@chrisoliveira 05/05/2017
Seja crítico na leitura
O autor canadense é professor da Universidade Estadual da Flórida, especialista na Alemanha Nazista, e utilizou fontes da Alemanha, Grã-Bretanha, especialmente dos EUA ,e algumas soviéticas, cedidas após o término da Guerra Fria. Em sua obra, defende que Stalin foi o grande responsável pelo início e continuidade da Guerra Fria, e não os EUA, como a maioria entende. O autor não admite nem mesmo uma culpa conjunta entre as duas potências, o que já traz uma grande problemática para a obra.
O livro traz centenas de referências bibliográficas em sua parte final (notas), o que traz um certo peso à obra, mas confesso que não pesquisei sobre elas. É dividido em três partes: a primeira traz o desenvolvimento e estabelecimento da União Soviética e da Segunda Guerra Mundial. a parte dois contém um compêndio do pós-guerra, contando como se deu a negociação entre as nações, e a parte três que se dedica à Guerra Fria, falando do regime socialista em diversos países da Europa e Ásia.
Como curiosidade, o termo "Maldição" utilizado pelo autor se refere à sua análise sobre o pós guerra, quando Stalin aproveitou-se do contexto sócio-econômico para estender sua zona de atuação, juntamente com práticas de censura e repressão. O autor também explica que essa maldição significa a dificuldade que os países ligados ao conjunto soviético tiveram para tentar melhorar sua economia, tudo por culpa única e exclusiva de Stalin, o que não deixa de ser uma opinião tendenciosa, que desperta muitos questionamentos.
Na mesma linha de raciocínio, Gellately denomina Stalinização ao estilo repressor de expansão soviética ao mesmo tempo em que censura os EUA, que, na sua visão, ficaram inertes frente à expansão comunista, mas, em contrapartida, ovaciona a interferência americana na Coreia e aceita que todo o quadro histórico do pós guerra auxiliou as ações stalinistas, tendo em vista a pressão que o povo americano fez para o retorno dos soldados à sua nação, enquanto a Grã-Bretanha encontrava-se quebrada economicamente.
Outra problemática encontrada no livro é a opinião pessoal do autor quanto ao caráter de Stalin. Ele não admite a possibilidade de uma psicopatia ou qualquer transtorno de personalidade, mas acredita que toda violência cometida era fruto da própria ideologia comunista, ou seja, foi fruto de como Stalin absorveu e interpretou a doutrina Marxista, deixando subentendido que a doutrina marxista propaga a violência como forma de dominação. Essa percepção deixa de fazer sentido se utilizarmos a mesma premissa para a análise de todo o mal causado pelo nazismo de Hitler, um ditador nacionalista de extrema direita.
Eu julguei muito arriscada a leitura dele em diversos ângulos. Deixo aqui bem claro que não tenho qualquer apego, admiração, empatia, inclinação ou atração pela memória de Stalin, mas essa interpretação de Gellately sobre as responsabilidades prioritárias da URSS pela Guerra Fria me parece uma reprodução da historiografia conservadora dos anos 50, e sua posição claramente de direita compromete bastante confiabilidade da obra.
site: www.letrasextraordinarias.com.br