Fernando Figura 28/01/2018
A edição da Martin Claret é uma colcha de retalhos
Depois da polêmica que houve há uns dez anos, envolvendo a editora Martin Claret, acho que não há ninguém que não pegue algum livro dela com a pulga atrás da orelha.
Para quem não sabe, a editora foi acusada de vários plágios. Ela pegava traduções de obras há muito esgotadas, dava uma simplificada e atribuía a tradutores desconhecidos, quando não de nomes inventados.
"Maiakovski, vida e poesia" é um livrinho bem-intencionado. Mas é uma colcha de retalhos, com vários pedaços da obra do grande poeta russo.
Boa parte dos poemas foi traduzido por Emilio C. Guerra, que é uma tradução competente, e que já tinha sido lançada na década de 60.
Há alguns poemas traduzidos de uma tradução francesa, há uma seleção de cartas que o poeta escreveu ao seu grande amor, Lila Brik, há ilustrações e fotografias, há a miniautobiografia "Eu mesmo", uma linha cronológica, um artigo crítico...
Embora seja uma opção ligeira e baratinha para um leitor iniciante na obra do grande Maiakovski, é um livro em que falta uma noção de unidade. No livro passeiam uns quatro ou cinco tradutores. Tirando o Emilio C. Guerra, os outros são nomes obscuros que a gente lê com certa desconfiança. As notas de rodapé ajudam, mas em muitos casos, elas nos deixam na mão.
A distribuição dos textos é muito confusa. Há redundância em colocar na frente a miniautobiografia "Eu mesmo" e no final os "Dados Biográficos" que retoma várias vezes o primeiro texto. Embora seja fartamente ilustrado, falta legenda em muitas imagens.
Enfim, é uma edição desleixada. Mas muitos poemas valem a leitura, como o apoteótico "A nuvem de calças" e os grandes "À esquerda" e "O poeta-operário".