Balada de amor ao vento

Balada de amor ao vento Paulina Chiziane




Resenhas - Balada de Amor ao Vento


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Ana Sá 19/08/2022

A semente de Niketche
ATUALIZAÇÃO: acabei de ver que a Companhia das Letras está lançando uma edição massa deste livro! :)

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"Balada de amor ao vento" (1990), romance de estreia da moçambicana Paulina Chiziane, anuncia com clareza a tríade que viria a marcar grande parte de sua obra: o ser mulher/ as relações de gênero, a poligamia e o colonialismo num Moçambique culturalmente diverso.

Sarnau conhece Mwando ainda jovem. A partir de então eles viverão um romance de encontros e desencontros não só amorosos, mas culturais e religiosos. Sarnau, de início, vai nos mostrar como é ser a primeira esposa num regime poligâmico que segue os preceitos locais. Já Mwando, ao se casar com uma mulher que não corresponde ao comportamento feminino esperado e imposto socialmente, nos apresenta os questionamentos identitários de um homem que tenta se situar num casamento fundado no patriarcalismo cristão. O que vem depois disso é spoiler, mas adianto que, num caso ou noutro, a narradora adverte: "com a poligamia, com a monogamia ou mesmo solitária, a vida da mulher é sempre dura".

No meio dessa sofrência, temos a escrita lírica de Chiziane, que neste livro, ainda mais do que em outros, retira das paisagens naturais de Moçambique inúmeras metáforas para falar da dor e da delícia de viver uma paixão intensa. Sabe aquela escrita amorosa composta por suspiros profundos na presença e por lamentações incessantes na ausência do ser amado? Então... Eu sei que há quem goste e há quem não goste desse estilo de escrita, mas o ponto é que já neste romance percebe-se a facilidade com que a autora desenha o interior dos personagens. Com Paulina, vemos, sentimos, cheiramos e tocamos os desejos e as angústias de suas protagonistas. Há quem se canse das lamúrias femininas que caracteriza sua obra, mas eu continuo a considerá-las, num todo, uma escolha acertada para revelar às leitoras a complexidade de mulheres que sofrem, sofrem, se submetem, se levantam, transgridem, sofrem de novo, se levantam de novo... Fragilidade e força caminhando lado a lado, de modo sutil.

Minha crítica negativa, que me levou a descontar uma estrela da nota final, fica por conta dos saltos narrativos do romance. Quase no meio da leitura, eu cheguei a pensar que daria 3.5 de nota, entretanto, mais uma vez, Paulina me presenteou com um desfecho mais do que satisfatório.

Eu continuo a recomendar o romance "Niketche" (2001) como porta de entrada para a obra da Paulina, mas vale a pena, depois disso, voltar no tempo e descobrir o caminho percorrido pela autora para chegar a seu romance mais aclamado.
Carolina.Gomes 19/08/2022minha estante
Já procurei e n achei.


Ana Sá 20/08/2022minha estante
Te mandei uma msg privada, Carolina :)


Ana Sá 02/12/2022minha estante
Carolina, o livro está em pré-venda pela Companhia... Agora a gente vai ter acesso fácil a ele ;)


Carolina.Gomes 02/12/2022minha estante
??????


Justi 04/12/2022minha estante
Quero ler




Edna 19/10/2021

Uma balada dolorosa
Um livro ñ precisa ser um calhamaço, nem tão pouco famoso para merecer uma classifucação de 5/5.

Essa balada entre encontros e desencontros e a fatalidade da cultura que absorve, maltrata, domina, escraviza os personagens mas o ponto dominante é o amor e o que estamos dispostos a fazer por ele.

Maravilhosamente dolorosa a jornada de Samau e Mwando relatados por essa Moçambiquenha Chiziane.
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Sens0 31/03/2023

Muito profundo
A história toda é linda e dolorosa, mais pensamentos de uma mulher vítima do local onde vive do que um romance.

Me lembrou muito um outro livro que amo e recomendo se você gostou desse: fique comigo - ayobami adebayo
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LetAcias 06/05/2024

"Cantei para ti baladas de amor ao vento."
"Balada de amor ao vento" conta a história da moçambicana Sarnau e de seu amado, Mwando, em um contexto de poligamia. Mesmo com tantos obstáculos, esse amor ainda pode prevalecer?
A autora, Paulina Chiziane, tem esse como seu primeiro livro. Porém, essa obra também é a primeira a ser publicada por uma mulher em Moçambique, o que representa um divisor de águas na literatura do país
O livro discute diversos tópicos importantes, como a marginalização da mulher moçambicana e as divergências culturais do país. Essas questões são abordadas de maneira uniforme durante a história, que é envolvente do início ao fim. O texto é fluido e possui poucas páginas, portanto, é possível lê-lo com tranquilidade em pouco tempo.
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Suely Cristina 24/12/2023

Sarnau e Mwando
Paulina Chiziane já está se ganhando um lugarzinho entre meus escritores favoritos. Eu já havia lido "Niketche: uma história de poligamia"
"Balada de amor ao vento" é o primeiro romance publicado por uma mulher em Moçambique e narra uma história de amor ao mesmo tempo tão singela e tão sofrida.
Adorei a narrativa em primeira pessoa, alternando-se entre os dois protagonistas. Contam tudo com uma linguagem simples, mas com muita sabedoria, revelando suas crenças: uma cultura tão miscigenada por causa do colonialismo.
Percebi referências às cantigas medievais de amigo e à literatura brasileira quando cita "a terra adubada com sangue", (Terras do sem-fim, de Jorge Amado).
Uma leitura muito necessária para entendermos melhor nossas raízes africanas, mitigando o preconceito.
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valmir 06/01/2024

Balada de amar ao vento
"- Sarnau, o lar é um pilão e a mulher o cereal. Como o milho serás amassada,triturada, torturada, para fazer a felicidade da família. Como o milho que suporta tudo, pois esse é o preço da tua honra." Pág 48

Seja na poligamia das tradições tribais, ou na monogamia imposta pelo cristianismo, a vida das mulheres é sufocada e violentada em nome da " tradição" ,"honra". Casamentos confunde-se com funerais.
Sarnau sonha, resiste. Sarnau ama.
Poética , linda, e dolorosa travessia.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 22/01/2023

Paulina Chiziane - Balada de amor ao vento
Editora Companhia das Letras - 176 Páginas - Capa e imagem de Angelo Abu - Lançamento: 2022.

Balada de amor ao vento, romance publicado originalmente em 1990, marcou a estreia da moçambicana Paulina Chiziane na literatura. Ela, que foi na época a primeira mulher a publicar um livro em Moçambique, também foi a primeira africana a ser distinguida com o Prêmio Camões em 2021. A obra da autora discute as dificuldades e desafios da condição feminina, sujeita aos aspectos políticos, culturais e religiosos da sociedade moçambicana, fortemente patriarcal, criticando a prática de poligamia no país. A descrição lírica da natureza está sempre presente, acompanhando e simbolizando os prazeres e frustrações dos personagens, construindo assim uma prosa poética que, de forma semelhante aos romances de seu conterrâneo Mia Couto, contrasta com a dura realidade de um país que foi devastado pela guerra de libertação e os conflitos civis posteriores à independência.

Nesta espécie de romance de formação feminino, a protagonista-narradora Sarnau relembra os encontros e desencontros amorosos de sua vida desde a adolescência na vila de Mambone, às margens do rio Save, onde conheceu o jovem Mwando – que estudava no colégio católico e queria ser padre –, por quem se apaixonou perdidamente: "Emudecemos de repente. As mãos encontraram-se. Veio o abraço tímido. Trocamos odores, trocamos calores. Dentro de nós floresceram os prados. Os pássaros cantaram para nós, os caniços dançaram para nós, o céu e a terra uniram-se ao nosso abraço e empreendemos a primeira viagem celestial nas asas das borboletas."

"Tudo começa no dia mais bonito do mundo, beleza característica do dia da descoberta do primeiro amor. Todos os animais trajavam-se de fartura, a terra era demasiado generosa. Na aldeia realizava-se a festa de circuncisão dos meninos já tornados homens. Jovens dos lugares mais remotos estavam presentes, pois não há nada melhor que uma festa para a diversão, exibição e pesca de namoricos. Eu estava bonita com a minha blusinha cor de limão, capulana mesmo a condizer, enfeitadinha com colares de marfim e missangas. Coloquei-me na rede para ser pescada, e por que não? Já era mulherzinha e tinha cumprido com todos os rituais." (p. 11)

A relação entre Sarnau e Mwando dura muito pouco porque ele decide abandoná-la em troca de um casamento financeiramente vantajoso arranjado pela família. Depois de muito sofrimento e uma tentativa frustrada de suicídio, a felicidade parece voltar a sorrir para Sarnau quando é escolhida pela rainha Rassi para ser a esposa de seu filho Nguila, futuro rei dos Zucula. Contudo, ela logo irá decobrir que a condição de rainha não é garantia de felicidade para uma mulher que precisa conviver com a inveja e a solidão decorrentes da tradição da poligamia: "Não ligues importância às amantes que tem; respeita as concubinas do teu senhor, elas serão tuas irmãs mais novas e todas se unirão à volta do mesmo amor. Sarnau, ama o teu homem com todo o coração."

"Abri com violência a porta do meu quarto. Meu Deus, acode-me! Caí de olhos apavorada, duas gotas de água rasgaram verticalmente o meu rosto enquanto os lábios tentavam dissimular um sorriso forçado, Sarnau, nem todos os sorrisos são alegrias, nem todas as lágrimas são tristezas. Meu marido está ao lado de outra mulher mesmo na minha cama, sorriem, suspiram envoltos nas minhas capulanas novas, meu Deus, eu sou cadáver, eu gelo, abre-te terra, engole-me num só trago, Sarnau, o teu homem é o teu senhor. Quando ele dormir com a tua irmã mais nova mesmo debaixo do nariz, fecha os olhos e a alma, porque o homem não foi feito para uma mulher. Os caprichos de um homem são mais inofensivos que os efeitos das ondas no mar calmo." (p. 58)

Em uma sociedade machista e poligâmica, cabe à mulher cumprir o papel de serva obediente e escrava dócil, conforme o conselho de uma tia no dia do seu casamento: "Sarnau, o lar é um pilão e a mulher o cereal. Como o milho serás amassada, triturada, torturada, para fazer a felicidade da família. Como o milho suporta tudo, pois esse é o preço da tua honra." Ao longo das muitas reviravoltas do romance, acompanhamos as escolhas e renúncias de Sarnau que precisará correr todos os riscos para encontrar formas alternativas de sobreviver às duras tradições impostas às mulheres e encontrar um resto de amor possível, resgatando assim a sua dignidade.

"Nestes últimos tempos vejo mulheres a sucederem-se umas atrás das outras e agora somos sete. Que poderes tem um só homem para amar cinco, sete mulheres jovens e fortes? A chegada da Phati, a quinta esposa do meu marido, veio transtornar toda a nossa vida e eu morri completamente no coração daquele homem. Já passam dois anos que não come a minha comida, que não me oferece uma carícia. Essa Phati, essa Phati, não sei que espécie de tatuagens ela tem no baixo-ventre para transtornar desta forma um homem a ponto de esquecer-se dos seus deveres. Essa vaca tenta brincar comigo, pensa que o filho será eleito herdeiro, mas engana-se. Hei de ter um filho varão, e só esse é que vai governar este território." (p. 80)

Sobre a autora: Paulina Chiziane nasceu em 1955, em Moçambique e cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Depois de publicar alguns contos na imprensa, estreou como romancista com Baladas de amor ao vento, em 1990. Também é autora de Ventos do Apocalipse, O sétimo juramento, O alegre canto da perdiz e Niketche: uma história de poligamia, que a Editora Companhia das Letras publicou. Em 2021, tornou-se a primeira mulher africana a ser distinguida com o Prêmio Camões, a mais prestigiosa honraria conferida a escritores lusófonos, instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil em 1988.
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Carina 10/09/2013

Primeiro romance - gênese de uma escrita que se tornaria boa
O primeiro romance da autora de Niketche tem muitas das características que a definem como escritora autêntica: a escolha minuciosa de metáforas densas, profundas; a força das mulheres em um contexto machista e poligâmico; a tradição e a veneração aos antepassados; o sincretismo entre a Moçambique selvagem e a Moçambique colonizada.

Entretanto, a autora peca na macroestrutura de sua obra, bem como ocorre em Ventos do Apocalipse. O enredo é conduzido de modo frouxo, apostando em fórmulas inofensivas de suspense em meio à narração. É uma leitura que vale a pena, mas que mereceria ser reescrita com base no grande domínio narrativo que Chiziane alcançou posteriormente.
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Francisca 03/02/2022

O choque de culturas é algo visivelmente claro ao longo da obra. Observar a cultura da poligamia e a posição do sujeito feminino dentro disso é intrigante, problemático e sério. O poder da sociedade patriarcal é algo realmente tenso.
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Manuel Gimo 22/07/2019

Amor vs Tradição
AUTORA: Paulina Chiziane
TÍTULO: Balada de Amor ao Vento
LOCAL DA PUBLICAÇÃO: Lisboa
EDITORA: Editorial Caminho
EDIÇÃO: 2ª. ed.
ANO DA PUBLICAÇÃO: 2003
PÁGINAS: 113
FORMATO DO LIVRO: eBook (EPUB)




SINOPSE:

Sarnau e Mwando protagonizam esta estória de amor. Da juventude à idade madura, com eles percorremos os dias, os meses, os anos, os encontros e os desencontros, a dolorosa separação, o desespero, o sofrimento e a alegria, as lágrimas e os sorrisos. Atravessamos cidades e aldeias, convivemos com a tradição, aprendemos os costumes e os hábitos de um povo. Sarnau vai crescendo e amadurecendo sob o nosso olhar. Impossível não admirar a coragem, a determinação, o orgulho e a humildade, a firmeza e o carácter desta mulher. E a sua fidelidade, mesmo nas circunstâncias mais adversas, ao amor. Ao seu primeiro e único amor. Mas haverá um reencontro? Serão Sarnau e Mwando capazes de apagar um tão longo e trágico passado? Existirá ainda para eles um futuro a partilhar? «Tu foste para mim vida, angústia, pesadelo. Cantei para ti baladas de amor ao vento. Eras para mim o mar e eu o teu sal. No abismo,não encontrei a tua mão.» Sarnau, tu que assim falaste a Mwando, chegarás a encontrar um pouco de paz? Voltarás a conseguir esboçar no rosto o teu lindo sorriso, há muito perdido no tempo? Abrirás enfim os braços para neles abrigares o amor? Ouvirás a melodia que o vento espalha no universo?


___________***______________


«Tudo é belo quando as pessoas se amam.» (p. 16)


Livro de estreia da Paulina Chiziane, a contadora de histórias. Publicado originalmente pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) em 1990, esta edição sai sob a chancela da Editorial Caminho, de Portugal.
“Balada de Amor ao Vento” é também o primeiro romance de autoria feminina em Moçambique.
Há já bastante tempo que queria devorar vorazmente esta obra, e eis que me surgiu a oportunidade no momento oportuno, e fi-lo com o maior prazer.


«— Sarnau, o lar é um pilão e a mulher o cereal. Como o milho serás amassada, triturada, torturada, para fazer a felicidade da família. Como o milho suporta tudo, pois esse é o preço da tua honra.» (p. 32)


Situado no Moçambique colonial, “Balada de Amor ao Vento” leva-nos a Mambone, “saudosa terra residente nas margens do rio Save” (p. 6), no norte da Província de Inhambane, para conhecermos Sarnau e Mwando. Um casal, à primeira vista, lindo mas improvável. O destino, como teria de ser, é-lhes cruel e entrega-lhes um futuro incerto, repleto de surpresas amargas: desilusões, decepções e loucura.
Este é o tipo de história de amor que a primeira já sabemos como começa e como termina. Afinal, já conhecemos esta história, já ouvimos-la (ou vimos-la) inúmeras vezes. Todavia, aqui temos inovação. Mais que isso, o que perpassa toda a narrativa é o ineditismo, embalado em um tom lírico singular. A maneira que Chiziane acopla os elementos da tradição dentro da narrativa é incrivelmente espetacular, é um talento abismal, com certeza.


«Os golpes da vida a mulher suporta no silêncio da terra.» (p. 6)


A narração é irregular (algo que viria a ser levado aos extremos em 1993 em “Ventos do Apocalipse“), alternando entre a protagonista Sarnau e narrador heterodigiético para Mwando.
Sarnau é a protagonista-narradora que nos conta sobre a sua vida amorosa pelas terras de Mambone. Outrora Rainha de Mambone (primeira mulher do Rei Nguila) mas o amor por outro homem, sua paixão da adolescência, o Mwando, lhe leva a trilhar caminhos espinhosos que que culminam em miséria e pobreza extrema. Concomitantemente, Mwando, o padre que não chegou a ser, é o nosso protagonista masculino. Jovem exemplar, um homem azarento e amargurado. Apaixonado por Sarnau, mas obrigado a casar-se com outra. E mais, um monogâmico numa sociedade poligâmica tem que ser “eliminado, não presta” (p. 47), pois é um “galo que não consegue galar todas as frangas” (ibid). A vida parece nunca lhe sorrir no amor.
Estas duas almas perenemente condenadas e humanamente falhas cantam baladas de amor aos ventos de Mambone até aos de Mafalala, bairro paupérrimo da capital Lourenço Marques.


«— Sarnau, sangue do meu sangue, nem todas as lágrimas são tristezas, nem todos os sorrisos são alegrias. Os teus antepassados fremiam de dor, mas cantavam belas canções quando partiam para a escravatura. Os mortos vestem-se de gala quando vão a enterrar. Os vivos semeiam jardins nos túmulos tal como hoje te oferecemos flores. Os condenados sorriem quando caminham para o cadafalso, mas choram quando são libertados. Sarnau, minha Sarnau, partes agora para a escravatura.» (p. 33)


Paulina Chiziane conta uma história tão linda, tão triste, e ao mesmo tão verossímil, que é de deixar o leitor desamparado, triste, maravilhado e com, usando palavras da Sarnau aquando do seu lobolo, o “rosto com lágrimas de emoção” (p. 27). Como não poderia ser, o protagonismo feminino impera (como é característico nos romances de Chiziane). Está presente, de igual modo, o confronto entre a tradição (assaz machista) e o empoderamento feminino. Temas estes que voltariam a ser abordados nos óptimos “Niketche: Uma História de Poligamia¹ (2004)” e “O Alegre Canto da Perdiz² (2008)”. E como nestes dois livros, o final não poderia ser mais magnífico: a libertação da mulher das amarras sociais secularmente impostas por mãos masculinas.



«Para quê recordar o passado se o presente está presente e o futuro é uma esperança? Espero que me acreditem, mas o passado é que faz o presente, e o presente o futuro.» (p. 6)

«Não há nada mais belo neste mundo que um lar para cada criança.» (p. 104)




OUTRAS CITAÇÕES:

«Teus olhos têm o encanto de um poema divino. Que pena, não saberes ler. Escrever-te-ia uma carta linda, longa. Dedicar-te-ia todas as palavras que ao teu lado não consigo pronunciar quando o teu sorriso estrangula a melodia da minha garganta. Escrever-te-ia um poema de sumo de ananás e batata-doce com aroma de canho. Levar-te-ia nos meus versos a vaguear no universo do sonho transportados na concha do girassol. Sarnau, tu ajudaste-me a nascer, pois se não tivesses começado, nunca teria a coragem de dizer qualquer coisa sobre o meu coração. Semeaste em mim o perfume das acácias. Escuto a música dos galos à distância. Estou no abismo da solidão, no gólgota da distância, o domingo está longe para...» (p. 14)

«O poder é como o vinho. No princípio confunde, transtorna, quase que amarga; pouco depois agrada, e, no fim, embriaga.» (p. 35)

«Só come quem trabalha, ensina a sabedoria popular.» (p. 43)

«Homem que é homem deve saber resistir às vicissitudes da vida, pois todos os seres vivos têm as suas amarguras. As árvores sofrem da chacina dos homens, mas nunca deixaram de viver. As ervas sofrem do pisoteio desordenado de todos os bichos da selva, mas nunca se queixaram. Os animais mais fracos são o pasto dos mais fortes, mas nunca deixaram de se multiplicar. Os pássaros são aprisionados sem razão e até os montes sofrem das violentas bofetadas do vento.» (p. 50)

«O escravo liberto torna-se tirano.» (p. 89)

«O homem alcança as alturas cavalgando nos ombros dos outros.» (p. 89)

«A galinha no poleiro caga despreocupada para as que estão em baixo ignorando que no próximo pôr do sol a situação pode inverter-se.» (p. 89)

«A força de um mede-se pela fraqueza do outro.» (pp. 88 - 90)

«O homem julga-se senhor do mundo. Onde ele põe a mão, tudo é devastado sem razão.» (p. 94)




AVALIAÇÃO: 10/10




___________***___________

Review by Manuel Gimo

NOTAS DE RODAPÉ:

¹ Para ler a resenha de Niketche: Uma História de Poligamia clique aqui:

² Para ler a resenha de O Alegre Canto da Perdiz clique aqui:

site: www.facebook.com/manueltchatche.rmt
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Carol @leitoraflorida 06/11/2023

Bom, mas esperava mais
O livro é bem interessante, especialmente para conhecer mais da cultura e costumes de algumas regiões de Moçambique. Mas a história em si achei meio confusa e até mesmo entendiante em alguns momentos. Talvez me falte referência para entender a profundidade de algumas coisas encontradas nesse romance.

Sei que esse foi o primeiro romance da autora, a escrita dela é bem descritiva e poética, utilizando muito das figuras de linguagem de personificação e a prosopopéia acredito que em algumas vezes em excesso... Isso acabou deixando para mim a leitura cansativa.

É uma história de amor, se é que podemos chamar de amor trágica.
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Rebeca257 02/04/2022

Maravilhoso
Cara, que livro BOM! Eu estava precisando de um livro bem escrito, curto e envolvente para me tirar da ressaca e esse funcionou perfeitamente. A história é extremamente comovente e diferente dos livros que costumam estar entre os mais famosos. Vale totalmente a pena, te faz refletir sobre diversos assuntos. Mas é muito pesado e tem vários gatilhos, então cuidado se for um leitor muito sensível.
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Andreia 26/01/2023

Primeiro contato com o trabalho da autora e foi uma ótima experiência. Fiquei encantada com a escrita poética da Paulina Chiziane. Neste livro vamos conhecer a história de Sarnau, que narra sua trajetória desde sua adolescência, quando conhece Mwando, até sua vida adulta. 

O relacionamento entre Sarnau e Mwando é o pano de fundo que a autora utiliza para mostrar as dificuldades que muitas mulheres enfrentam graças às imposições sociais e religiosas a que são submetidas. A história de Sarnau é a história de muitas mulheres. 

A autora descreve muitos costumes, crenças, paisagens e comportamentos das pessoas de Moçambique, onde a maior parte da história ocorre. Isso é muito interessante, pois me fez conhecer um pouco do país. A leitura de Balada de Amor ao Vento acaba se tornando uma incursão por esse país longínquo geograficamente, mas ao mesmo tempo próximo, em decorrência da história que compartilhamos como duas ex-colônias de Portugal. 

A escrita poética da autora não atenua o quão pesada, triste e cruel é essa história. Após terminar de ler, fiquei pensando nas diversas ?Sarnaus? que existem mundo afora. A história tem gatilhos de violência contra a mulher que podem incomodar pessoas mais sensíveis. Super recomendo a leitura!
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Gabi 20/02/2023

Como o girassol, a felicidade dura apenas um sol.
Foi um dos melhores livros que li, sem sombra de dúvidas, tanto pelo enredo, quanto pela forma da escrita. É lírica, poesia em prosa, a autora fez uso de diversas figuras de linguagem que criou um estilo próprio, simplesmente poético, belo.
Quanto ao enredo, será realmente que foi amor, ou diante de todas as situações os personagens acabaram por ficarem sem saída? Se o enredo tivesse caminhado de outro jeito, dificilmente teria esse fim. Passa uma melancolia, mas vestida de beleza, deixando a sensação de um amor magnífico, extrahumano, capaz de suportar qualquer coisa, é um clássico!
Um ponto interessante é a questão do tempo, no correr do livro você percebe de onde os personagens falam, mas quando? Pode ter sido no final do século 19, início do 20...As vezes soa atual, e as vezes parece estar falando de anos passados, o que te induz a pensar que não é ficção, parece a narração, uma biografia de alguém, de alguma vida.
Outro ponto interessante é a exposição de uma outra cultura, de um estilo de vida que a princípio te causa estranheza, como a polêmica discussão acerca da poligamia, e como esse aspecto é dual no livro, ora aceitável, ainda que só por fora em virtude da moral social, e ora não, uma visão que é permeada pela lógica europeia. Enfim, um ótimo livro, indico a leitura, e garanto que te deixará com a sensação de injustiça, que os personagens nao deveriam ter tido aquele fim.
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