Carla.Parreira 20/10/2023
Memórias, sonhos e reflexões
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Eis alguns trechos da leitura que mais gostei: ?...Compreendi o quanto é importante aceitar o destino. Porque assim há um eu que não recua quando surge o incompreensível. Um eu que resiste, que suporta a verdade e que está à altura do mundo e do destino. Então uma derrota pode ser, ao mesmo tempo, uma vitória. Nada se perturba, nem dentro, nem fora, porque nossa própria continuidade resistiu à torrente da vida e do tempo. Mas isso só acontece se não impedirmos que o destino manifeste suas intenções... A existência das ideias é mais importante do que seu julgamento subjetivo. Os julgamentos, entretanto, enquanto ideias existentes, não devem ser reprimidos, porque fazem parte da expressão da totalidade... O grau de consciência atingido, qualquer que seja ele, constitui ao que me parece, o limite superior do conhecimento ao qual os mortos podem aceder. Daí a grande significação da vida terrestre e o valor considerável daquilo que o homem leva daqui ?para o outro lado? no momento de sua morte. É somente aqui, na vida terrestre, em que se chocam os contrários, que o nível da consciência pode elevar-se. Essa parece ser a tarefa metafísica do homem... O inconsciente sabe mais que o consciente, mas seu saber é de uma essência particular, de um saber eterno que, frequentemente, não tem nenhuma ligação com o ?aqui? e o ?agora? e não leva absolutamente em conta a linguagem que fala nosso intelecto... Se admitirmos que haja uma continuação no ?além?, só poderemos conceber um modo de existência que seja psíquico, pois a vida da psique não tem necessidade de espaço ou tempo. A existência psíquica ? e, sobretudo, as imagens interiores de que nos ocupamos desde agora ? oferecem matéria para todas as especulações míticas sobre uma vida no além, e esta eu a represento como um caminhar progressivo através do mundo das imagens. Desse modo a psique poderia ser essa existência na qual se situa o ?além? ou o ?país dos mortos?. Inconsciente e ?país dos mortos? seriam, nessa perspectiva, sinônimos... Na maior parte dos casos em que se manifesta um complexo autônomo, ele aparece sob a forma de uma personalidade, como se o complexo tivesse consciência de si próprio. É por este motivo que as vozes dos doentes mentais são personificadas... A inversão indica que, na opinião do ?outro lado em nós?, nossa existência inconsciente é a existência real e que o nosso mundo consciente e uma espécie de ilusão ou uma realidade aparente forjada em vista de certo objetivo, à semelhança do sonho que parece ser real quando nele estamos mergulhados... Se compreendermos e sentirmos que já nesta vida estamos relacionados com o infinito, os desejos e atitudes se modificam. Finalmente, só valemos pelo essencial e se não acedemos a ele a vida foi desperdiçada. Em nossas relações com os outros é também decisivo saber se o infinito se exprime ou não... Pode-se mesmo supor que da mesma forma que o inconsciente age sobre nós, o aumento de nossa consciência tem, por sua vez, uma ação de ricochete sobre o inconsciente... Quem não teve uma experiência desse tipo perdeu algo de importante. O homem deve sentir que vive num mundo misterioso, sob certos aspectos, onde ocorrem coisas inauditas ? que permanecem inexplicáveis ? e não somente coisas que se desenvolvem nos limites do esperado. O inesperado e o inabitual fazem parte do mundo. Só então a vida é completa...?
Fazendo um resumo rápido, o livro diz através de uma espécie de biografia de Jung que nenhum mal se cura tentando eliminá-lo, esquecendo-o ou fugindo dele. O que temos que fazer é tomar consciência e percebermos que há outras opções possíveis. Temos de reconhecê-lo e aceitar como nosso e, a partir daí, desenvolver outras perspectivas que nos permitam um maior crescimento interior. Poucos são os que se sentem à vontade em mostrar os chamados sentimentos ?negativos?, como o medo, a mágoa, a tristeza e a raiva. Em vez de os rejeitarmos e evitarmos, devemos explorá-los e descobrir o seu lado positivo e quais as vantagens que nos trazem ou como nos podem ser uteis. A maioria das pessoas aprende a reprimir os sentimentos, mas algumas sofrem pelo seu contrário ? deixam-se dominar por eles, tendo uma grande dificuldade em encontrar o equilíbrio emocional.
Quanto mais desenvolvermos e aceitarmos interiormente os polos opostos, mais conscientes, integrados e equilibrados nos tornamos. Para podermos manifestar plenamente uma energia, temos que integrar o seu contrário. Para integrar as nossas polaridades interiores, não podemos rejeitar nenhum dos nossos eus. Integrar implica crescer para incluí-los. Sempre que estamos em atenção plena, consciência e energia no momento, de modo totalmente presente conosco, começamos a penetrar na dimensão espiritual, onde experimentamos um sentimento de conexão, de unidade e fluidez. Tudo o que fazemos com entrega nutre-nos espiritualmente. Na realidade tudo o que fazemos pode ser uma prática espiritual, se nela concentrarmos toda a nossa atenção plena, de tal forma que nos tornemos totalmente presentes e conectados com a nossa essência. Quanto mais conscientes tornamos de nós mesmos através do autoconhecimento, tanto mais se reduzirá a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo. Isso nos leva a autenticidade. A pessoa autêntica sente a sua própria realidade conhecendo a si mesma, sendo ela mesma, pois tem consciência de sua singularidade sem precedentes. A pessoa autêntica prefere ser ela mesma. Tem consciência de que há diferença entre ser agradável e parecer agradável, entre ser estúpido e parecer estúpido, entre ser culto e parecer culto. Ser espontâneo nada tem a ver com ser independente de influências, pois isso em si é impossível ao ser humano. Ser espontâneo apenas significa ser coerente consigo mesmo. Para ser coerente consigo mesmo e, por extensão, ser espontâneo, o homem tem de ter alcançado sua individuação.