Invisível

Invisível Paul Auster




Resenhas - Invisível


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facco 23/05/2011

um comentário pra não esquequer
é o primeiro auster que leio (já tinha visto - duma maneira maravilhosa - em blue in the face) e confesso que ainda não consegui chegar num parecer, talvez só numa opinião mal formada. sem dúvida o livro tem um puta mérito pela metalinguagem, que chega a ser metametalinguagem. tem também por construir diálogos - interrompidos por diálogos internos e algumas outras descrições narrativas - sem marcações de travessão ou mesmo de pontuação de personagem. quanto ao enredo, hum, até agora permanece a dúvida se ele bundamoleou ou se, ok, a vida é assim meio normal mesmo, o clichê é confortável.

e, bueno, acho que é isso por enquanto. nem mesmo isso é uma opinião. talvez seja melhor escrever o comentário em terceira pessoa. vai que sai.
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Menezes 27/10/2010

Eu invisível por trás dos personagens
http://espanadores.blogspot.com

“A interrupção durou vários meses (meses difíceis, meses de angústia ), e então, certa noite, a solução me ocorreu. Meu ângulo estava errado, me dei conta. Ao escrever sobre mim mesmo na primeira pessoa, eu havia abafado a mim mesmo, havia me tornado invisível, e tornei impossível, para mim, encontrar aquilo que estava procurando. Eu precisava me separar de mim mesmo, dar um passo atrás e abrir espaço entre mim e o meu tema (que era eu mesmo), e portanto voltei ao início da parte Dois e comecei a escrever na terceira pessoa. Eu virou ele, e a distância criada por essa pequena mudança permitiu que terminasse o livro. Talvez ele (Walker) estivesse com o mesmo problema sugeri.”


Creio que acabei de colocar a primeira de muitas chaves e alegorias que este extraordinário romance tem. Há precisamente duas semanas indagava como a obra desse escritor tinha muitos altos e baixos, repetições e outras coisas, entretanto não estava preparado para ler o que até o momento eu considero como sua obra-prima. É lógico que a obra de Auster é bem extensa e me faltam algumas leituras, mas considerando que gostei de um de seus romances mais obscuros e pouco lidos até o momento (Homem no Escuro) fico feliz de saber que todo prestígio que esse romance alcançou lá fora é de fato real, além do que a técnica de intercalar várias camadas e a função metalinguística de suas histórias nunca se fundiram tão bem.


O romance começa no inverno de 1967, um estudante de literatura tímido e retraído conhece em uma festa duas pessoas singulares: Rudolph Born, um francês de meia-idade totalmente blasé, que está lecionando Política Internacional como professor convidado, e sua amante Margot que tem uma atração secreta pelo nosso protagonista, Adam Walker.


Adam está no começo de suas divagações literária cultural e a Guerra do Vietnã corre solta, não pensa muito no futuro mas não sabe o que vai fazer da vida assim que a faculdade acabar. O ambíguo personagem de Born lhe faz uma proposta irrecusável para editar uma revista literária nos Estados Unidos. Born pagaria e Walker comandaria o periódico. Após uma compreensível relutância ele aceita e entra na vida de Born com o projeto, de quebra ainda tem um caso com Margot. Entretanto o francês é muito instável o que acaba acaba levando o relacionamento dos três a ruína e à um clímax de filme de suspense na página 67 onde acaba a primeira parte do livro. Somente este enredo resumido ao máximo já daria para se ter um romance divertido em mãos, contudo Auster, nesse livro, foi genial.


A segunda parte faz aquilo que o autor americano adora colocar em muitas de suas histórias: a metalinguagem. O livro que já estava sendo divulgado como um relato da adolescência do autor, ganha uma outra significação ao criar uma cisão entre a primeira e segunda parte da história. Ficamos sabendo que a primeira parte é o manuscrito da vida do mesmo Adam Walker, que 40 anos depois está com leucemia e trata de colocar suas memórias sobre o ano principal de sua vida em uma autobiografia em três partes. A primeira Outono em quem ele narra o encontro traumático com a pessoa de Rudolf Born é entregue ao antigo amigo e famoso escritor James Freeman, que narra essa parte da história. Adam está morrendo e quer ver Jim logo para pedir conselhos, pois está com um bloqueio com a segunda parte do livro. Então Jim dá a sugestão do trecho acima o que deslancha a segunda parte do livro, que trata do período de férias em que viveu com a irmã. A relutância em narra em primeira pessoa é logo entendida quando chegamos ao cerne de uma questão delicada: O incesto. Que é narrado com o lirismo de um René de Chateaubriand e a linguagem pudica de um Henry Miller. A voz narrativa ainda está próxima da primeira pessoa, contudo não é um eu falando de si e sim um eu falando de “você”, como uma hipótese. Lembro de já ter lido este recurso antes mas não lembro aonde. Exemplifico:


“Seis anos de pois você está sentado na cozinha do apartamento que divide com sua irmã na rua 107 Oeste. é o início de julho 1967, e você acabou de dizer a ela que preferiria ficar em Nova York(…)”


Não contente em abordar um tema tabu de maneira tão crua e interessante Auster continua enveredando um passo a frente de seu leitor. Quando Jim vai finalmente encontrar seu antigo colega, ele chega tarde demais. Adam padeceu e o romance está perdido. Só resta os fragmentos do que seria a terceira parte a vingança falha de Adam contra Rudolf em Paris, que Jim reconstrói na terceira pessoa. Essa educação humana que Adam recebe em 1967, então está parcialmente completa. Poderia ser um romance de formação, contudo há quarta e última parte do romance, em que o relato tão verídico de Adam, segundo aqueles que o conheciam, tem alguns pontos falhos, e a irmã de Adam desmente completamente à parte da relação incestuosa. Estaria se protegendo? Ou Adam inventou a história? Jim começa a procurar pelas opiniões dos que ainda vivem em 2007 e a grande verdade é que a Verdade com V maiúsculo é inatingível como fica claro com a história de uma coadjuvante que encerra o romance, questionado todos os pilares que o ergueu.


É um livro que começa como um relato profundamente pessoal, passa a uma segunda pessoa para contar um caso polêmico, migra para uma terceira e por fim destrói questiona essa mesma história. O processo estrutural da narrativa é o de apagar Adam da mesma, seu ápice e dar a voz uma personagem que vai nos dar outras impressões sobre o “vilão” de toda a história (Born). Ao final você se pergunta “O que é Invisível”? Adam Walker que desapareceu da narrativa ou alguma coisa mais amorfa que você sente que interliga tudo, mais é tão implícito que evapora no ar. Justamente nessa quarta parte você ainda tem mais divagações sobre o que é a arte de escrever uma história e quais artimanhas são utilizadas para encobrir a verdade dentro de uma ficção, de forma que ela só se torne um eco da verdade. E o que seria?


O livro narra a formação de um homem enquanto narra sua morte, esse é o caminho da vida nos dois sentidos (Walker), ao mesmo existe o antagonista que é visto por Adam como o mal encarnado e tem todos os tipos de sentimentos. Seria ele realmente mal ou o ponto de vista adotado deu a ele esse estigma, dele nasce todo conflito da narrativa (Born). E nos dias atuais um escritor formado tenta reconstruir o quebra-cabeça dessa autobiografia (Freeman). Os nomes aqui, assumidamente falsos por parte do escritor me parecem significar um símbolo de cada personagem. Seria loucura dizer que no âmbito mais profundo, os três seriam a mesma pessoa se disfarçando, um escritor tentando contar sua história usando todos os seus lados, se mascarando e se tornando invisível dentro da narrativa. É uma interpretação perigosa mas possível, afinal os três personagens masculinos no fundo tem a mesma busca, a verdade ou sua ideia de verdade, o que acaba não os levando a nada. Para mim ao final da leitura ficou claro que isso não é um romance de amor, não é uma trama de vingança, não é um romance de formação e não é uma autobiografia. Pode flertar com tudo isso, mas para mim este romance é sobre a destruição do eu, a incapacidade de discernir onde termina uma verdade e começa a invenção. Suas diversas camadas tornam impossível separar fatos da ficção e é por isso que o achei totalmente fantástico.


P.S. Nada ver com o livro em si, mas creio que a capa de romance mais bem bolada do ano.
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Sandra :-) 12/09/2010

Um início promissor...
Comecei achando o livro ótimo. Tanto que fui só folhear e acabei engrenando na leitura. Achei muito bem escrito e, até o final da primeira parte, impossível de largar. Um verdadeiro “vira páginas”. Excelente!

Na segunda parte, entretanto, as coisas mudam. A meu ver as cenas de incesto em nada melhoram a história e parece que estão ali apenas para chocar, para mexer com tabus. Para mim de nada adianta o discurso de que são “tabus ancestrais cultivados pelo Homem”. Podem dizer que foi descrito de forma poética, natural, bonita ou que for, continuo achando chocante e repugnante cenas de sexo entre irmãos. Não conseguiu me aliciar.

Se quiserem me tachar de retrógrada e pudica por conta disso, que seja, mas não fiquei confortável com a leitura.

Gostaria de dizer que o livro é sensacional e que só peca por essas, vamos dizer, cenas modernosas, mas não posso. Há momentos bem desinteressantes e outros em que volta a prender a atenção. Com isso, somos tentados a continuar lendo, o que é um mérito.

O livro é bem escrito, mas os personagens não têm tanto estofo quanto prometem.

(Atenção: isso não é spoiler! Várias notícias na imprensa sobre esse livro expõe em letras garrafais o tema do incesto. Até mesmo o autor fala sobre isso nas entrevistas, porque isso não é o tema central do livro! Aparentemente apenas as duas resenhas que eu vi antes de ler o livro não mencionavam o fato...)
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