Felipe Novaes 26/12/2016O eterno presente sem passado da filosofia analíticaNo Brasil a noção de filosofia das pessoas é moldada pela popularidade dos filósofos mais famosos, dentre os quais Nietzsche, que originalmente era um filólogo. Mas a filosofia é um campo bem mais amplo do que as figuras populares como, hoje, Pondé, Cortela e Clóvis de Barros sugerem.
Num nicho bem mais restrito, nascido da pretensão científica dos filósofos do Círculo do Positivismo Lógico.
A ideia era transformar a filosofia numa espécie de ferramenta reflexiva, usando a lógica formal para estabelecer uma argumentação segura, demonstrada. Não era apenas o palavrório dos chamado continentais do Velho Mundo. Se a história era básica para a filosofia continental, na filosofia analítica ela é abolida.
Hoje a divisão bem marcada que existia entre filosofia analítica e continental vem se tornando cada vez mais translúcida. Alguns, como Nozick e MacIntyre, misturam erudição literária com rigor lógico nas argumentações -- uma espécie de pós-filosofia analítica. Tem até aqueles que misturam lógica com certo pano de fundo semita e misticismo oriental, como Putnam -- muito embora ele tenha o bom senso de não fazer isso no mesmo trabalho, eu acho.
No meio disso, tem aqueles que negam a ideia de verdade, tão cara à lógica -- e, por consequência, à filosofia analítica. É o caso de Rorty, com seu neopragmatismo. Mas também tem Kuhn, que faz uma negação parecida sobre a verdade, especialmente não que tange à ciência, mas apelando mais para a historicidade dos paradigmas científicos.
Nesse livro, a filósofa italiana Giovanna Borradori entrevista cada um desses filósofos, e mais uns outros, acerca de sua biografia, carreira, e posição quanto à dicotomia cada vez menos clara entre filosofia analítica e continental.