caiohlp 29/12/2023
Haja ou não deuses, deles somos servos
Neil Gaiman consegue fazer brilhar a essência da ficção em um contexto atual, sem abrir mão da ousadia e de uma história pra lá de original. Nessa trama repleta de segredos e planos nebulosos o leitor anseia pelo próximo monstro, deus ou criatura tanto quanto por respostas e é com essa fórmula mágica que os bastidores encantam os meros mortais que ousam se aventurar nessa cena desequilibrada chamada vida contemporânea. Ponto a ponto e de cidade a cidade, a grande odisseia de Shadow pelos estados nem tão unidos converge para as respostas que precisávamos, os astros se alinham e as divindades mostram suas faces, pois deuses americanos, africanos, europeus, asiáticos, novos ou antigos se amontoam em nosso cotidiano, sem terem esconderijos, eles transparecem em nossos hábitos, línguas, costumes e, principalmente, em quem somos. Com essa marcante mescla de violência, bizarrices, descontração e um profundo estudo de mitologia Neil ancora seu romance na prateleira mais alta e cobiçada da literatura, panteão esse que merece todas as glórias, honrarias e homenagens por manter viva a chama da fantasia num mundo de sonhos gastos.