Carta a um religioso

Carta a um religioso Simone Weil




Resenhas - Carta a um religioso


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Ni 06/09/2022

Inquieta, Simone Weil escreve mais sobre próprias questões que sobre teorias filosóficas. Isso faz com que seus textos tragam muitas de suas aspirações, por mais que não sejam biográficos. A maioria de seus escritos são anotações, cartas e esboços que, originalmente. não foram organizados por ela em uma obra. Mas tais textos tornaram-se mais importantes dentro de seu legado que os textos acadêmicos e artigos escritos por ela. Talvez a importância de seu legado esteja justamente por Weil ser uma mulher de vanguarda. Mesmo antes de movimentos libertários e ecumênicos que se articularam na Europa, ela já traz ideias fortemente marcadas pelo respeito a autonomia do ser humano.
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Lucas 13/11/2017

Destaco o trecho abaixo
"Os mistérios da fé não são objeto para a inteligência enquanto faculdade que permite afirmar ou negar. Não são da ordem da verdade, mas estão acima dela. A única parte da alma capaz de um contato real com eles é a faculdade de amor sobrenatural. Por conseguinte, só ela é capaz de uma adesão a eles.

O papel das outras faculdades da alma, a começar pela inteligência, é apenas o de reconhecer que aquilo com que o amor sobrenatural tem contato são realidades; que essas realidades são superiores aos objetos delas; e o de fazer silêncio uma vez que o amor sobrenatural desperta de maneira real na alma.

A virtude da caridade é o exercício da faculdade de amor sobrenatural. A virtude da fé é a subordinação de todas as faculdades da alma à faculdade de amor sobrenatural. A virtude da esperança é uma orientação da alma no sentido de uma transformação depois da qual ela será integral e exclusivamente amor.

Para subordinar-se à faculdade do amor, cada uma das outras faculdades deve encontrar nela seu bem próprio; e particularmente a inteligência, que é a mais preciosa depois do amor; assim é, efetivamente.

Quando a inteligência, depois de fazer silêncio para deixar o amor invadir toda a alma, volta a se exercer, ela sente que contém mais luz do que antes, mais aptidão para compreender os objetos, as verdades que lhe são próprias.

Mais ainda, creio que esses silêncios constituem para ela uma educação que não podem ter nenhum outro equivalente e lhe permitem compreender verdades que, de outro modo, lhe permaneceriam sempre ocultas.

Há verdades que estão a seu alcance, compreensíveis para ela, mas que ela só pode compreender depois de terem passado em silêncio através do ininteligível.

Acaso não é isso que São João da Cruz quer dizer ao denominar a fé de uma noite?

A inteligência só pode reconhecer por experiência, a posteriori, as vantagens dessa subordinação ao amor. Ela não as pressente previamente. Não tem, de início, nenhum motivo razoável para aceitar essa subordinação. Também essa subordinação é coisa sobrenatural, operada unicamente por Deus.

O primeiro silêncio, com duração de apenas um instante, que se produz através de toda a alma em favor do amor sobrenatural, é a semente lançada pelo Semeador, é a semente de mostarda quase invisível que um dia se tornará a Árvore da Cruz.

Do mesmo modo, quando se presta perfeita atenção a uma música perfeitamente bela (e vale também para a arquitetura, a pintura etc.), a inteligência não encontra nela nada a afirmar ou negar. Mas todas as faculdades da alma, inclusive a inteligência, fazem silêncio e ficam suspensas à audição. A audição se aplica a um objeto incompreensível, mas que encerra realidade e bem. E a inteligência não capta nele nenhuma verdade, mas encontra um alimento.

Creio que o mistério do belo na natureza e nas artes (apenas na arte de primeira ordem, perfeita ou quase), é um reflexo sensível do mistério da fé."

[pág. 37-39]
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Aa 26/10/2017

Recomendado, mas com condições
Não sabia exatamente o que esperar de Simone Weil, e por isso decidi começar por algo mais breve. O resultando foi bem... surpreendente. O livro é, de fato, uma carta endereçada a um padre que foi publicada após a morte de Simone. Infelizmente, até onde se sabe, ela nunca foi respondida, o que leva o leitor a refletir e tentar responder às inquietações da autora.

Algumas perguntas dela geram realmente reflexão; ela aponta para certos paradoxos e pontos menos comentados da ortodoxia cristã, em especial com relação a outras religiões e tradições, que geram realmente curiosidade e até mesmo desconforto. Nesse ponto o livro é uma leitura muito válida.

Já várias outras perguntas mostram um grande desconhecimento, por parte da autora, da teologia cristã. Isso é interessante, já que a autora é decididamente culta e sábia, como é demonstrado pelas várias citações ao longo do livro. Parece que ela se dedicou demais a uma abordagem abrangente e ecumênica do estudo das religiões e teve pouco tempo para conhecer a Patrística e a Escolástica.

Certas perguntas que ela faz são, por exemplo, possíveis de ser respondidas pelo catecismo da Igreja, com algum desenvolvimento. Isso torna o livro bem heterogêneo, mas ainda assim muito interessante. De modo algum o recomendo para quem entende pouco do Cristianismo, mas é uma leitura desafiadora para quem já desbravou a teologia Cristã. Neste último caso, recomendo que você tente responder às questões de Simone, uma a uma, e assim melhor entenda a doutrina da Igreja.
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none 15/11/2020

Weil cirúrgica
Não espere aqui o chauvinismo bélico histérico Chestertoniano. Se quiser ideologia politico-doutrinária revisionista anacrônica vá ler também C.S Lewis ou televangelistas americanos (mais do mesmo fascismo materialista de lobos em pele de cordeiro). Esse livro é o oposto do que temos entre os mais vendidos na sessão de religião. Weil é filósofa e flertou com o cristianismo católico após uma vida de revolução e resistência. Lutou bons combates. Soube qual lado não seguir. Melhor: soube seguir o caminho. Ninguém poderia fazer melhor por ela. Ler Weil é um convite à sabedoria, à interpretação de textos, aos outros livros e à procura pela vida melhor vivida.
Não se sabe pelo livro se a autora obteve resposta do religioso do título. Mas a resposta não é mesmo necessária. Weil já respondeu suas próprias dúvidas com novas indagações que não podem ser respondidas senão através de novas pesquisas, novas leituras e pelo dia-a-dia.
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