Tamires 04/07/2017A Estrangeira, de Chirlei WandekokenA Estrangeira é o tipo de livro que você lê as últimas palavras, suspira, e tem vontade de ler tudo novamente no mesmo instante. Nesse romance histórico, Chirlei Wandekoken narra duas histórias que, embora separadas por séculos, são igualmente apaixonantes. É perceptível desde os primeiros parágrafos todo o zelo que a autora teve na escolha das palavras e na construção da história. Indiscutivelmente um livro super bem escrito, que não deve em nada se comparado a grandes livros de literatura inglesa.
Inicialmente, a narrativa se divide entre o presente, 1830, e o passado, 1388. Diferente do que acontece em algumas histórias que usam o recurso de vai e vem no tempo, aqui, os dramas envolvendo os Northumberland e os Douglas são instigantes da mesma forma. No passado ou no presente, os casamentos arranjados entre primos e as uniões à margem do permitido e esperado pela sociedade foram os combustíveis que alimentaram as histórias dos personagens.
A estrangeira é Eliza Schumacher, cujo o nome foi uma homenagem que Chirlei fez à sua bisavó, que também foi uma estrangeira, mas em terras brasileiras. A Eliza do livro saiu da Prússia, cidade de Leipzig, com destino à Inglaterra. Logo sabemos que ela guarda um segredo. Ou vários. Ela procura os tios John e Elizabeth, que residiam em uma cottage na propriedade de Alnwick Castle, domínio do nono conde de Northumberland. Chegando ao local, ela descobre que o tio havia falecido há pouco e que ninguém tinha notícisas de sua tia Elizabeth. Eliza, com pouquíssimos recursos, fica na cottage do tio e acaba protegida do conde, que nutria inestimável consideração pelo falecido John Baker.
“Foi quando lorde Hotspur a viu atravessando a rua. Ela e o cão. Os cabelos mal trançados, desgrenhados, caíam sobre os ombros e eram jogados no rosto pelo vento. Ela sacudia para tirá-los de sua visão. Trazia uma cesta na mão, uma simplicidade desconcertante, coloridamente intrigante, diferente de tudo que ele já vira.” (p. 11)
442 anos antes, Sir Evans planejava o casamento de sua filha, Mary Evans, com o conde de Douglas, mas ela já estaria irremediavelmente apaixonada por Henry Northumberland, filho do primeiro conde de Northumberland, e conhecido por seu vigor na guerra e nas paixões. O amor proibido por diversas razões alimentaria ainda mais o ódio ancestral que ao mesmo tempo unia e separava os Northumberland e os Douglas.
“Protegida atrás de uma moita de urzes, Mary Evans o viu chegar montado no mais bonito alazão que já tinha visto na vida. O animal brilhava de suor e o cavaleiro reluzia disposição e firmeza. Inicialmente, ela se assustou com a valentia que viu naqueles olhos verdes escuros, mas acabou seduzida pelo poder que emanava dele – uma força que se agigantava na robustez da montaria – e que, ao apear, somente aumentou sua exuberância, tão alto que era.” (p. 38)
“Nada podia ser como antes, algo mudara repentinamente, mas de maneira indelével; e seus planos tomaram outro rumo. Como podia se casar com o conde de Douglas se o cavalheiro do rio não lhe saía da mente?” (p. 57)
Até aqui contei apenas o comecinho das duas histórias, mas muita coisa (muita mesmo!) acontece em A Estrangeira.Trata-se de um romance riquíssimo, com muitas reviravoltas e muitos detalhes, mas nenhum deles fica solto. Achei bem bacana cada capítulo começar com uma citação e as notas de rodapé, tradicionais nas edições da Pedrazul, enriqueceram ainda mais a leitura. Foi ótimo a autora ter escrito as outras três novelas que compõem O Quarteto do Norte! Tendo terminado de ler o último livro, Fronteira da Paz, antes de terminar A Estrangeira, fiquei relembrando os detalhes das histórias e dos personagens. Só posso dizer que esses livros me deixaram com o que chamam de ressaca literária: seus personagens continuaram em meu pensamento por dias e ganharam lugar cativo em meu coração.
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