Vitor Hugo 26/12/2023
SE A VIDA É UM NEGÓCIO SOLITÁRIO, A MORTE ESTÁ A CAMINHO!
Venice, Los Angeles, 1949. Um jovem escritor (nunca nomeado no livro), encontra um corpo em um canal de águas poluídas próximo ao mar. Pouco antes, a bordo de um desconjuntado bonde, ouve um homem, que não visualiza, sussurrar mais de uma vez: A MORTE É UM NEGÓCIO SOLITÁRIO. A partir daí nosso protagonista, na companhia do detetive Elmo Crumley, tentará elucidar o caso, ao qual se somarão outras mortes e mistérios. A par de tudo, ele passará a escrever um livro sobre os fatos que vão se sucedendo.
O personagem-narrador bem poderia se chamar Ray Bradbury, já que o autor, ao escrever o livro passado dos 60 anos de idade (a obra foi publicada originalmente em 1985), baseou-se em sua própria vida, por volta dos 27 anos de idade, quando morava em Los Angeles, ainda não era casado e procurava se firmar como escritor, o que acabou ocorrendo, notadamente pela publicação de sua obra-prima, Fahrenheit 451, em 1953.
A obra é uma clara homenagem ao estilo "noir", o que a dedicatória do livro já enuncia, quando, por, exemplo, evoca a memória do escritor Raymond Chandler. E está tudo lá: um lugar decadente, envolto por constante nevoeiro, um detetive sagaz e cínico, uma ex-atriz de cinema provocante e misteriosa, além de vários outros personagens com alguma carga de excentricidade, a começar pelo narrador, que se auto-intitula "doidinho".
Confessor que patinei no início da leitura, vez que as fantasias do narrador, por vezes, dificultaram o entendimento do que estava realmente ocorrendo. Contudo, é a fértil engenhosidade do protagonista que permitirá o esclarecimento das mortes e mistérios e, a par disso, a construção do livro que ele se propôs a escrever (curiosamente, o detetive também embarcou na senda literária e ficou com o título final: A MORTE É UM NEGÓCIO SOLITÁRIO).