionais totalmente normais e saudáveis às recomendações decorrentes de suas teorias friamente calculadas, podem causar mais dano à humanidade que o mais impiedoso dos assassinos seriais. Decidir com sensatez implica unir pensamento e sentimento no que costuma ser chamado de sabedoria.

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Biblioteca Álvaro Guerra 09/01/2020

Tão revolucionárias para a sua época eram as idéias do filósofo judeu holandês Baruch Espinosa (1632-77) que ele foi excomungado e teve suas obras proibidas por décadas. Hoje, é reconhecido como um dos pilares do pensamento ocidental. O neurologista António Damásio, estudante de Espinosa na juventude, descobriu que as idéias desse pensador sobre um dos grandes temas da filosofia e da ciência - a questão da unidade entre mente e corpo - eram muito próximas daquelas da mais avançada neurociência. Damásio constatou, surpreso e fascinado, que Espinosa já intuíra que mente e corpo eram manifestações de uma mesma substância e que os sentimentos constituíam o alicerce da mente. Em busca de Espinosa completa a série de livros de Damásio sobre o papel da emoção e dos sentimentos nas relações entre a mente e o corpo, trilogia formada também por O erro de Descartes e O mistério da consciência.

Empreste esse livro na biblioteca pública.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/8535904905
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