Toni 18/04/2024
Leituras de 2023
Invisible man [1952]
Ralph Ellison (EUA, 1914-1994)
Vintage Books, 1995, 582 p.
“Homem invisível” é um daqueles clássicos que merecem todo nosso interesse e atenção, mas que infelizmente, apesar da recente reedição no Brasil, permanece entre os esquecidos do campo literário. Neste romance, somos apresentados a um narrador negro sem nome que, após 20 anos vivendo em um subsolo alijado da sociedade (a influência de Dostoiévski é reconhecida pelo autor), põe-se a narrar os eventos de sua vida que o transformaram em um homem invisível. Ainda que essa invisibilidade seja em sua essência filosófica e social, a narrativa flerta tanto com o absurdo e o exagero que, na fatura da obra, não é tão difícil imaginá-la como efetivamente real.
Saído do sul dos EUA para uma universidade segregada no norte, o protagonista imagina que, com diplomas e suficiente dedicação, conseguirá galgar os degraus de uma sociedade que promete o alcance de tudo para aqueles que lutam por seus sonhos. Logo, no entanto, a falácia do mito estadunidense cai por terra, e através de uma série de reveses e encontros desastrosos este romance de formação traça o caminho da ingenuidade ao cinismo. Essa trajetória, muito bem articulada por Ellison, transforma o romance em uma grande alegoria da experiência de afrodescendentes na “Terra das Oportunidades”: o ambiente universitário, o sul escravagista, a precariedade do proletariado, o tratamento dado aos corpos negros em hospitais, a hipersexualização, o uso político do negro em partidos ditos de esquerda, as revoluções nascidas nas ruas — o homem invisível atravessa todos esses cenários e vivências.
Mas à medida que o narrador parece apenas testemunha de tantos eventos e interlocutor para personagens caricatas ou extremamente complexas, os cap. paulatinamente expõem os efeitos desumanizadores do r4c1sm0 sistêmico e as diferentes camadas que culminarão na invisibilidade do protagonista. “Homem invisível” nos oferece um painel social irredutível em sua complexidade, cujo clímax (uma revolta nas ruas do Harlem) reacende a discussão sobre o pacto narcísico da branquitude capitalista e suas estratégias para a manutenção de desigualdades.