O Espírito Militar

O Espírito Militar Celso Castro




Resenhas - O Espírito Militar


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Antonio Luiz 17/03/2010

A tribo verde-oliva
A nova edição de "O Espírito Militar", escrito em 1990, veio a calhar para quem teve seu interesse despertado pelas obras sobre a ditadura de 1964-1984. O antropólogo e historiador Celso Castro estudou os cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN) e mostrou como esses jovens vêem a si mesmos e ao País e como absorvem e elaboram a doutrina militar, tanto pelo ensino e treinamento formais quanto pela pressão dos colegas que impõe os valores do Exército e de sua “arma” (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia etc.) a partir do “trote”, cujo papel é crucial.

O método antropológico mostrou-se adequado. Os cadetes civis não circulam por lugares variados, relacionando-se com diferentes colegas e autoridades, como membros de uma sociedade civil moderna, nem são simplesmente internados e controlados por uma “instituição total” como uma prisão ou manicômio. Saltam à vista os pontos de contato com a vida em comunidades tribais nas quais os ritos são parte importante da vida e a guerra é parte importante da identidade masculina.

Trata-se, porém, de uma instituição na história e a visão da antropologia tradicional exige o complemento da dimensão diacrônica, ou seja, das mudanças registradas na cultura e das relações sociais da Academia Militar. Castro somou ao estudo de campo uma breve história da instituição e um apanhado dos dados sociológicos disponíveis sobre a origem social dos cadetes em diferentes períodos.

A AMAN considera 23 de abril de 1811 como a data de sua fundação, mas a Real Academia Militar criada nessa data era essencialmente uma faculdade de engenharia, aberta a civis e militares. Sua transformação em uma verdadeira academia militar começou após a Guerra do Paraguai e só se completou em 1932, quando a internação tornou-se obrigatória e foi acompanhada de uma minuciosa regulamentação de tempo, espaço e gestos.

Desde então, houve poucas mudanças substanciais no regimento e organização. Mudou, porém, a origem social dos cadetes. Os dados disponíveis são poucos, mas bastam para evidenciar uma forte mudança no perfil de seu recrutamento. Nos anos 40, 78,8% saíam da sociedade civil – principalmente da pequena burguesia, mas com importante participação da elite (19,8% vinham da “classe alta tradicional”).

Nos anos 60, porém, esse componente havia caído para 6%, enquanto aumentava de 4% para 9% a participação dos proletários e de 21% para 35% a dos filhos de militares – que nos anos 80 chegaram a ser 52% – e dentre estes, aumentava a proporção dos filhos de oficiais com patente de capitão ou mais alta. A partir dos anos 80, os oficiais militares caminham para se tornar quase uma casta fechada: praticamente a metade dos cadetes era de origem militar e, numa proporção crescente, filhos de oficiais superiores (de major para cima). Os de origem civil eram recrutados, cada vez mais, nos meios proletários.

Celso Castro constatou como, nos anos 90, os jovens militares se sentiram esnobados, desprestigiados e hostilizados pela sociedade civil, experiência que contrasta com a dos cadetes dos anos 40 e 50, disputados pelas jovens casadouras e bem aceitos nos meios mais refinados.

Somam-se a má imagem legada pela ditadura, a queda do status da carreira e o abismo crescente entre os costumes militares, inalterados desde os anos 30 e o dinamismo da sociedade civil. Conciliar a vida de oficial com um casamento com uma mulher independente, por exemplo, é problemático. Cada vez mais cadetes buscam mais aberturas para o meio civil – estudar em faculdades, buscar funções administrativas – ainda que isso seja mal visto por colegas e superiores rígidos.

A inflada auto-imagem dos militares do período anterior e sua identificação com a elite custaram caro ao País e à própria instituição, mas o ressentimento e a sensação de marginalização da instituição também não parecem saudáveis. Superá-los, porém, exige uma revisão de métodos, percepções e valores à qual o tradicionalismo da instituição continua a resistir.

JOhAnO 31/07/2017minha estante
Caro Sr. Antônio,
Estou com esse livro "O Espírito..." de "molho" (por ler) há mais de um ano. Francamente ainda não tive estômago para a aventura. Sou militar há quase trinta anos, mas não sou da elite dos quartéis, não sou oficial. Sendo da suboficialidade vejo com reservas o objeto do livro. Não questionaria algo que nunca li (apenas folhas esparsas), mas a vida numa escola militar na realidade é como um laboratório, em que praticamente tudo é controlado. Mesmo que o estudo tenha sido feito numa escola de oficiais (quatro anos é um período considerável) e não numa escola de sargentos, ele não pode abranger as nuanças mais sutis da vida militar. Reduzir os militares ou o militarismo ou mesmo o "espírito" militar a quatro anos vividos por pós-adolescentes em formação intelectual é exigir muito do público especializado (no caso, os militares). Para o público leigo, que tenha talvez uma ideia romanesca do militarismo, o livro deve valer a pena.




Tinovsky 13/11/2023

Bacana
Um livro bem interessante sobre o espírito militar e de como os cadetes tem noção do preconceito e de sua responsabilidade sob a sociedade.
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JOhAnO 03/02/2018

Gelo seco
O título é grandiloquente, mas ficamos por aqui. As escolas de formação militar, seja de oficiais, seja de sargentos, funcionam como um laboratório artificial. São como redomas em que se criam os futuros militares. Cadetes e alunos não são propriamente militares, senão no sentido amplo do termo. O "Espírito" que o autor pretende ter invocado não passa de uma colcha de retalhos tecida de convenções e preconceitos bitolados bastante convenientes à instituição militar. O fato de este tecido ser milenar não o torna algo "espiritual". Basta um suave sopro para que se dissipe - um salário maior, por exemplo. Bastante interessante como dissecação de um cadáver ilustre. O espírito militar nada mais é do que a sanha de conquista humana, ordenada por regulamentos e promoções. Nem sempre onde há fumaça há fogo. Pode ser gelo seco.
paulohenrique.n 20/04/2020minha estante
Será que o autor da resenha realmente entendeu o 'espírito' do livro ou tentou apenas exercer o seu viés de confirmação!?




Rafael Flores 23/05/2022

Escrevo uma opinião e não uma resenha...
O antropólogo Celso Castro escreve um livro parcial sobre a temática militar. O escritor que já ingressou na caserna, desse modo entendemos a intenção de sua pesquisa. Com fonte a partir da história oral, Castro vai contextualizar a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e destacar o "Espírito militar" de forma positivista.
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Ronald 20/12/2023

Desde pequeno, sempre fui vocacionado a ser soldado militar. Sempre fui apaixonado por sua bravura, coragem e determinação. Mas depois de um certo tempo, você começa a perceber que o militarismo nunca foi sua missão principal: defender sua população de perigos. Desde jovens, garotos são doutrinados com a ilusão de que vão morrer pelo seu país e pelo seu povo, mas na verdade sempre foram copos descartáveis pelo estado e pelo governo. Soldados sempre foram usados desde sempre, não para defender seu país e nem sua população, mas sim para defender interesses ambiciosos de políticos." A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam entre si, por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam."
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