Queria Estar Lendo 26/07/2017
Resenha: Minha Lady Jane
Minha Lady Jane foi um dos livros mais hilários que já li. As autoras Cynthia Hand, Brodi Ashton e Jodi Meadows reconstruíram toda a história da lady Jane Grey com humor e irreverência, entregando uma obra que com certeza vai divertir todos os leitores.
Jane Grey foi rainha da Inglaterra por nove dias, então perdeu a cabeça. Pelo menos é isso que a História nos conta; mas esse livro vai além disso, e um pouco além do além. Minha Lady Jane fala sobre a trajetória de Jane, do esposo dela, Gê, e do rei Eduardo Tudor, e como as tramas políticas se entrelaçaram em uma Inglaterra reimaginada com magia e caça às criaturas mágicas - e, claro, muito bom humor.
"Será que iria desmaiar? Ou considerava aquilo clichê demais numa situação daquelas?"
Acho que a coisa mais marcante nessa obra foi o quanto me fez rir. Acho que nunca tinha me divertido tanto com uma história - a ponto de chorar de tanto gargalhar por causa de alguns trechos. Esse livro tem uma irreverência natural, sacadas geniais e tiradas impossíveis de acompanhar. O humor é sempre muito repentino e bem encaixado nas cenas; não tem nada de forçado ou pastelão, é simplesmente engraçado demais. As autoras conseguiram equilibrar as piadas com sacadas geniais a um nível Monty Python - inclusive trazendo muitas referências do mesmo para dentro da história.
É aquele tipo de humor inteligente que faz a risada valer a pena.
"Ela era rainha. A governante. A monarca. A soberana. A líder. A chefe de Estado. A cabeça da coisa toda. Aquela que usava as calças, como diz a expressão. A pessoa no comando. A patroa. A. Rainha. da. Inglaterra."
Temos três pontos de vista dentro da história, que foi dividida em duas partes. A primeira delas se mantém bastante fiel ao curso real da vida de Jane e dos outros personagens, e a segunda chuta o balde e diz "quer saber? Agora a gente vai fazer uma fanfic histórica mesmo". E é incrível exatamente por isso! As autoras contam sobre essas figuras como se as tivessem conhecido, como se tivessem participado de suas vidas e desventuras - e foram muitas, mas muitas desventuras.
"Ela pensava ter entendido a profundidade daquela emoção enquanto lia as páginas de seus amados volumes, com sua vida de certo modo tocando aquelas de homens e mulheres há muito falecidos. Ela tinha sentido muito por eles, tinha chorado por eles, tentado respirar mesmo quando eles não mais respiravam. E então podia fechar o livro, colocá-lo na estante, e as palavras ficavam ali, enclausuradas entre as capas de couro."
Jane começa a história descobrindo que precisa se casar. Seu marido, um completo desconhecido, também se prova um cavalo. Não no sentido rude da palavra, mas o animal de fato. Isso porque, nessa Inglaterra das autoras, a sociedade é dividade entre os verdádicos (humanos normais) e os edianos, pessoas que conseguem se transformar em animais. Glifford, ou Gê, como prefere ser chamado, é uma dessas pessoas. Todo dia, quando o sol nasce, ele sofre a transformação e se torna um cavalo - e volta a ser humano ao entardecer. É uma condição tida como maldição, mas que é muito bem explorada pela narrativa.
A convivência entre os dois é de birras e pontapés no início da trama, mas se desenvolve em um relacionamento interessante e bem construído na história. Jane é uma cabeça dura apaixonada por livros - ela já leu quase todas as obras possíveis e imagináveis - e Gê é um sujeito tímido que adora poesia e se esconde atrás de mentiras para não mostrar esse lado sensível. O casamento deles era para ser só mais um arranjo, mas tramas políticas acabam por colocá-los em perigo - a cabeça de Jane, principalmente.
Além desses dois pontos de vista, também acompanhamos o rei Eduardo Tudor, um jovem ingênuo marcado por uma doença incurável. Ao lado dele, suas irmãs Maria e Elizabeth e um conselheiro para lá de sinistro. A história do Eduardo se mantém entrelaçada à de Jane e de Gê, especialmente por ser ele a arranjar o casamento entre os dois, e depois acaba caindo em tramas paralelas muito interessantes, como o desenvolvimento das revoltas e das injustiças que os edianos vêm enfrentando com o passar dos anos. Além de entrar no caminho de Gracie, uma escocesa temperamental extremamente corajosa e desafiadora - inclusive para os padrões da época.
"Chá era o que ele estava para oferecer. Porque ele era inglês, e era isso o que os ingleses faziam quando estavam nervosos: tomavam chá."
A maneira com que as autoras trabalharam a personalidade da Maria - que a História conheceu como Maria Sangrenta por seu reinado sombrio e a caçada aos protestantes - foi uma releitura muito genial. Tudo foi bem elaborado dentro do universo reimaginado de Minha Lady Jane.
"Como mencionamos antes, havia sete pessoas na taverna, e agora seis delas tinham sacado algum tipo de arma."
Os personagens foram maravilhosos do início ao fim. Guiados por traições, acordos e fugas mirabolantes, cada um dos nomes citados recebeu bastante atenção da narrativa e teve seu tempo para se desenvolver. Jane e Gê foram meus favoritos por causa da relação entre eles, mas também por terem personalidades tão semelhantes e serem tão teimosos a ponto de não entenderem isso tão rapidamente.
E o humor, gente. Eu vou citar esse livro como o mais hilário que já li na minha vida até o fim dos tempos porque é isso e apenas isso. Eu queria ter tido as sacadas que as autoras tiveram. Toda piada veio no momento certo e contribuiu para deixar a trama mais leve; afinal de contas, temos "caça às bruxas", traições, tentativas de assassinato e todas aquelas coisas com as quais cortes reais nos acostumaram. Some isso ao humor peculiar da obra e você tem um livro incrível.
"Mas acredite: não somos narradores do tipo que matariam um cachorro."
Minha Lady Jane é volume único e fecha bem a história da personagem de mesmo nome. Mistura realidade e ficção com maestria e entrega um livro que vai te marcar pela dor nas bochechas de tanto rir.
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