Verão no aquário

Verão no aquário Lygia Fagundes Telles




Resenhas - Verão no Aquário


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Letícia Melo 12/01/2023

raíza que vive esse verão super quente carrega no nome o quanto não consegue se desprender. me identifico com várias facetas da personagem. a que não sabe encerrar ciclos, a que romantiza o que já se foi pois consegue moldar como quer. a que entrega para cada um que conhece uma versão de si, mas nunca si por completa. essa talvez nem ela conhece. raíza me confundia com tantas coisas que afirmava em pensamento, poucas vezes cheguei a saber o que era real, mas gostava de tudo que ela sabia contemplar. lygia sabe moldar sonhos em páginas, toda a leitiura foi extremamente sensorial. talvez esse seja o livro em que ela mais dança com as metáforas. já marfa é aquela personagem inquietante, leria mil livros só sobre ela.
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Davils 07/01/2023

Don't touch, it's art
Peguei esse livro só porque queria ler algo da Lygia, mas esperando uma leitura enfadonha. Não poderia estar mais enganado.
A escrita é apaixonante. É delicado, profundo, envolvente. E sutilmente espinhoso.
Extremamente bem construído, desde os devaneios da narradora, aos personagens e suas relações, às referências ao título, até à última frase. Perfeição. Não consegui largar, li praticamente em uma noite.
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elske 29/12/2022

Enraizar raízes, desenraizando Raíza
Raíza é uma jovem que vive num aquário. Metaforicamente. Ela é a narradora e a personagem principal do romance. Ela narra a história de uma maneira bastante confessional e íntima, misturando passado e presente, sonho e realidade, percepções e impressões suas. Ela vive com a mãe, Patrícia; a tia Graciana; a empregada doméstica Dionísia; e também tem uma prima, Marfa.
Patrícia é uma figura central na história. Ela é uma mãe distante, poderosa, com pleno domínio de si, não cede a impulsos, e passa os dias escrevendo, muito focada no seu trabalho de romancista. A grande angústia de Raíza é saber se a mãe tem ou não um amante. Ele se chama André, um rapaz um pouco mais velho do que Raíza, e que vai ser padre. Raíza se apaixona por ele, ao mesmo tempo que fica extremamente perturbada com a proximidade que ele tem com a sua mãe — ele frequentemente visita Patrícia, conversam por horas, e ele tem uma admiração muito grande por ela. Raíza está angustiada com a dúvida: são amantes ou não? Ela faz associações com o Complexo de Édipo, pensando em André como filho de Patrícia; e ela própria como Electra, sua irmã.
Porém, André não é o único amor de Raíza. Ela também ama Fernando, um homem mais velho, extremamente aproveitador e mulherengo, que trata ela infantilmente (chamando-a de “meu carneirinho”). Raíza continua a visitá-lo sempre, a pensar nele, mesmo sabendo (quero acreditar que ela sabe) que ele é um aproveitador e um canalha. Ela também lembra de namoros passados, como Diogo (mas ela não o amou) e Fabrizio.
Essa busca desesperada por um amor, por um romance, nem que seja com um homem tão mulherengo e egoísta como Fernando, ou com o possível amante de sua mãe, André, revelam a solidão de Raíza e o seu profundo medo de estar sozinha. Hoje, ela seria chamada de "muito carente". É isso que dissera Diogo:
“Você tem medo de ficar sozinha, Zazá, você tem medo e por isso me segura embora não me ame. E com isso acaba ficando mais só ainda. Por que você tem tanto medo assim?”
Também André pensa de forma semelhante, acha que Raíza confunde amor com ciúme:
“Não, você não me ama, você cismou comigo, tudo não passa de um simples capricho, prosseguiu ele pondo-se a andar de um lado para outro como um animal enjaulado. Eu não pretendia dizer-lhe o que vou dizer, mas você fica insistindo… Pois bem, talvez seja melhor esclarecermos de uma vez por todas: o seu interesse por mim existe exclusivamente porque você desconfia de que sua mãe e eu…”
Assim, Raíza fica no seu aquário, com medo de ir para o mar e de ficar sozinha, precisando sempre se agarrar a alguém. Como, no passado, se agarrava ao pai, que faleceu, abandonando-a. Seu pai era delicado e divagante como ela, dava muito valor aos pequenos objetos, aos sonhos, e também tinha um vício — o pai bebia; Raíza fuma.
Raíza tem também um talento para a música. Ela tocava piano muito bem, e tinha o desejo de ser pianista; porém, o seu professor desistiu dela, achando que ela não progrediria nunca. Agora ela não abre mais o piano de casa, e tem medo de que, mesmo se recomeçasse a estudar, seria uma pianista medíocre. André tentou animá-la:
“Sempre o orgulho. Por que haveria de ser medíocre? Por acaso já experimentou ir mais além? Já experimentou?”
Todos somos criados em aquários. Porém, em algum momento — muito mais cedo para uns, mais tarde para outros —, temos que sair deles. Precisamos de mar. O oceano é violento e perigoso, Raíza lembra de um banhista que morreu tragado pelas ondas; mas também lembra que, naquela mesma noite, ela contemplou a beleza do mar e se esqueceu do incidente. Também a vida é como um mar assim. Terá Raíza a coragem de enfrentá-lo?
Neste livro, já podemos ver muitas características presentes em outro romance futuro de Lygia, “As Meninas”. Raíza e Marfa são como Lorena e Lia. Marfa e Lia são personagens divertidíssimas e encantadoras, sempre organizando a bagunça que suas amigas fazem, ao mesmo tempo em que são independentes, fortes e sensíveis. Patrícia lembra a mãe de Lorena, poderosa e distante, mas quase onipresente como uma deusa. Nos dois livros há o pensionato de freiras, os sonhos, a sexualidade. Porém, “Verão no Aquário” é muito mais centrado numa personagem só (Raíza) e muito menos político. Além disso, o personagem André, cristão fervoroso, catalisador de amor e ciúmes, jovem que quer ser padre, não tem duplo em As Meninas
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kafkaniana 26/12/2022

Raíza e suas raízes fincadas no aquário
?Veja-o como uma flor que nasce e que morre em seguida porque tem que morrer. Nada de querer guardar a flor dentro de um livro, não existe nada mais triste no mundo do que fingir que há vida onde a vida acabou?

Lygia é uma das únicas que consegue escrever sobre a visão feminina à beira da vida adulta. É tudo muito dramático, o pai como uma visão distante envolta na morte, a mãe uma estátua de deusa intocável, as relações de amizade disformes, a profissão dos sonhos deixada de lado, a religião pairando em suas ações, junto às festas cheias de pecado, a imagem do amor platônico sendo superior aos amores concretos.
É todo o emaranhado do jovem no mundo, o emaranhado de Raíza, com seu vai-e-vem nas memórias de infância, misturado em todas as mudanças de seu mundo atual (anos 60), onde toda a moral anterior foi deixada de lado e a juventude se vê distante dos velhos, não negando que se sentem perdidos em suas esperanças , então vivem os dias em seus prazeres momentâneos, sabendo que isso não é o suficiente, mas é aquilo que os faz sobreviver.
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Fofinho 25/10/2022

Raíza é a personagem mais humana que encontrei até hoje.
Nunca me identifiquei tanto com uma personagem: não necessariamente com a história dela, mas sim com sua forma de organizar pensamentos. Ela anda pela rua e começa a divagar por seus pensamentos, memórias e por seu próprio mundo onírico. Nunca vi nada igual! Uma história que me sinto muito jovem ainda para extrair tudo o que é exposto; um livro para ler e reler ao longo da vida. Uma obra de ARTE!
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Rafael G. 15/10/2022

Resenha - Verão no Aquário
Raíza, a narradora de ?Verão no Aquário?, fuma inúmeros cigarros, acorda às duas da tarde, dorme com seu amante casado e vai a muitas festas, num ciclo de absoluta entrega ao prazer - onde não há mais espaço, por exemplo, para o piano (vocação abandonada quando percebeu que jamais se tornaria uma grande pianista). Ela escorre pelos dias a punir-se pela vida hedonista e alimentando a obsessão por André - seminarista que está sempre em reuniões a portas fechadas com sua mãe. Patrícia, ao contrário da filha, é bastante disciplinada e preenche o apartamento cotidianamente com o som da máquina de escrever.

Esta é uma das oposições latentes em ?Verão no Aquário? - o rigor de Patrícia contra a ironia displicente de Raíza -, diferença que é costurada a imagens de oposição entre claro e escuro ou sonho e lucidez. Lygia escreve um romance profusamente imagético, mas justamente num registro econômico, direto, que sempre deixa margem para a incerteza. A narradora é este avatar conduzindo o leitor pela ruína da casa e pela repetição abafada de cenas - afinal, o fato de ?entregar-se aos exageros da vida presente não lhe franqueia a libertação, o desprendimento verdadeiro que a faria romper os limites do aquário? (como aponta Ivan Marques no Posfácio).

O livro foi me puxando, portanto, não só por essa costura entre passagens poéticas e cenas cortantes (sobretudo os diálogos), mas também porque adoro romances de formação. Acompanhar o arco de Raíza, bem como seus embates com Patrícia e André (principais interlocutores) é interessantíssimo. Lygia constrói uma narradora carregada de nuances, que nos conduz pelo insucesso de suas tentativas de romper o aquário - lugar que diz muito do apodrecimento de uma velha burguesia.
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Paloma.Pinheiro 22/09/2022

Um livro que desmistifica a família tradicional
Esse livro é um verdadeiro quebrando tabus a começar pela representação de uma família nada tradicional em que a mãe uma escritora de renome sustém a casa enquanto o marido é alcoólatra e perde a Farmácia da qual era dono. Esse livro é narrado pela perspectiva da filha do casal cujo nome é Raíza, e manifesta a relação mãe e filha narrada em primeira pessoa pela Raíza. A filha se sente intrigada com a história da mãe que se envolve com um seminarista (aparentemente em uma relação de amizade, como se trata de um livro da Lygia Fagundes essa é uma deixa para conclusão do leitor) e decide que está apaixonada também por André, os conflitos e o desenrolar da história fica para quem for ler.
Um livro de grande significado, que levanta questionamentos e rompe com a boa moral e
bons costumes
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Jessi 28/08/2022

A cada leitura ela me surpreende mais!!
A primeira vê que eu li algo dela foi ano passado coma ?as meninas?, é de lá para cá ela só me surpreende mais com seus livros de romance, confesse que Deus contos ainda são um desafio para mim, pois prefiro mais os romances dela, mas sinceramente que mulher, sempre surpreendendo colocando surpresas te fazendo prender no livro. Amo, simples amo os romances dela
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rhana.condado 14/08/2022

Sair do aquário exige coragem
Meu primeiro livro de Lygia Fagundes Telles e estou completamente apaixonada.
No começo, confesso que precisei insistir porque os detalhes são longos e a autora se preocupa em descrever todas as relações da protagonista.
Mas a relação mais complexa é com a sua mãe.
Quando a maturidade bate à sua porta, Raíza não consegue largar as infantilidades da sua juventude. Então fica em um confronto se sairá ou não do aquário.
Não fica explícito se ela está ou não em um triângulo amoroso com André e a sua mãe, porém na imaginação de Raíza, essa disputa é intensa.
Esse livro simplesmente despertou sentimentos bem loucos dentro de mim, mexeu tanto comigo que devorei a obra porque queria saber o que iria acontecer no final.
E QUE FINAL, meus amigos!!!
Super recomendo!
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ricardo 15/07/2022

?Fiquei sorrindo e pensando em minha mãe. Tão deusa, tão inacessível, as vinte mil léguas submarinas longe daquela vulgaridade que se pintava diante de mim. E o mesmo triste lado humano na sede de mocidade: o mais velho sempre sugando o mais jovem na ânsia de alguns anos de seiva. E como ela soubera manejá-lo, com que finura conseguira atraí-lo criando uma atmosfera mística de incesto. A sonsa. Mas a mim não iludia da mesma forma que a mulher-gata não iludia o espelho: eu era o espelho da minha mãe, em mim ela se refletia de corpo inteiro. Senti um calafrio. Levantei-me. O suor corria pelo meu pescoço. E se eu fosse um espelho deformador de imagens como o espelho louco do parque de diversões??
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Jadie 02/07/2022

Excelente
Eu amei a narrativa com esse ar feminino que a autora constrói, além da constante tensão da relação de mãe e filha.
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Ceci 16/06/2022

Narrativa Intimista
Se trata de um verão da vida jovem Raiza onde a emergência da maturidade lhe bate a porta enquanto ela se vê apegada aos seus instintos tolos e infantis, alguém que não está disposta a crescer como pessoa. A complexa e hostil relação com a mãe é a cereja do bolo.

Qualidade da narrativa no sensível e sedutor padrão LFT. Embora sem grandes protuberâncias é viciante. A leitura é agradável e fluida é a construção da narrativa permeia uma sofisticada atmosfera que remete ao mormaço. Uma protagonista desagradável, egoísta e mto crivel.
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silbreiemo 18/05/2022

Como sair do aquário?
Metáforas e dicotomias profundas sobre as crises da vida adulta. Traumas e traumas. Bom, porém não me cativou tanto, mas as análises são profundas e valem muito.
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ste0205 11/04/2022

Pode ser uma leitura que não me prendeu tanto como outras, mas acredito que seja pela dificuldade de lidar com temas tão recorrentes durante a vida de uma jovem adulta. Nunca é fácil sair do "aquário" em que vivemos e ler sobre situações de inveja, raiva e rivalidade com alguém que tanto amamos, para aqueles com mommy issues pode ser ainda mais doloroso. No entanto, uma leitura muito válida, escrita nota 1000 da Lygia, com certeza irei ler outras obras dela, mas que de preferência não me deem gatilhos kkk (chorando+rindo)
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@thereader2408 04/04/2022

Um complexo relacionamento entre mãe e filha
Verão no aquário foi publicado em 1964, é o segundo romance de Lygia Fagundes Telles, que nesta obra, empresta a sua voz à narradora Raiza. O enredo desenhado por Lygia permeia um embate entre gerações, mãe e filha, Patrícia e Raiza, escritora e aspirante a pianista. Duas artistas com personalidades distintas dividindo o mesmo espaço e que disputam o mesmo homem, pelo menos é o que Raiza pensa.

Raíza é uma jovem problemática em plena crise existencial, ela guarda memórias dolorosas do pai falecido que se perdeu no alcoolismo. A moça cultiva uma rivalidade velada com a mãe, uma bela escritora famosa, mas ao mesmo tempo sente ciúmes e uma grande admiração. Conhecer o mundo de Raíza é como mergulhar em ambiente abafado, tenso, sufocante, como um aquário.

Os 15 capítulos não apresentam uma linearidade temporal, passamos pelo presente e passado, às vezes intercalados, e também temos acessos a pensamentos e sonhos. No decorrer das páginas vemos a jovem imatura e vida louca crescer, aos poucos ela vai descobrindo que a vida em um aquário, apesar de segura, não é uma vida completa. As mudanças mais profundas chegam com André, um jovem noviço de infância difícil que está dividido entre sua vocação religiosa e seus surtos depressivos.

Dois fatos são marcantes na prosa de Lygia: o destaque dado à vida urbana e o papel feminino. O livro foi publicado em um período de intensa efervescência política, de mudanças sociais e grandes alterações na estrutura familiar que afetou a função sociocultural da mulher da década de 1960. Lygia explora muito bem a psicologia feminina em suas obras, fica clara em sua narrativa a reivindicação de direitos e a discussão de pautas importantes para mulheres.

O clima de insegurança e instabilidade interferiu na autoconfiança de jovens mulheres da época, como no caso da protagonista. Solidão, desejo, rejeição, dor, vontades e frustrações são mostrados como fragmentos da vida de Raíza, e assim como suas memórias que parecem deslizar e derreter com o calor. Um evento importante acontece no final do livro, como uma tempestade de verão, os ventos mudam e passam as estações para Raíza.

@thereader2408
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